Neymar jogou Mundial com dinheiro do Barcelona na conta
A empresa dos pais do craque recebeu adiantamento do clube catalão seis dias antes da goleada sofrida pelo Santos. Cartola diz que atuação foi comprometida

“Eu me pergunto como é que estaria a cabeça de alguém depois de receber um cheque de 10 milhões de euros. Eu imagino que do ponto psicológico, de alguma maneira, isso deve ter afetado”, diz o ex-presidente do Santos
Há pouco mais de três anos, Neymar, hoje jogador do Barcelona, preparava-se para enfrentar o clube espanhol vestindo a camisa do Santos na final do Mundial de Clubes. A equipe paulista não sabia, porém, que a família de seu principal craque tinha recebido dinheiro do próprio Barça apenas seis dias antes da partida. A informação foi revelada nesta quinta-feira pelo blog do jornalista Rodrigo Mattos, do portal UOL – que teve acesso a documentos que comprovam que a primeira transferência do Barça aos pais de Neymar, donos da empresa N & N Consultoria Esportiva Empresarial Ltda., aconteceu em 12 de dezembro de 2011. Em 18 de dezembro, o Santos foi goleado por 4 a 0 pelo Barça, com atuação apagada de Neymar. O depósito, parte do adiantamento acertado entre o clube espanhol e o pai de Neymar para encaminhar uma futura transferência do jogador à Catalunha, foi de 10 milhões de euros. No total, a empresa dos pais de Neymar recebeu o equivalente a 113,9 milhões de reais pela contratação. Concluído o negócio, no ano passado, o Santos, que formou o atleta, ficou com apenas 17 milhões de euros.
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O documento que mostra que o primeiro pagamento do Barcelona à família de Neymar ocorreu antes mesmo do Mundial foi entregue pela N & N (sigla que faz referência aos nomes do pai e da mãe do craque, Neymar e Nadine) à Receita Federal. Ao enviar os papéis para explicar a transação à Receita, o pai de Neymar acabou entregando provas de que sua empresa recebeu dinheiro pela transferência sem que o Santos soubesse e que o jogador já tinha um pré-contrato firmado com o Barça desde antes do Mundial, o que ele negava. Os papéis revelados pelo UOL mostram que o pai de Neymar começou a negociar com o Barcelona, acertando uma prioridade na transferência do jogador, em outubro de 2011. Em novembro, o pré-contrato já estava acertado, sempre através da empresa N & N. Nesse acordo, ficou estabelecido o pagamento de 40 milhões de euros para que Neymar pai já encaminhasse a futura transferência. Caso o negócio não se concretizasse, os valores pagos pelo Barça teriam de ser devolvidos.
Atrito – Depois do depósito feito às vésperas de Santos x Barcelona, os espanhóis pagaram no ano passado, quando Neymar foi para a Europa, os outros 30 milhões de euros previstos no acordo. Naquela época, o clube da Vila Belmiro era o detentor dos direitos de Neymar. Mesmo assim, o Santos acabou ficando com só 17 milhões de euros, que ainda teriam de ser repartidos com o grupo Sonda, que era dono de uma parte dos direitos. O caso, que já derrubou o presidente do Barcelona (Sandro Rosell renunciou depois das primeiras denúncias sobre a transferência), coloca o Santos em situação inusitada – o clube diz que vai à Justiça para tentar receber a parte que lhe cabe no negócio, mas tenta evitar um atrito público com o seu último grande ídolo. “O Santos reafirma o respeito que tem pelo atleta e por tudo o que ele representa e merece de reconhecimento. As pendências existentes nas negociações entre as empresas do senhor Neymar e o Barcelona em nada vão alterar historicamente a condição de ídolo que o Neymar representa para o Santos, condição que não impedirá o Santos de buscar seus direitos nas devidas instâncias”, diz comunicado divulgado pela diretoria.
A divulgação de documentos que comprovam que o pai de Neymar havia negociado com o Barcelona já em 2011 despertou sentimentos conflitantes em Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, que presidia o clube naquela ocasião. “É um alivio de um lado, e de outro, a confirmação do meu desapontamento sobre o caráter de uma pessoa que fala uma coisa e faz outra. Perguntei muitas vezes se ele tinha assumido algum compromisso com o Barcelona e em todas as vezes ele negou em absoluto, mas o interesse monetário falou mais alto”, lamentou o ex-presidente do Santos, que renunciou no início do ano, por causa de problemas de saúde. Ele afirma que o pai de Neymar pai não tinha autorização para vender o jogador. “No final de uma reunião, ele disse que precisaria que eu desse a ele uma carta declarando que ele poderia conversar com qualquer clube no mundo. Mas essa carta não tem nenhum comprometimento jurídico, não é um contrato.” Para o ex-presidente, Neymar pode ter jogado a final do Mundial sem a concentração ideal. “Eu não posso cometer a leviandade de cometer acusações sem estar convicto. Eu me pergunto como é que estaria a cabeça de alguém depois de receber um cheque de 10 milhões de euros. Eu imagino que do ponto psicológico, de alguma maneira, isso deve ter afetado.”






























(Com Estadão Conteúdo e agência Gazeta Press)