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Futebol Europeu

Yashin, medalhas e mais: como foi o futebol na União Soviética

Entre glórias olímpicas, ídolos e confrontos políticos, o futebol soviético foi palco de propaganda e rivalidades históricas

Publicado por: Guilherme Azevedo em 17/08/2025 às 07:00 - Atualizado em 17/08/2025 às 16:24
Yashin, medalhas e mais: como foi o futebol na União Soviética
Futebol na URSS teve ídolos, glórias e forte contexto político - Montagem/Placar

O futebol soviético se mostrou mais do que esporte: serviu como instrumento de propaganda, laboratório de disciplina coletiva e palco de ídolos que moldaram a identidade de um povo. Entre vitórias olímpicas, títulos europeus e duelos carregados de tensão política, a União Soviética foi mais uma potência que usou o gramado como extensão da geopolítica, até sua extinção, em 1991.

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Das glórias ao confronto velado com os Estados Unidos, passando pela figura mítica de Lev Yashin, o “Aranha Negra”, o futebol no país foi um espelho fiel das mudanças políticas e econômicas do século XX. Organizado, financiado e controlado pelo Estado, o esporte incorporava a ideologia socialista, valorizando o esforço coletivo sobre o brilho individual — ainda que alguns craques tenham se destacado.

A história começa nas décadas pré-revolucionárias, com o futebol chegando ao Império Russo e se estende até a fragmentação do esporte no caos pós-1991. No caminho, há jogos lendários, clubes com ligações diretas a órgãos do governo, confrontos simbólicos da Guerra Fria e posições de líderes que não puderam ignorar seu poder como ferramenta de massa.

Assim, PLACAR se aprofundou em pesquisas e produziu o panorama do futebol na URSS. Confira:

O que foi a URSS?

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) foi criada em 1922, logo após a vitória bolchevique na Guerra Civil Russa, em conflito que sucedeu a Revolução Russa de 1917. Seu objetivo declarado era consolidar o socialismo em um território vasto, reunindo repúblicas que antes pertenciam ao Império Russo e áreas conquistadas ou aliadas.

A URSS tornou-se um Estado federal, com o Partido Comunista exercendo controle absoluto sobre política, economia e sociedade. A centralização do poder permitia decisões rápidas e planejamento em larga escala, mas também restringiu liberdades individuais e reprimiu dissidências.

O país se estendia por mais de 22 milhões de quilômetros quadrados, abrangendo diferentes povos, línguas e culturas. Entre suas quinze repúblicas estavam a Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Moldávia, Letônia, Lituânia e Estônia.

Mapa da União Soviética – Wikimedia Commons

Cada uma possuía algum grau de autonomia formal, mas todas eram subordinadas ao Kremlin. Essa diversidade étnica e cultural exigiu políticas complexas de integração, muitas vezes combinando coerção e incentivos econômicos e culturais para manter a unidade.

No período, o país tornou-se uma superpotência global, sendo peça importante na Segunda Guerra Mundial, protagonizando a Guerra Fria e competindo com os Estados Unidos em tecnologia, armas, cultura e esportes. Economicamente, o modelo soviético era baseado no socialismo estatal, com a propriedade coletiva dos meios de produção.

Esse sistema permitiu avanços rápidos em educação, ciência e infraestrutura, mas também, no fim do regime, gerou ineficiências, escassez de bens de consumo e dificuldades de adaptação à economia global. No final da década de 1980, crises levaram à fragmentação da URSS em 1991, criando quinze Estados independentes correspondentes às antigas repúblicas.

As origens e a estrutura

O futebol chegou ao território russo no final do século XIX, desembarcando nos portos de Odessa e São Petersburgo, por barcos de marinheiros britânicos e estrangeiros. Nas primeiras décadas, eram partidas restritas a clubes da elite, mas o cenário mudou radicalmente após a Revolução.

O novo governo bolchevique enxergava o esporte como ferramenta de educação física, disciplina e coesão social. Dessa forma, com a ascensão de Josef Stalin pós-1922, o futebol foi incorporado à lógica estatal e clubes representavam instituições do governo.

A Liga Soviética, conhecida como Vysshaya Liga, criada oficialmente em 1936, tornou-se um dos torneios mais organizados do bloco socialista. Com investimento em centros de treinamento, viagens e estádios, o nível competitivo cresceu.

No entanto, é importante contextualizar: os jogadores não eram oficialmente profissionais. Os atletas, à época, eram “funcionários” de fábricas, quartéis ou ministérios, recebendo salários indiretos.

A organização do futebol nacional

O Dínamo Moscou era vinculado ao NKVD, a polícia secreta (que depois se tornou a KGB), funcionando como extensão do poder estatal no futebol. Seus jogadores recebiam estabilidade e benefícios, mas também estavam sob rígido controle ideológico.

O CSKA Moscou, representando o Exército Vermelho, incorporava disciplina bélica no estilo de jogo, conforme relatos. Além disso, os atletas esbanjavam prestígio político e militar.

O Spartak Moscou, por outro lado, tinha posição singular. Ligado a sindicatos e à “sociedade do povo”, simbolizava uma resistência limitada dentro do sistema controlador, frequentemente entrando em atrito com autoridades.

Também da capital, o Torpedo Moscou, vinculado à indústria automotiva (fábrica ZIL), representava trabalhadores industriais. Outros clubes, como Dínamo Kiev (KGB ucraniana), Lokomotiv (ferroviários) e filiais do Dínamo em cidades como Minsk, Tbilisi e Kutaisi, seguiam a mesma lógica: cada equipe tinha ligação direta com órgãos estatais.

Apesar disso, existiam clubes relativamente independentes, com menor vinculação direta ao Estado. Exemplos incluem Shakhtar Donetsk, que representava mineradores, mas não estava diretamente ligado a polícia ou exército; Zenit Leningrado, apoiado inicialmente por sindicatos locais e depois por indústrias; e algumas equipes universitárias ou culturais, como o Fakel Voronezh e clubes de instituições esportivas civis.

Entre 1936 e 1991, 54 edições do campeonato nacional foram disputadas. Os maiores campeões foram: Dínamo Kiev (13 títulos), Spartak Moscou (12 títulos), Dínamo Moscou (11 títulos) e CSKA Moscou (7 títulos).

Ouro e glórias

Como seleção, a URSS estreou em competições internacionais em 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsinque, já em plena Guerra Fria. A primeira grande glória veio no ouro olímpico de 1956, em Melbourne.

Nos Jogos Olímpicos, o bom desempenho foi evidente e uma política interna ajuda a explicar. Entre 1936 e 1984, em razão de embates entre a Fifa e o COI (Comitê Olímpico Internacional), apenas amadores puderem disputar o torneio — o que não impactava a seleção soviética, já que os principais nomes não eram considerados profissionais.

Assim, além da medalha dourada de 1956, outras campanhas de destaque ocorreram. Em Munique-1972, Montreal-1976 e Moscou-1980, a seleção de futebol da URSS ficou com medalhas de bronze, já em Seul-1988, ficou com o segundo ouro.

União Soviética venceu a Eurocopa de 1960 – Divulgação/Uefa

Em torneios de profissionais, a União Soviética venceu a primeira Eurocopa da história, em 1960, com vitória sobre a Iugoslávia na final. Além disso, em 1964 e 1972, ficou com o vice-campeonato.

Em Copas do Mundo, o ponto alto foi a semifinal de 1966, na Inglaterra, quando caiu diante da Alemanha Ocidental. Na disputa pelo terceiro lugar, acabou perdendo para o time de Portugal, que contava com craques como Eusébio e Mário Coluna.

Rivalidades além da bola: Iugoslávia

A rivalidade entre a União Soviética e a Iugoslávia no futebol nasceu no cruzamento entre política e esporte. Não era apenas uma disputa futebolísticas, mas sim de confronto entre visões de socialismo.

Depois da ruptura de Tito com Stalin em 1948, a Iugoslávia seguiu um caminho independente. Enquanto Moscou defendia centralização e disciplina rígida, o líder iugoslavo buscava mais autonomia e flexibilidade entre as repúblicas.

Nos anos 1950, o futebol soviético ainda consolidava sua estrutura, de bastante controle e estilo de jogo coletivo, físico e pragmático. A Iugoslávia, por outro lado, cultivava estilo mais individualista e criativo, com jogadores que tinham maior liberdade tática e técnica.

Iugoslávia e URSS na final da Euro – Divulgação/Fifa

O primeiro grande encontro de peso aconteceu nas Olimpíadas de Helsinque, em 1952. A URSS estreava nos Jogos e encarou a Iugoslávia em partida valendo o ouro, que terminou com vitória por 1 a 0 para os soviéticos, com gol de Anatoli Ilyin.

A tensão se repetiu em 1960, na final da Eurocopa, quando se enfrentaram novamente em uma final. Após os iugoslavos saírem na frente com Milan Galic, os soviéticos buscaram o empate, com gol de Slava Metreveli, e viraram na prorrogação, com Viktor Ponedelnik, garantindo o título.

Rivalidades além da bola: Estados Unidos

A rivalidade entre União Soviética e Estados Unidos tem origem na Guerra Fria. Durante o período em que as duas potências globais disputavam espaços de poder e viviam corrida tecnológica desenvolvemenista, o esporte sentiu o clima acirrado.

Ainda assim, é importante pontuar: o futebol chegou à América do Norte mais tarde e com menor impacto cultural. Por décadas, os EUA não possuíram campeonatos fortes nem clubes profissionais de relevância internacional.

Já para os soviéticos, os confrontos contra americanos eram uma oportunidade de demonstrar superioridade estrutural e ideológica. E os grandes confrontos ocorreram especialmente durante o contexto da Guerra Fria.

URSS visitou os EUA em 1990, em momento de abertura política – Reprodução

Em 1979, em amistosos, a seleção soviética dominou durante uma viagem aos Estados Unidos. Em jogo disputados em Palo Alto e em Seattle, a URSS venceu por 3 a 1 e 4 a 1, respectivamente.

Onze anos depois, com menor tensão geopolítica envolvida, dois outro encontros aconteceram em 1990. No primeiro jogo, na Califórnia, a vitória foi dos soviéticos, por 3 a 1, enquanto o segundo embate, em Trinidad e Tobago, ficou em 0 a 0.

Grandes nomes da história soviética

Lev Yashin – Goleiro do Dínamo Moscou e da seleção por mais de 20 anos, foi o único arqueiro a conquistar a Bola de Ouro (1963). Conhecido como “Aranha Negra” por seus uniformes escuros e reflexos, é considerado por muitos o maior atleta soviético da modalidade.

Lev Yashin foi o maior goleiro do século XX – Divulgação/Fifa

Eduard Streltsov – Atacante do Torpedo Moscou, apelidado de “Pelé soviético” pelo talento técnico e força física. Sua carreira foi interrompida por um polêmico caso de acusação de estupro, acabando preso, em 1958. Por sua rebeldia, opositores ao regime acusam que a prisão foi uma manobra do governo.

Oleg Blokhin – Ídolo do Dínamo de Kiev, atacante veloz e artilheiro nato. Venceu a Bola de Ouro em 1975, após liderar o clube à conquista da Recopa Europeia. É até hoje a representação de força do futebol ucraniano dentro da estrutura soviética.

Oleg Blokhin venceu a Bola de Ouro em 1975 – Divulgação/Fifa

Valeriy Lobanovskyi – Mais lembrado como treinador, também foi jogador habilidoso. À beira do campo, revolucionou o futebol soviético com métodos científicos, preparação física intensa e estratégias coletivas. Levou o Dínamo de Kiev a títulos europeus e moldou gerações.

Igor Netto – Nascido em Moscou, mas com raízes na Itália e Estônia, Netto foi um meio-campista de habilidade e passes qualificados. Tinha o apelido de “Ganso”, por sua voz, jeito de andar e formato do pescoço e da cabeça.

Declínio e fragmentação

Com o fim da URSS em 1991, o sistema de financiamento estatal se desintegrou. Clubes perderam suporte, jogadores buscaram contratos no exterior e a liga doméstica perdeu relevância.

Potências como Dínamo Kiev e Spartak Moscou passaram a atuar em campeonatos nacionais distintos, representando novas nações independentes. E, em poucos anos, nunca mais uma equipe da região voltou a brilhar com consistência em âmbito continental.

Escócia e CEI pela Eurocopa de 1992 – Divulgação/Uefa

No futebol de seleções, a Eurocopa de 1992 ainda teve a participação de uma representante da finada União Soviética. Foi a Comunidade dos Estados Independentes, precedendo a seleção da Rússia, que herdou o histórico de títulos e voltou a disputar partidas em 1992, participando da Copa do Mundo de 1994.

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