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Catalunha, Vaticano e mais: a história das seleções não filiadas à Fifa

Territórios ultramarinos, repúblicas separatistas, povos indígenas, micronações e projetos de autodeterminação estão de fora da atual lista de 211 filiados à entidade que rege o futebol mundial; entenda

Publicado por: Guilherme Azevedo em 20/07/2025 às 09:10 - Atualizado em 20/07/2025 às 10:43
Catalunha, Vaticano e mais: a história das seleções não filiadas à Fifa
Seleção da Catalunha, em 2001, com Guardiola e Puyol na escalação - EFE/T.A./Toni Garriga.-

Para além das 211 seleções filiadas à Fifa, existe uma espécie de submundo do futebol. Fora dos holofotes bilionários da Copa do Mundo, há dezenas de equipes não homologadas, cuja existência é também uma forma de expressão de identidade, resistência e reivindicação.

Esse ecossistema inclui territórios ultramarinos, nações soberanas ignoradas pela entidade máxima do “futebol formal”, repúblicas separatistas, povos indígenas, micronações e projetos de autodeterminação.

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Alguns desses times disputam torneios continentais, outros são filiados à Conifa (Confederações das Associações Independentes de Futebol) ou à Cosanff (Conselho Sul-Americano de Novas Federações de Futebol), criadas justamente para oferecer uma plataforma fora da ordem tradicional.

Apesar de vetar algumas equipes, a Fifa tem hoje mais seleções filiadas (211) do que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece de Estados-Membros (193).

Para contextualizar o assunto, PLACAR detalhou esse “universo paralelo” do futebol internacional; entenda.

Reconhecidos no continente, não no mundo

Alguns territórios não são países independentes, mas têm seleções reconhecidas por confederações continentais — como a Concacaf ou a OFC. Esse é o caso de algumas colônias, departamentos ultramarinos e protetorados.

Exemplos comuns estão no “Caribe francês”, com três seleções que representam territórios franceses nas Antilhas. Todos eles são membros plenos da Concacaf, mas não podem ser filiados à Fifa por serem departamentos da França. São eles:

Martinica, com oito participações na Copa Ouro. Parou nas quartas de final em 2002.

Guadalupe, com cinco participações no torneio, foi semifinalista em 2007.

Guiana Francesa, que faz fronteira com o Brasil. Em sua primeira participação em um torneio, em 2017, acabou perdendo para Honduras por W.O por escalar Florent Malouda, experiente atacante que disputou mais de 80 jogos pela seleção da França.

Florent Malouda, atacante ex-seleção da França, atuando pela Guiana Francesa – Brendan Smialowski / AFP

Zanzibar, na África. Região semi-autônoma da Tanzânia, membro da CAF, que não disputa torneios tradicional, mas a CECAFA Cup (Campeonato do Leste Africano), vencido em 1995.

Já na Ásia, há as Ilhas Marianas do Norte, um território associado aos EUA. Embora fique na Oceania, é filiado à AFC (Confederação Asiática) e ainda não tem filiação à Fifa.

Países independentes fora da Fifa

Embora a Fifa filie países sem reconhecimento pleno da ONU, como a Palestina, alguns Estados independentes ainda não fazem parte do quadro de seleções da entidade.

Tuvalu e Kirbati, da Oceania, por exemplo, são nações que não disputam torneios globais tradicionais.

Além disso, há Estados soberanos que não são parte da Fifa. São eles: Estados Federados da Micronésia, Palau, Ilhas Marshall, Nauru, Mônaco e Vaticano.

O caso do Reino Unido

Embora seja um único país soberano, o Reino Unido não tem uma seleção unificada no futebol. Em vez disso, participa com quatro seleções distintas: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.

Isso ocorre por um motivo histórico: as federações desses territórios foram fundadas ainda no século XIX, antes mesmo da criação da Fifa, e já organizavam partidas entre si quando o futebol internacional começou a tomar forma. Ao ser criada, a Fifa reconheceu essa tradição e permitiu que cada federação britânica mantivesse sua autonomia esportiva.

Essa exceção é exclusiva do Reino Unido e segue respeitada até hoje, inclusive nas competições da Uefa e da própria Fifa. A única ocasião em que as seleções britânicas se unem é nos Jogos Olímpicos, onde a delegação compete como Grã-Bretanha.

Ryan Giggs, do Reino Unido, com Pape Souare, do Senegal, na Olimpíada de Londres-2012 - EFE/Robin Parker

O ídolo galês Ryan Giggs, em ação pelo Reino Unido, na Olimpíada de Londres-2012 – EFE/Robin Parker

Catalunha e País Basco

A Catalunha é um dos casos mais emblemáticos entre seleções não filiadas à Fifa — e sua situação é marcada por conflito político, autonomia esportiva parcial e uma identidade nacional forte, mas sem reconhecimento internacional.

A Catalunha possui uma seleção regional, administrada pela Federació Catalana de Futbol (FCF), fundada em 1900. Ela organiza amistosos não-oficiais e partidas festivas, quase sempre contra seleções oficiais, como foi em contra o Brasil em duas ocasiões (2002 e 2004).

Apesar disso, a Catalunha não é filiada nem à Fifa nem à Uefa, o que significa que não disputa Eliminatórias nem torneios oficiais como Eurocopa ou Copa do Mundo. A razão é política e está ligada à estrutura do Estado espanhol, já que a região é oficialmente parte do Reino da Espanha.

Nos anos 2000, principalmente após 2010, a Federació Catalana e partidos catalães pressionaram por mais reconhecimento. Em 2004, por exemplo, a federação enviou pedido à Fifa e à Uefa para reconhecimento internacional, mas o pedido foi negado.

Gerard Piqué é defensor ferrenho da independência catalã – Federació Catalana

Em 2009, a Fifa chegou a permitir que a Catalunha jogasse amistosos com seleções filiadas. Foi uma exceção temporária e sem valor oficial: os jogos não contavam pontos no ranking.

Diversos estrelas catalãs, como Pep Guardiola, Xavi Hernández, Gerard Piqué e Cales Puyol, já atuaram pela seleção catalã e também pela espanhola (os três últimos foram campeões do mundo em 2010).

Situação semelhante acontece com o País Basco, região ao extremo norte da Espanha e no extremo sudoeste da França, cujas cidades mais conhecidas são Bilbau e San Sebastián. A seleção basca realiza alguns amistosos, e já contou com estrelas da seleção espanhola, como Xabi Alonso, hoje técnico do Real Madrid.

O principal clube da região de Euskadi, o Athletic Bilbao, só admite atletas nascidos no País Basco e, apesar disso, jamais foi rebaixado à segunda divisão espanhola.

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Casos Guardiola e Oleguer

Pep Guardiola jogando pela seleção espanhola durante a Eurocopa de 2000

Pep Guardiola jogando pela seleção espanhola durante a Eurocopa de 2000 – Getty Images

Guardiola chegou a causar polêmica ao dizer, em 2015,  já como treinador, que gostaria de ter jogado apenas pela seleção da Catalunha e não com a da Espanha. “Se tivesse existido um Estado catalão eu teria jogado com a seleção da Catalunha porque sou de Santpedor, mas naquele momento isso ainda não era viável”, disse ao jornal da campanha Guaneyrem (Ganharemos, em catalão) de apoio ao esporte da região.

O treinador do Manchester City ainda respondeu às acusações do ministro do Interior da Espanha, Fernandez Díaz, que disse que Guardiola defendeu a seleção espanhola por questões financeiras.

“Não foi assim. O dia que eu cruzar com o senhor Fernandez Díaz lhe explicarei que não fui por dinheiro. Aliás, paguei meus impostos desde o primeiro até o último dia de minha carreira, coisa que nem todos os políticos podem dizer.”

Guardiola disse ter vestido a camisa da Espanha com orgulho. “A seleção da Espanha estava me convocando e fiquei encantando em desempenhar o meu jogo no mais alto nível”. Ele disputou 47 partidas pela seleção espanhola: foi campeão dos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona, pela Espanha, jogou a Copa de 1994 e a Eurocopa de 2000.

Outra jogador formado no Barcelona e com ideologia independentista catalã chegou a se recusar a defender a Espanha. Em 2006, o lateral Oleguer chegou a ir à concentração da Fúria explicar suas razões ao técnico Luís Aragonés.

“Sim, recusei jogar. Expliquei-lhe que o meu modo de ver o mundo e que não iria estar comprometido e que seria melhor chamar outro. Era uma questão de consciência”, contou Oleguer, anos depois.

Alternativas ao “futebol Fifa”

A NF-Board (Nouvelle Fédération-Board) nasceu com o objetivo de organizar seleções de povos, territórios e regiões sem representação na Fifa, como Curdistão, Ilhas de Man, Saara Ocidental, Zanzibar e Tibete. Era, de fato, a primeira tentativa formal de criar uma “Fifa paralela”.

Seu maior feito foi a criação da Viva World Cup, realizada cinco vezes entre 2006 e 2012. O torneio chegou a reunir seleções de povos historicamente oprimidos, como os tamoil (do norte da África), os occitanos (do sul da França) e os cossacos (da Rússia).

Em 2013, porém, a NF-Board entrou em colapso após desentendimentos internos e má gestão financeira. A entidade deixou de existir, e seus membros migraram para uma nova organização: a Conifa.

Fundada em 2013, a Conifa atualmente organiza torneios entre seleções não afiliadas à Fifa. Seus membros incluem repúblicas separatistas, povos sem Estado, minorias étnicas e comunidades da diáspora.

A entidade realizou três edições de sua Copa do Mundo, com a quarta, marcada de 2020, sendo cancelada em razão da pandemia da Covid-19. Haveria um outro Mundial em 2024, no Curdistão (região federal do Iraque), com direito à participação da seleção do Estado de São Paulo, mas a competição foi cancelada.

Transcarpátia, seleção de povo húngaro na Ucrânia, venceu a Copa do Mundo da Conifa em 2018 – Divulgação / Conifa

Além da Conifa, há a Cosanff, que surgiu em Buenos Aires, em 2007. O foco é representar minorias étnicas, regiões autônomas, coletivos culturais e grupos que buscam espaço no futebol sul-americano sem depender da Conmebol.

Entre as participantes, há dois estados brasileiros. São eles Roraima e Fernando de Noronha, sendo o segundo finalista da Copa CSANF de 2017, mas perdendo para a Comunidade Armênia da Argentina

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