A ginasta chocou o mundo ao apresentar um inédito salto triplo-duplo (!) no Campeonato Americano de Ginástica Olímpica
Uma única foto, o tempo congelado, o instante decisivo a que se referia Henri Cartier-Bresson, talvez seja insuficiente para descrever o feito de Simone Biles no Campeonato Americano de Ginástica Olímpica, no Kansas, no domingo 11. Imagens em movimento seriam mais úteis, não é difícil achá-las no YouTube, mas palavras também ajudam a retratar o que houve na prova de solo — com passadas ligeiríssimas, ela entrou no estrado, realizou um duplo mortal para trás com as pernas flexionadas e ao mesmo tempo girou no eixo transversal até completar três voltas. Fizera um triplo-duplo, movimento que nenhuma atleta jamais havia acertado. Um triplo-duplo!
O lugar-comum manda dizer que a invenção de Biles desafiou a física — ao contrário, ela só pôde acontecer por causa das leis da física. A força gravitacional só age na direção vertical, puxando tudo para baixo. Não há forças horizontais — ou seja, com velocidade, levando seu corpo ao máximo de altura, ela conseguiu fazer os rodopios paralelos ao chão, antes que o corpo fosse fatalmente atraído para o tatame.
Foi tudo tão veloz que a plateia e parte dos comentaristas confundiram o salto com o duplo-duplo habitual — e, agora, banal — das melhores do mundo. Na véspera, Simone já provocara espanto ao deixar a barra de equilíbrio com dois mortais, também inéditos — foi uma saída corajosa, capaz de transformar os míticos passos de Nadia Comaneci, em 1976, naquilo que realmente foram: um sopro de leveza no chumbo da Guerra Fria. Simone Biles, quatro medalhas de ouro e uma de bronze na Olimpíada do Rio, em 2016, é desde já um dos grandes nomes a ser acompanhados nos Jogos de Tóquio, em 2020.
Publicado em VEJA de 21 de agosto de 2019, edição nº 2648
Uma frase para descrever motivos para baixar nosso aplicativo
Baixe nosso app