A atleta belga autorizou os médicos a encerrar sua vida na noite da terça-feira 22, aos 40 anos, em um pequeno hospital de Diest
A belga Marieke Vervoort sempre gostou de esportes. Na infância, praticou um pouco de tudo, em escolas e clubes: ciclismo, natação e tênis eram as modalidades de sua predileção. Aos 14 anos, porém, surgiu o primeiro obstáculo. Marieke foi diagnosticada com uma rara doença degenerativa, que tirou seus movimentos da cintura para baixo. Mesmo debilitada, por vezes entregue à depressão, a adolescente não desistiu. Rapidamente passou a treinar, a competir e vencer em provas adaptadas de triatlo. Vê-la em atividade no Ironman era algo espantoso: 4 quilômetros de natação, 180 quilômetros a bordo de um triciclo operado com as mãos e pouco mais de 42 quilômetros — a distância das maratonas — numa cadeira de rodas.
Ela se tornou internacionalmente conhecida, para além dos limites de sua cidade natal, Diest, a leste de Bruxelas, nas Paralimpíadas de Londres, em 2012, e do Rio de Janeiro, em 2016 — nas duas participações subiu quatro vezes ao pódio nas provas de pista, com uma medalha de ouro, duas de prata e uma de bronze. O sorriso permanentemente aberto depois de cruzar a linha de chegada escondia um drama íntimo. Em 2008, Marieke tentou o suicídio ao ingerir doses descontroladas de analgésicos. No ano anterior, fora obrigada a interromper as atividades em decorrência do avanço da doença e das dores. “Embora minha cabeça peça mais, meu corpo chora. Praticamente implora que eu pare de treinar”, ela dizia.
Entre vitórias e as dificuldades do cotidiano, Marieke ganhou ainda mais notoriedade ao anunciar uma alternativa, a única a seu alcance, para o desconforto desumano: a eutanásia ativa, pela qual o paciente escolhe a hora de morrer. A Bélgica é um dos poucos países onde a prática é permitida — existem leis semelhantes no Canadá, Colômbia, Holanda e Luxemburgo. “Não se trata de homicídio. Sou a prova de que dar essa escolha a uma pessoa aumenta sua qualidade de vida”, afirmava em frequentes palestras motivacionais. Em sua última postagem no Instagram, quatro dias antes da morte, ela escreveu: “Não podemos esquecer as boas lembranças”. Marieke Vervoort autorizou os médicos a encerrar sua vida na noite da terça-feira 22, aos 40 anos, em um pequeno hospital de Diest.
Publicado em VEJA de 30 de outubro de 2019, edição nº 2658
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