Atual vencedor do Brasileirão busca reconhecimento da Copa dos Campeões Estaduais conquistada há 85 anos como troféu nacional; entenda
Meses depois de ter conquistado o bicampeonato do Brasileirão, o Atlético Mineiro pode se tornar tricampeão nacional. Apesar de estar em alta, o assunto já bateu à porta do clube há mais de uma década, mas cresceu nas últimas semanas, após a diretoria do Galo enviar um dossiê à CBF para pedir o reconhecimento da Copa dos Campeões Estaduais de 1937 como título brasileiro.
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Na ocasião, o time mineiro conquistou um torneio organizado pela Federação Brasileira de Futebol (fundada em 1933 para profissionalizar o esporte e extinta em 1941 pelo governo de Getúlio Vargas), disputado pelos campeões dos estados que haviam abandonado o amadorismo. O torneio, dividido em duas fases, foi composto por Portuguesa-SP, Fluminense-RJ, Rio Branco-ES, Alliança-RJ e Liga da Marinha. O Galo entrou já na etapa final, fez seis jogos, venceu quatro, empatou um e perdeu outro. A campanha vitoriosa foi sacramentada há pouco mais de 85 anos, dia 14 de fevereiro de 1937, quando o Atlético venceu a Lusa, por 3 a 2.
Para os rivais – e para alguns atleticanos -, o título não deveria ser reconhecido como brasileiro. O Galo, porém, manteve o discurso e ainda se intitula o primeiro campeão do Brasil. Mas mudou a lógica. Anteriormente, o clube tratava o Brasileirão de 1971, vencido pelo time, como o pioneiro, ignorando as edições entre 1959 e 1970, reconhecidas pela CBF. Agora, segue se denominando como o vencedor do torneio nacional inaugural, mas em um cenário que considera conquistas ainda mais antigas.
PLACAR reuniu fontes históricas para responder a questão: Por que o Atlético Mineiro quer validar um título brasileiro de 1937?
“Falou no jornal!”
Um dos principais argumentos de quem defende o revisionismo de títulos é o resgate de materiais da imprensa. O Atlético Mineiro usa da estratégia nas redes sociais para a validação da opinião pública, divulgando páginas de jornais da época que noticiaram a conquista.
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Postada pelo Galo nesta semana, uma edição da Folha de Minas de 21 de outubro de 1936 publicou um serviço: “Como será disputado, este ano, o campeonato brasileiro de futebol”. Mais tarde, ao fim do campeonato, o mesmo veículo divulgou: “Atlético sagrou-se campeão brasileiro de futebol”.
Repercussão da Copa dos Campeões –
Em um período no qual o jornalismo se limitava a jornais impressos e uma radiodifusão que completaria 15 anos no país, as fontes são escassas. Mesmo assim, veículos importantes, dentro e fora de Minas Gerais, noticiaram a Copa dos Campeões. O Jornal dos Sports, carioca, reconheceu prontamente a vitória atleticana. “O Atlético campeão dos campeões”, publicou com destaque.
Tradicionais e relevantes até os dias de hoje, Estado de Minas e O Globo, do Rio de Janeiro, trataram o Galo como campeões nacionais. O jornal conterrâneo do clube publicou como principal chamada uma manchete dizendo: “O Clube Atlético Mineiro conquistou para Minas Gerais o título de campeão brasileiro.” Enquanto isso, no caderno de esportes do jornal carioca, escreveram que o clube belo-horizontino foi o “campeão dos campeões”.
Galo apontado como campeão brasileiro pelo Estado de Minas –
Anos depois, em 1971, quando o Atlético ganhou o Campeonato Brasileiro, O Globo voltou a lembrar da vitória alvinegra nos anos 30. O time também recuperou e divulgou nesta semana. “Atlético obteve 1º título de campeão nacional em 37″, disse o jornal.
34 anos depois, O Globo reconheceu título de 1937 como primeiro brasileiro –
Por que não foi reivindicado antes?
De acordo com o Uol, a resposta é simples: em 2010, o Atlético teve a chance de ser considerado campeão brasileiro com a competição de 1937, mas Alexandre Kalil (prefeito de Belo Horizonte e presidente do clube à época) não aceitou. Tendo em vista a recusa do Galo, a CBF unificou e passou a considerar campeões brasileiros os clubes que venceram a Taça Brasil e a Roberto Gomes Pedrosa, entre 1959 e 1970. A decisão coroou o Santos de Pelé, que conquistou seis troféus nacionais no período resgatado.
Com isso, o Atlético Mineiro conviveu por mais uma década sem sequer abordar o assunto. Porém, a atual gestão, presidida por Sérgio Coelho, reúne material e elabora um dossiê desde 2021, antes mesmo do título do Campeonato Brasileiro do ano passado.