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Vinicius e Rodrygo x Foden: brasileiros são subestimados na Europa?

Atacantes de 21 anos se destacaram na Liga dos Campeões; menos exaltados, jovens do Real Madrid levaram a melhor no confronto direto

Rodrygo é o grande nome da semana. Autor de dois gols na virada histórica do Real Madrid sobre o Manchester City, na última quarta-feira, 4, pela semifinal da Liga dos Campeões, o atacante revelado pelo Santos vive dias de exaltação. Ainda assim, a reação de parte da imprensa europeia tem levantado questionamentos sobre o tratamento dado às revelações brasileiras em comparação com jovens destaques do Velho Continente. O caso que chama mais atenção é o de Phil Foden, principal nome da nova geração inglesa e celebrado na Terra da Rainha como um dos melhores do mundo. O hábil atacante canhoto parou justamente no Real de Rodrygo e também de Vinicius Junior.

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De maneira antecipada, é preciso estabelecer que não há nada de errado em apontar Foden como um dos craques mais promissores do planeta um hábito da mídia britânica que já atormentou nomes como David Beckham, Michael Owen, Wayne Rooney, entre outros. A grande interrogação é: Vinicius e Rodrygo, que têm a mesma idade que Foden (21 anos), são realmente inferiores?

Os números da temporada ajudam a nortear o debate. Em 2021/22, por clube e seleção, não há muita distância. Dono da maior quantidade de partidas (55), Vinicius também lidera a quantidade de bolas na rede: 19. Empatado com o ex-Flamengo em assistências, com 15, Foden tem 48 jogos e marcou 13 vezes. Menos titular do que os outros nomes em questão, Rodrygo anotou nove tentos e oito passes para gol, em 46 aparições.

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A figura da discussão muda quando a base comparativa passa a ser esta Liga dos Campeões. Titular em todas as vezes que entrou em campo, Vini jogou 12 partidas. Marcou três gols e deu seis assistências, além de ser o jogador com mais números de dribles na competição (78). Com um jogo a menos, Foden foi às redes o mesmo número de vezes que o astro do Madrid, mas realizou cinco passes para gol a menos. Em média, o grande destaque vai para Rodrygo, que em 500 minutos marcou cinco vezes, sendo três deles no mata-mata.

Superiores na competição, os brasileiros são elogiados no exterior, é claro. Mas sempre que é possível exaltar o “próprio peixe”, os europeus assim o fazem. Após a ida de Real Madrid x Manchester City, o perfil GOAL escreveu, com uma foto de Foden: “Tem 21 anos e já marcou em uma semifinal de Champions League”. A resposta foi imediata, com brasileiros lembrando que Vinicius tem a mesma idade e também fez gol na partida – após drible desconcertante.

Phil Foden gera enorme expectativa desde a adolescência. Esperança de um país carente em títulos com a seleção adulta, (venceu a Copa de 1966 e tem um vice da Euro, no ano passado), é nome recorrente quando o assunto é o melhor jovem do mundo. O norueguês Erling Haaland, os ingleses Jude Belingham e Jadon Sancho, o português João Félix e os espanhóis Pedri e Gavi são outros nomes bastante celebrados.

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Seria leviano dizer que os europeus não admiram brasileiros pelo contrário, num passado recente, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e outros tornaram-se ídolos globais. No entanto, uma combinação entre a toxicidade das redes sociais, a exigência cada vez maior com atletas em maturação, além de uma espécie de má fama dos brasileiros, tem provocado mudanças neste debate.

Quando os brasileiros vão bem, são imediatamente comparados aos ídolos do país. Quando vão mal, pouco prestam e eventualmente ainda são taxados de “malandros”. “O Marcelo já havia me alertado: aqui, num dia você é o Pelé. No outro, não joga nada”, contou o próprio Vinicius Junior em entrevista à uma edição especial de VEJA, de 2020, com 20 jovens brilhantes com menos de 20 anos.

Rodrygo e Vinicius, especialmente, precisaram vencer esta barreira. Há pouco tempo, no início de 2021, um jornal catalão escreveu: “Seguem Vinicius Júnior e Rodrygo, que continuam não fazendo diferença mesmo depois de três e duas temporadas jogadas, respectivamente.” Os atletas revelados por Flamengo e Santos, no entanto, demonstraram uma natural evolução em campo.

Vinicius e Rodrygo não são afeitos à polêmicas (na verdade, costumam demonstrar educação e humildade), mas estão à mercê de um rótulo comum aos brasileiros: o de cai-cai, uma fama que ganhou eco nos últimos anos, também de maneira exagerada, graças a Neymar. Habilidosos, os atacantes do Real Madrid já foram ironizados nas redes por supostas simulações de falta.

Também extremamente habilidoso e ágil, Foden é alvo de pancadas dos adversários, mas um pulo, ou um giro no chão após sofrer pontapés, nunca foi tratado da mesma forma. Exemplo disso aconteceu há poucas semanas, quando, nas quartas de final da Champions, o City conseguiu esfriar o ímpeto do Atlético de Madri após uma falta valorizada ao extremo pelo talentoso garoto britânico, que resultou na expulsão do brasileiro Felipe.

Há anos, a torcida inglesa encampa campanhas contra os “divers“(mergulhadores, em tradução livre), como são chamados os simuladores. Neymar sofre com essa fama desde as primeiras visitas à Europa, pela seleção, ainda como atleta do Santos. Atletas locais, como Raheem Sterling, também do City, é um notório adepto do cai-cai, mas raramente é criticado na ilha por isso.

Quem é o melhor sub-21?

Sob o ponto de vista de carreira, é possível dar leve vantagem a Foden. Mais vencedor (10 títulos profissionais), o inglês tem 46 gols e 39 assistências como profissional, o que garante médias de participações diretas superior às dos brasileiros. Formado na base do City, Foden teve a vantagem de ser lapidado com mais cuidado, não precisou encarar desafios com readaptação e teve apenas um treinador em sua vida, Pep Guardiola.

Rodrygo e Vinicius são nomes essenciais na campanha da Champions -
Rodrygo e Vinicius são nomes essenciais na campanha da Champions –

O espanhol foi o responsável por lançar e conduzir o início da carreira da joia, desde a sua estreia, aos 17 anos, no dia 21 de novembro de 2017, contra o Feyenoord, pela fase de grupos da Champions. Guardiola nunca escondeu a admiração pelo garoto e certa vez chegou a cometer uma espécie de ato falho, ao afirmar que Foden foi o jogador mais habilidoso que já viu. Em seguida, ao corrigir falando que Messi é o primeiro, Pep explicou: “Não conheci Leo aos 17 como conheci Phil. E nessa idade, nunca vi alguém como ele.”

A apressada imprensa brasileira, que por vezes cobra de jovens como se fossem veteranos, também desempenha papel importante nesta celeuma. A calma é raridade e personalidades do esporte podem ser a voz de segurança para os jovens atletas. Após brilhar nesta semana com o Real, Rodrygo chegou a receber elogios de ninguém menos que Pelé, a maior estrela jovem de todos os tempos, craque da Copa de 1958 aos 17 anos: “Eu sempre soube que o dia de te dar parabéns chegaria, meu amigo. Não existe outro caminho para quem trabalha duro e ama o que faz. Você é iluminado e ainda vai nos trazer muitas alegrias”, escreveu o Rei.

Vinicius, Rodrygo e Foden ocupam as mais altas prateleiras entre novos atletas do esporte e o rendimento a partir daqui depende do futuro. Entretanto, os grandes nomes do campeão espanhol e finalista da Liga dos Campeões não podem ser esquecidos e ofuscados pelo ótimo meia-atacante do Manchester City. O debate envolve questões que vão muito além das quatro linhas e dará muito o que falar nos próximos anos.

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