Torcedores do United invadem CT em novo protesto contra Superliga
Principal alvo do grupo foi o dono, o empresário americano Joel Glazer; protesto pacífico aumenta pressão contra a sustentação da nova competição europeia
Apesar dos desligamentos da maior parte dos clubes envolvidos e um iminente fim precoce, quatro dias após o anúncio de sua criação, a Superliga Europeia ainda é alvo de protestos. Na manhã desta quinta-feira, 22, torcedores do Manchester United invadiram o centro de treinamento do clube, localizado em Carrington, e bloquearam os acessos aos campos, antes do início do treino da equipe principal. O protesto foi direcionado, principalmente, ao empresário americano Joel Glazer, um dos donos do clube.
“51% MUFC [Manchester United Football Club]. Nós decidimos quando você joga e Glazer sai”, expuseram os torcedores em faixas.
Os 51% são uma referência dos torcedores a maioria dos direitos de votos do clube. O United informou que o grupo deixou as instalações do clube depois de expressarem insatisfação pelo posicionamento com relação a criação da Superliga. Dirigentes e até mesmo o técnico Ole Gunnar Solskjaer ainda conversaram com os presentes.
Glazer não vai a um jogo do United há mais de dois anos. Desde 2004, ele e o irmão Avram Glazer, donos de fortuna bilionária, viraram os principais gestores do clube, após a morte do pai, Malcom Glazer. Eles também são proprietários do Tampa Bay Buccaneers, franquia da NFL, que conquistou o último Super Bowl.
Em comunicado publicado na quarta-feira, o empresário chegou a pedir “desculpas sem reservas pela agitação causada durante esses últimos dias”. Ele explicou que o clube havia errado na decisão de aderir a Superliga e que, a partir desse momento, faria esforços para reconstruir o relacionamento com os torcedores, pedindo por apoio.
An open letter from Joel Glazer to all Manchester United fans.
Continua após a publicidade— Manchester United (@ManUtd) April 21, 2021
Os seis clubes ingleses presentes na formatação inicial da Superliga foram os primeiros a anunciar a desistência. Diante de enorme pressão de torcedores, técnico, atletas e até importantes lideranças políticas, Arsenal, Liverpool, Manchester United e Tottenham se juntaram a Chelsea e Manchester City, os primeiros a declararem o rompimento. O Arsenal, por exemplo, citou ter “cometido um erro”.
Os estádios de Manchester United e Liverpool, clubes historicamente ligados às classes trabalhadoras, foram os primeiros alvos de protestos. A notícia também incomodou e surpreendeu os atletas. Liderados pelo capitão Maguire, o grupo de jogadores do United chegou a convocar uma reunião de emergência com o vice-presidente executivo, Ed Woodward, para tratar do tema. Horas depois, o clube anunciou que o dirigente, desgastado diante da polêmica, deixará o cargo ao final da temporada.
Florentino Pérez, presidente do Real Madrid e da Superliga, é um dos poucos que continuam a defender o modelo criado. Em entrevista à rádio Cardena SER, o dirigente voltou a depositar esperanças para que a competição ainda consiga emplacar. “É o que podemos fazer para combater a situação econômica do futebol espanhol. La Liga é intocável, faz parte da história. E o formato da Champions League está obsoleto, antigo, e só interessa nas quartas de final. Antes, não tem interesse”, disse.
Pérez voltou a citar a Superliga como um importante meio de conseguir novos ganhos financeiros para que clubes possam se recuperar dos reflexos da pandemia. “Nunca vi tanta agressividade, foi algo orquestrado. Surpreendeu a todos nós. Quando demos a notícia, pedimos para falar com o presidente da Uefa e da Fifa. Nem nos responderam”, desabafou.
Por ora, apenas Real Madrid e Barcelona não anunciaram oficialmente sua desistência do projeto, que enfrentou diversas críticas de torcedores, inclusive dos clubes envolvidos, cartolas, ídolos, treinadores e até importantes políticos como o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e o presidente francês Emmanuel Macron.