#TBT: Os clássicos pelo olhar de craques da música, artes e escrita
Em 1991, PLACAR reuniu músicos, escritores, humoristas e jornalistas para que cada um desse sua visão sobre as grandes rivalidades do futebol brasileiro
Em semana de Fla-Flu pelo Campeonato Carioca, Majestoso pelo Campeonato Paulista e Gre-Nal no Campeonato Gaúcho, relembramos uma edição especial sobre os maiores clássicos do futebol brasileiro. Na revista número 1060 de junho de 1991, PLACAR convidou 32 torcedores célebres para escrever sobre os 16 principais confrontos em grandeza e história.
Já imaginou Gilberto Gil escrevendo sobre futebol? Além de ser fato raro, foi um dos únicos que falou sobre uma derrota do time de coração. Em dezembro de 1972, o músico acabara de retornar do exílio imposto pela Ditadura Militar e viu o seu Bahia perder o título estadual para o maior rival. “O fato de eu ter ficado três anos no exílio, de voltar à Fonte Nova pela primeira vez para ver o Bahia perder um título num clássico contra o Vitória, foi uma situação muito forte, que me fez jamais esquecer aquele clássico”. André Catimba abusou da lentidão do zagueiro Amorim e o Vitória venceu por 3 a 1.
O flamenguista Bussunda falou sobre o “dia da vingança”. Quando tinha 10 anos, em 1972, viu o Botafogo fazer 6 a 0 no Flamengo. Passou a adolescência inteira sofrendo com as provocações dos rivais. “Aos 14 anos tive a minha primeira transa. A moça perguntou: ‘foi bom pra você?’. Foi ótimo, mas continuava faltando alguma coisa”, lamentou. No dia 8 de novembro de 1981, Zico, Adílio, Nunes e companhia devolveram o placar. “Sei que é difícil de acreditar, mas eu dizia: ‘vamos lá que hoje é o dia da vingança!”, garante o humorista no texto. Quando Andrade, o camisa 6, marcou o sexto gol aos 42 minutos do segundo tempo, o personagem de riso fácil foi só alegria. “Tiver o ataque de riso mais demorado da minha vida. Durou uns dez dias”.
História por história, visão por visão, os personagens contaram suas versões dos maiores confrontos do futebol brasileiro. São Paulo e Corinthians escrevem mais um capítulo nesse sábado. Resta saber se será com alegria corintiana, como na vitória por 1 a 0 em 1990, que valeu o primeiro título brasileiro, narrada pelo ator Gianfrancesco Guarnieri, ou se com festa são-paulina como nos 3 a 1 da conquista estadual de 1957, relembrado por Eder Jofre. No Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio fazem a semifinal do primeiro turno do Gauchão. O cronista Luis Fernando Verissimo relembrou um jogo sem gols de 1969 que deu o primeiro dos oito títulos estaduais consecutivos ao Colorado – e parou uma sequência de sete conquistas seguidas do rival no campeonato. Logo no ano de inauguração do Beira-Rio. “De nada nos adiantaria o novo e grande estádio se não pudéssemos pregar o escalpo do Grêmio em cima da porta”, escreveu Verissimo.
O maior clássico do Brasil? O redator-chefe daquela edição, Álvaro Almeida, decidiu abrir a revista com o confronto entre Flamengo e Fluminense. “No maior deles, o Fla-Flu, prestamos uma homenagem ao rubro-negro Mário Filho e ao tricolor Nélson Rodrigues. Suas crônicas deram a verdadeira dimensão para Flamengo x Fluminense”, escreveu na carta ao leitor. PLACAR publicou dois textos dos cronistas extraídos do livro Fla-Flu… E as Multidões despertaram.
O flamenguista Mário Filho escreveu sobre o “Fla-Flu da Lagoa”, em que o Fluminense segurou o empate chutando a bola do campo da Gávea para a Lagoa Rodrigo de Freitas e ficou com o título em 1941. Nélson Rodrigues escolheu o primeiro clássico. O time do Flamengo foi formado por nove jogadores dissidentes do Fluminense e os reservas do Flu venceram os antigos titulares por 3 a 2. “Vejam como, histórica e psicologicamente, esse primeiro resultado seria decisivo. Se o Flamengo tivesse ganho, a rivalidade morreria, ali, de estalo”, explicou o dramaturgo.