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Separados no nascimento

O que contam as imagens do estádio olímpico de Tóquio em 2021 e do Maracanã, em 2016

Olimpíada quase sempre é memória, com imagens que não se apagam. Isso quando as lembranças não aprontam, mudando de lugar. Eu outro dia, mergulhado no passado, confundi numa live de internet um momento que não poderia ter se embaralhado. Tinha certeza de ter visto Carl Lewis ganhar o ouro no salto em distância dos Jogos de Barcelona, em 1992, em sua última tentativa – e a arquibancada lotada explodindo em aplausos. Mas não foi assim. De fato, Lewis encerrou a carreira no lugar mais alto do pódio. Mas garantiu o topo no primeiro salto das finais, com espetaculares 8m67, e não no derradeiro. Quem se dirigiu para a caixa de saltos ao fim daquela tarde de agosto, e que poderia derrotar Lewis, era o então recordista mundial Mike Powell. O silêncio da torcida era um grito calado para que Powell não ultrapassasse o adversário, e foi o que aconteceu. Sentado à beira da pista, Carl Lewis se levantou e, feliz mas discretamente, partiu para sua última volta olímpica, a nona medalha dourada de uma carreira espetacular.

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Mas por que mesmo me lembrei desse ato falho, da histórica recontada a meu bel prazer? Para reafirmar a relevância da memória a cada Olimpíada. O pesquisador de fotos Ismael Canosa, caçador de pérolas, viu uma fotografia da cerimônia de abertura de hoje, 23 de julho, em Tóquio, e rapidamente se lembrou de uma cena do Rio de Janeiro, em 2016. Em ambas os estádios iluminados por fogos de artifício iluminam o céu. Em Tóquio, as pessoas do lado de fora não puderam entrar porque, mesmo tendo comprado ingressos, foram impedidos pela pandemia do novo coronavírus. No Rio, os cidadãos do Morro da Mangueira viam o Maracanã ao fundo porque não tiveram como comprar ingressos. As duas imagens, lado a lado, narram um pouco da história do mundo.

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