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Rubinho lamenta seca, 10 anos após última vitória do Brasil na Fórmula 1

Em entrevista exclusiva a VEJA, Rubens Barrichello recordou triunfo em Monza e disse que se sente mais valorizado pelo público atualmente

O esporte brasileiro completa nesta sexta-feira, 13, uma marca nada agradável: dez anos sem uma única vitória na Fórmula 1. Há exatos dez anos, no dia 13 de setembro de 2009, Rubens Barrichello, ainda na Brawn GP, foi o último piloto a ouvir o hino brasileiro no lugar mais alto do pódio, depois de vencer o Grande Prêmio da Itália, no tradicional circuito de Monza. Aos 47 anos, ainda em atividade na Stock Car, Rubinho relembra o momento com alegria pela vitória e tristeza pelo declínio nacional no automobilismo.

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“Fico feliz por ter vencido em Monza, é algo muito gostoso de sentir, mas queria que o Brasil tivesse desenvolvido mais pilotos para a Fórmula 1. É esquisito um país com tanto sucesso no automobilismo não vencer há 10 anos. Com tantos talentos, deveríamos ter emplacado mais vitórias. Produzimos pilotos por muito tempo, mas pela espontaneidade da tentativa individual. Todos os nossos campeões na F1 basicamente tiveram uma campanha individual na tentativa de patrocínios e apoio das confederações para chegar até lá. Hoje, vemos que isso não dá mais resultado”, comentou, em entrevista a VEJA.

A seca do Brasil na principal categoria do automobilismo contrasta com um longo período de glória, quando o país era representado pelos campeões Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. A qualidade do Brasil na Fórmula 1 se manteve alta com Barrichello e Felipe Massa, que empilharam vitórias e por pouco não conquistaram títulos, fato pouco valorizado à época, mas que, segundo Rubinho, mudou drasticamente nos dias de hoje.

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“O brasileiro, infelizmente, vai passar a vida inteira reclamando e depois esperar o cara morrer para colocar carro de bombeiro e fazer uma baita festa para dizer que ele era demais. Eu digo para meus filhos não esperarem ninguém morrer para dar valor à história e superação de cada um, mesmo que não se trate de um campeão. Somos um país da vitória, então é preciso ganhar para estar no topo e isso vai demorar para mudar. Eu tenho certeza que o brasileiro, emotivo como é, ainda aprenderá. O país do meu filho de 13 anos já é diferente, já se dá valor”.

O paulista Rubinho ganhou seu primeiro kart com apenas seis anos e se apaixonou pelo automobilismo. Não demorou muito até provar seu talento e vencer, na década de 80, cinco títulos do Campeonato Brasileiro de Kart, um Sul-Americano e ficar em 9º no Mundial. O prodígio, então, subiu rapidamente de categorias e foi campeão da Fórmula Opel, Fórmula 3 Inglesa e ficou em 3º na Fórmula 3000, feitos que lhe abriram as portas, aos 21 anos, para a tão sonhada F1.

Rubens Barrichello, aplaudido pelo público em Interlagos, no GP do Brasil, em 2018 Charles Coates/Getty Images

A tradição de assistir a Fórmula 1 nas manhãs de domingo se tornou cada vez mais rara nos últimos anos. A Rede Globo, dona dos direitos de transmissão das corridas, chegou a excluir cinco GPs da TV aberta na temporada de 2018, e os televisionou no canal SporTV. Barrichello acredita que o desinteresse do público tem mais a ver com a seca brasileira do que com a hegemonia da Mercedes do pentacampeão Lewis Hamilton.

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“A Fórmula 1 não tem várias equipes ganhando. Quando eu corria com o (Michael) Schumacher, lembro das pessoas reclamando que só a Ferrari ganhava. É um processo de algumas equipes melhores em algumas situações. Hoje, o desinteresse é relativo à falta de brasileiros no Grid, com certeza”.

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Piloto e Youtuber aos 47

Rubinho segue firme na Stock Car – da qual foi campeão em 2014 -, defendendo a equipe Full Time Sports. Ele ressaltou que, apesar da rotina dura, a paixão pelo automobilismo ainda o faz levantar cedo para ir à academia e treinar duro.

“Tenho um treino específico de 15 minutos na academia, mas que vale por uma hora. Faço uma bicicleta dentro de uma sauna, a mais ou menos 50ºC. Isso me ajuda, porque a temperatura chega a 60ºC dentro da célula de proteção da Stock Car. Eu treino bastante, mas você se desenvolve mais rápido depois de tanto tempo dentro de carros. Hoje, na Stock, você vê a molecada ativa e eu ainda ali, ‘firmão’”.

Barrichello divide sua rotina em treinamentos para a Stock Car, criação e apoio à carreira de seus dois filhos, Eduardo e Fernando, de 18 e 14 anos, e também se arrisca – com sucesso – na carreira de Youtuber. Ele é um dos apresentadores do canal Acelerados, o xodó do comunicativo piloto brasileiro, que conta com mais de 1,3 milhão de inscritos.

Na plataforma digital, Rubinho testa modelos de carro sem esconder defeitos e até acidentes. “Eu gosto do contato com o público. O Acelerados é uma paixão antiga de fazer o que gosto e poder mostrar às pessoas o que é verdadeiro em um carro. O canal é tão seguido e gostoso de ver porque é genuíno. A batida do Lamborghini (Gallardo, divulgada no canal na última semana) faz parte disso, para mostrar que há dificuldades e erros. A pancada mostra o sofrimento do piloto, então o youtuber é aquele que transmite a verdade para o seu público”.

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