Quem é Vitor Pereira: obsessão por estudos e rixa com Jorge Jesus
Português de 53 anos teve passagem vitoriosa pelo Porto, atritos com ex-treinador do Flamengo e apelidou estilo de jogo como 'estrutura transformer'
O técnico português Vitor Pereira já acertou com o Corinthians e está perto de ser anunciado oficialmente pelo clube paulista. Os indícios do anúncio, inclusive, foram revelados pelo perfil do clube nas redes sociais durante a noite da última terça-feira, 23, ao publicar fotos do presidente Duilio Monteiro Alves em Portugal. “Presida em Portugal? Certamente estava trabalhando…”, disse o clube, que ainda prometeu voltar amanhã (nesta quarta, 23) com novidades.
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Presida em Portugal? Certamente estava trabalhando… pic.twitter.com/Kj0yDhQFp0
— Corinthians (@Corinthians) February 23, 2022
Adepto de um esquema tático equilibrado, e assumidamente um obcecado por estudar futebol, o português de 53 anos já teve passagens por times da Europa e do Oriente Médio.
Mas foi no Porto, ainda no início da carreira, o seu trabalho de maior destaque: bicampeão nacional nas temporadas 2011/12 e 2012/13, além de ter deixado Jorge Jesus, então à frente do rival Benfica, de joelhos em pleno estádio do Dragão em uma das vitórias mais épicas da história recente do clube.
Pereira estava livre no mercado desde dezembro, quando deixou o Fenerbahce, da Turquia. Conhecido pela boa comunicação com os jogadores e por abraçar um estilo de jogo adaptável, inclusive durante a partida, apelidou o sistema como “estrutura transformer”.
Trajetória
Como jogador, Vitor Pereira não teve grande destaque. Atuou como volante, em pequenos clubes portugueses nos anos 1980 e 1990, até se aposentar precocemente em 1996. Oito anos mais tarde, assumiu o Sanjoanense e, posteriormente, o Santa Clara, times de segunda divisão portuguesa.
Em 2010, passou a integrar a comissão técnica do Porto, do então técnico André Villas-Boas, do qual virou assistente e também braço direito, se tornando peça fundamental para a organização da equipe – campeão português invicto em 2011, feito esse que repetiria em 2013 como treinador.
Após um ano atuando como auxiliar, assumiu o cargo principal quando Villas-Boas deixou trocou o clube pelo Chelsea. Pereira esteve à frente do Porto por duas vitoriosas e intensas temporadas, e conquistou duas vezes o título nacional.
“Posso dizer que o Corinthians vai contratar um dos três melhores técnicos portugueses dos últimos 10 ou 15 anos. Ele é do tipo obcecado. Acorda pensando em futebol, deita pensando em futebol. Ele mesmo admite que é até um pouco doentio nessa relação com o futebol. É fantástico na forma como consegue montar as equipes”, analisa Pedro Cunha, chefe de redação no site zerozero.
“Apesar do André ser uma pessoa muito comunicadora e marcante. Percebia-se que a sombra dele era fundamental em tudo o que era a orientação tática da equipe. A aposta no Vitor Pereira foi sem surpresas após a saída do Villas-Boas”, acrescenta.
Pelo tradicional time português, o técnico alcançou 85% de aproveitamento na liga portuguesa: em 60 jogos, teve apenas uma derrota. À época, contava com um elenco recheado de jovens atletas, entre eles Hulk, hoje do Atlético-MG. Em vias gerais, o clube tinha um elenco menos encorpado em comparação ao rival Benfica, comandado por Jorge Jesus, com quem Pereira teve algumas desavenças – chegando a apontá-lo como egocêntrico durantes os anos que rivalizaram no país.
Mesmo assim, o Porto de Vitor Pereira foi protagonista de um dos capítulos mais marcantes do futebol português recente. Pelo campeonato nacional de 2012/13, os rivais disputavam ponto a ponto o título, até que, aos 47 minutos do segundo tempo, o brasileiro Kelvin marcou o gol da virada do Porto sobre o Benfica, que encaminhou a taça. A imagem de Jorge Jesus caído de joelhos no gramado após o lance ficou eternizada.
Pereira, depois, embarcou em novos desafios. No Al-Ahly, da Arábia Saudita, fez 37 jogos e obteve 19 vitórias. Na temporada 2014/15, esteve à frente do Olympiacos, da Grécia, e obteve 66% de aproveitamento, além de conquistar o Campeonato Grego e a copa nacional. Teve passagens modestas pelo Fenerbahce, da Turquia, e pelo 1860 Munich, da Alemanha, decisão essa mais contestada da carreira.
“Ele fez duas ou três decisões erradas na carreira. Primeiro, sai logo para a Arábia Saudita, e depois quando vai para o 1860 Munich, clube de segunda divisão alemã. Foram esses pequenos atrasos que fizeram o Vitor não estar trabalhando em uma das grandes ligas europeias”, explica Pedro Cunha.
Na China, esteve à frente do Shanghai SIPG, por três temporadas (2017 a 2020), quando voltou a bons ares, e conquistou a Supercopa do país e o Campeonato Chinês, dando fim à hegemonia do Guanghzou Evergrande.
Estilo de jogo
Estudioso voraz, Vitor Pereira aposta em um esquema tático flexível, que usualmente se adapta ao time que enfrenta. Em entrevista ao site Mais Futebol, o técnico contou que o estilo de jogo, apelidado pelo próprio como “estrutura transformer”, é a tendência no futebol moderno.
“Na China jogávamos no 3-4-3 ou no 3-5-2, por vezes no 4-3-3. Na semana passada, estive em um ‘webinar’ e apelidei esta nova estrutura de ‘estrutura transformer’. Vivemos em uma tendência de um futebol com as linhas mais coordenadas e os espaços mais reduzidos. Com isso, precisamos nos reinventar no ponto de vista ofensivo”, disse.
“Isso para mim é o futuro. Podemos montar e desmontar a estrutura durante o jogo. Essas estruturas com três centrais e depois dois laterais ou alas de largura total não são fáceis de controlar”, completa.
Para a temporada 2022, o Corinthians tem na linha ofensiva com Renato Augusto, Giuliano, Willian, Roger Guedes e Paulinho sua grande arma para a temporada, e sempre que teve pelo menos os quatro primeiros em campo, o time paulista nunca perdeu.
Ele deve vir com, pelo menos, quatro integrantes para a comissão técnica. Será o primeiro treinador estrangeiro do Corinthians depois de 17 anos de espera, após a breve passagem dos argentinos Daniel Passarella e de seu auxiliar Alejando Sabella pelo clube.