Quais são os protocolos de saúde que podem antecipar retomada do futebol
Médicos de grandes clubes do país criam documentos que podem estabelecer rotina segura para o reinício de competições no Brasil, mas não garantem datas
O coronavírus colocou uma pedra no caminho do esporte mundial em 2020. A ausência do futebol é a mais sentida no Brasil, que também teve suas principais competições paralisadas pela pandemia. Todos os clubes, do maior ao menor, começam a sentir no bolso a ausência de jogos. A renda proveniente das bilheterias e das cotas de televisão praticamente secou.
Passado o mês perdido, as equipes nacionais buscam formas seguras de retornar às atividades, seguindo novos protocolos de saúde. Denominado “Jogo Seguro”, o documento criado pelos clubes do Rio de Janeiro e pela Federação Carioca de Futebol (Ferj) está pronto e foi enviado às autoridades do governo estadual. Em São Paulo, a Federação Paulista de Futebol ainda confecciona junto às equipes um protocolo que será anunciado até o final de abril.
A tentativa de ficar um passo à frente dos desdobramentos do coronavírus é detalhista, confeccionada com cautela pelos médicos dos clubes e com ajuda de infectologistas. Esses documentos abordam a rotina de treinamentos, testagem, logística de transportes e outros cuidados com jogadores, árbitros e funcionários, mas ainda estão longe de garantir o retorno do futebol tão cedo.
“Pelo que pude entender, as medidas visam basicamente tentar identificar precocemente atletas sintomáticos e reduzir ao máximo o contato entre atletas durante os treinos. Acho interessante que já exista um esforço de organização, com regras bem definidas através de um protocolo, mas é importante deixar claro que, neste momento, não é indicado o retorno de treinos e a realização de jogos no Brasil. Como a pandemia tem um desenrolar muito dinâmico, é possível que num futuro bem próximo seja seguro reiniciar treinos com a aplicação deste novo protocolo, mas ainda é cedo para afirmar com maior certeza”, avaliou Paulo Santos, médico infectologista consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
O protocolo servirá de guia para as equipes, mas não garante que suas exigências serão seguidas à risca. Afinal, cada time terá de fazê-lo caber dentro de sua realidade estrutural e financeira. Clubes com mais recursos poderão cumprir totalmente o protocolo, mas times de menor estrutura precisarão de ajuda das federações para arcar com os custos, já que será grande a quantidade de testes para coronavírus que terão de ser utilizados todos os profissionais envolvidos em uma partida.
A rotina de testes estipulada pela junta de médico será semanal, o que também provoca um dilema moral: o Brasil é um dos países com menor número de pessoas testadas para coronavírus. De acordo com um levantamento da agência de notícias Bloomberg, o Brasil tem apenas 258 testes por milhão de habitantes, quantidade menor que de seis países da América do Sul.
No Rio de Janeiro, o Flamengo lidera o movimento que defende o prosseguimento do Campeonato Carioca o quanto antes – o clube conversa diretamente com o governador Wilson Witzel (PSC), atitude que causou divergência com os rivais Fluminense e Botafogo, que preferem esperar a conclusão da crise do coronavírus na capital fluminense.
Em entrevista ao jornal O Globo, o ex-presidente do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, disparou contra a atitude do rival. “É ridículo o Flamengo acionar o governador – que está com coronavírus. Se fizer isso, ele (Flamengo) está preparando outra tragédia (em referência ao incêndio no Ninho do Urubu), mas agora calculada”, criticou.
O retorno do futebol, baseado em protocolos de saúde e segurança, depende da avaliação das autoridades de saúde e do Poder Executivo. Entretanto, vários governantes dos estados brasileiros, como de São Paulo e Rio de Janeiro, estão priorizando o isolamento social, medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esses documentos, além de tudo, ainda estão em estágio embrionário, podendo ser alterados a qualquer momento em função do avanço da Covid-19 bem como da tecnologia para combatê-la. A decisão mais correta no momento, segundo os médicos e infectologistas, é aguardar.