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Precoce e recordista: quem é o técnico que pode findar o jejum do Sporting

Rúben Amorim é a contratação mais cara entre técnicos da história de Portugal; com ele, Sporting tem invencibilidade e pode ser campeão após 19 anos

Causou enorme frisson em Portugal um anúncio incomum feito pelo Sporting em 5 de março de 2020, a poucas rodadas do fim do Campeonato Português. O tradicional clube de Lisboa informava à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliário, espécie de órgão regulamentador de transferências, o pagamento de 10 milhões de euros (65,6 milhões de reais à época) ao Sporting Braga pela contratação do técnico Rúben Amorim, então com 35 anos e apenas 24 jogos disputados na carreira.

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O valor recorde no país envolvendo um treinador soava como um ato de desespero para um clube desacostumado a títulos recentes, vivendo uma das piores décadas de sua história. “Não tenho problema em investir no treinador certo. Contratamos um grande treinador, mas não um milagreiro”, avisava o presidente do clube, Frederico Varandas, ao lado de Amorim, logo na apresentação em Alvalade.

Pouco mais de um ano depois, o Sporting, de Rúben Amorim, fez exatamente o “milagre” improvável acontecer e pode confirmar nesta terça-feira, 11, um título que não chega há quase duas décadas. A equipe enfrenta o Boavista, às 16h30 (de Brasília), em casa, e depende apenas de si para conquistar com duas rodadas de antecedência o Campeonato Português. O último título da competição ocorreu em 2002 com nomes como Jardel, Paulo Bento e Sá Pinto.

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Amorim, apesar da precocidade, já fez história no país. Na última quarta, quando venceu o Rio Ave, atingiu a incrível marca de 31 partidas de invencibilidade no campeonato local, um aproveitamento de 85% dos pontos disputados. Os maiores registros invictos na liga alcançavam, no máximo, 30 jogos: Jimmy Hagan (1972/73) e John Mortimore (1977/78), pelo Benfica, além de André Villas-Boas (2010/11) e Vítor Pereira (2012/13), ambos pelo Porto.

Formado como jogador pelo Belenenses, clube onde ficou de 2003 e 2008, Rúben Amorim tem a maior parte de sua história ligada ao Benfica, de 2008 a 2017. Só saiu para empréstimos ao Sporting Braga e ao Al-Wakrah, do Catar. A carreira acabou abreviada por problemas no joelho, em 2017. Ainda jogou a Copa do Mundo de 2010.

Na infância, curiosamente, adotou o hóquei sobre patins como esporte favorito, até os sete anos. Era goleiro de um pequeno clube de Lisboa, o FC Alverca, mas uma decepção envolvendo um treinador acabou o levando ao futebol.

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“Pelo fato das lesões não o largarem, na parte final da carreira começou a pensar seriamente em virar técnico. Surgiu tudo muito rápido, foi uma surpresa. Sempre teve relação muito próxima com Jorge Jesus como jogador, isso o influenciou muito na decisão”, conta a PLACAR Virgílio Amorim, pai do treinador.

O ex-treinador do Flamengo, principal inspiração de Amorim, já admitiu publicamente que foi o jogador que mais trabalhou em toda a carreira. “Não houve quem treinasse mais tempo comigo, ele tem características especiais”, disse Jesus, hoje de volta ao rival Benfica, em entrevista ao Sportv, no mesmo dia em que o pupilo era anunciado pelo Sporting.

Ruben Amorim sob o comando de Jorge Jesus, em 2014 -
Ruben Amorim sob o comando de Jorge Jesus, em 2014 – Mike Hewitt/Getty Images

Amorim começou a carreira como técnico no Casa Pia, pequeno clube lisboeta, que disputava a terceira divisão. Logo nos primeiros dias, impôs que mudassem toda a rotina de treinamentos, que aconteciam de noite pelo fato da maior parte dos jogadores também conciliarem o futebol com outros trabalhos. Ele dizia que o desempenho dos atletas evoluiria treinando pela manhã e descansando à noite.

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Providenciou do próprio bolso tanques de gelo para que os atletas fizessem a recuperação muscular ao final de cada treinamento. “Ele mudou tudo: vestiário, rotina de alimentação, era tudo controlado em um ambiente que não estava acostumado. Colocou um grupo de funcionários para cuidar do scout dos jogadores. Revolucionou o clube”, conta o ex-atacante brasileiro Evandro Roncatto.

Roncatto conhecia Amorim da passagem pelo Belenenses, entre 2007 e 2008. Ambos trabalharam juntos com Jorge Jesus, de quem se inspirou para a construção de toda a metodologia de treinamentos. “Tudo dele é muito parecido com o Jesus. Os treinos, principalmente. Ele uniu isso ao profissionalismo que já tinha e a bom relacionamento. Ele arrumou o time em um 3-4-3, o Casa Pia jogava de maneira incrível, muito diferente dos times da divisão. Bem próximo já do que faz hoje no Sporting”, explica.

No clube, ainda ficou marcado pela preocupação em sempre ajudar nos bastidores. O zagueiro da equipe, o português Deritson, tinha três filhos e ainda conciliava os treinamentos com um trabalho noturno no McDonald’s. Desde então, passou a pagar o seu aluguel e ajudá-lo financeiramente.

Amorim em polêmica expulsão durante partida contra o Porto -
Amorim em polêmica expulsão durante partida contra o Porto – Pedro Fiúza/Getty Images

“Os jogadores se unem a ele de uma maneira muito forte. Se doam mais pela equipe pela sensibilidade que tem, pelo modo como saber falar com cada um. Essa situação do Deritson mexeu muito com todos. No fim, todos ajudaram ele, também”, lembra Roncatto.

Mesmo com bons resultados, o fim do trabalho no Casa Pia chegou de maneira inesperada. Ainda em formação e sem o nível exigido para comandar a equipe nos jogos, acabou denunciado, multado e suspenso por um ano pela Associação Nacional de Treinadores por passar instruções a equipe em uma das partidas. A punição foi anulada e o Casa Pia conquistou, já sem ele, o título e o acesso. Os jogadores ligaram do vestiário para o treinador oferecendo o título.

“Houve muita força para não seguisse trabalhando, estava sujeito a pegar anos de suspensão. A legislação mudou um pouco por causa do Ruben Amorim, são coisas muito morosas aqui em Portugal. Por ter sido um jogador internacional, acabou sendo reconhecido no primeiro nível”, argumenta o pai do jogador.

Rúben acabou acertando a sua ida para a equipe B do Sporting Braga. Em poucos meses, assumiu o time principal, após a saída de Ricardo Sá Pinto. Conquistou o título da Copa da Liga de Portugal, com uma vitória no final do jogo contra o Porto e chegou ao Sporting meses depois.

Em março, menos de um ano após o anúncio, o Sporting acertou a renovação contratual com o treinador até 2024. O acordo, além da extensão, também aumentou a sua multa rescisória, que passou a ser de 30 milhões de euros (191 milhões de reais). Na liga portuguesa, o time construiu a melhor defesa, com apenas 15 gols sofridos, além do artilheiro, o atacante português Pedro Gonçalves, autor de 18 gols. Cinco brasileiros fazem parte da equipe, o principal destaque é o meia Matheus Nunes, desconhecido no país.

Agora, a três partidas para o fim do Campeonato, falta pouco para consolidar um título com símbolo de renovação. A missão de se manter invicto, curiosamente, passará pelo mestre, Jorge Jesus, a quem enfrentará na próxima rodada, no estádio da Luz. A partida está marcada para o dia 15. Posteriormente, o time encerra contra o Marítimo.

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