Por que Pelé e Maradona nunca conquistaram a Bola de Ouro
Brasileiro e argentino apenas receberam réplicas honorárias, já depois de aposentados, numa correção histórica por parte da 'France Football'
Pelé e Maradona, dois dos maiores jogadores da história do futebol nunca receberam a Bola de Ouro, prêmio oferecido ao melhor jogador do ano desde 1956 pela revista France Football, cuja edição de 2021 ocorrerá na próxima segunda-feira, 29, em Paris. Craques dominantes no cenário mundial em suas épocas, o brasileiro e o argentino foram ignorados na premiação, apesar do destaque em Copas do Mundo e, no caso de Maradona, no cenário europeu, atuando pelo Napoli. Há, claro, uma explicação para isso: o fato de não serem europeus.
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Criado no fim da década de 50 pela revista francesa, o prêmio é o mais longevo e tradicional para escolher o melhor jogador do mundo em uma temporada. Faz companhia aos também prestigiosos The Best, da Fifa (criado em 1991 com o nome Melhor Jogador do Mundo e reativado em 2016) e o prêmio da World Soccer, fundado em 1982. Entre 2009 e 2015, a Bola de Ouro passou a ser entregue em parceria com a Fifa.
É, portanto, um troféu renomado, almejado por todos os craques, mas que apresenta uma falha admita pelos próprios organizadores: o fato de ter ignorado não-europeus por quase quarenta anos. Na verdade, três jogadores que não nasceram na Europa venceram o prêmio no prêmio, mas todos eles possuíam a cidadania europeia: Alfredo Di Stéfano, argentino naturalizado espanhol, que venceu em 1957 e 1959, enquanto jogava pelo Real Madrid, Omar Sivori, argentino naturalizado italiano, Bola de Ouro de 1961, jogando pela Juventus, e Eusébio, português nascido em Moçambique, que levou o prêmio em 1965 como estrela do Benfica.
Pelé era 100% brasileiro e só jogou na Europa para conquistar a Copa do Mundo de 1958, na Suécia, encantar em excursões (tradicionais na época) e levar o Santos ao topo do mundo nos Mundiais de Clubes de 1962 e 1963, e sofrer no Mundial de 1966, na Inglaterra. Nem mesmo a dominância do Brasil em cenário mundial na década de 60, e os mais de 1.000 gols e revolução física e técnica promovida pelo Rei do Futebol, fizeam a France Football abandonar sua visão eurocêntrica.
Diego Maradona, cuja morte completa exatamente um ano nesta quinta-feira, 25 de novembro, brilhou anos depois em um mundo já mais conectado. O camisa 10 se transferiu ao Barcelona com apenas 22 anos e atuou em alto nível, apesar da turbulenta passagem pelo time catalão. Foram, no entanto, os sete anos no Napoli, que elevaram o clube ao nível de grandes potências, e as participações nas Copas de 1986 e 1990 que alçaram Maradona ao posto de melhor do mundo. No entanto, a mudança no formato do prêmio só veio quando Maradona já vivia sua derrocada.
Em 1995, a France Football convidou Maradona a receber uma Bola de Ouro “pelos serviços prestados no futebol” e anunciou que, a partir de então, não-europeus poderiam concorrer à honraria. Naquele mesmo ano, o liberiano George Weah levou o prêmio pelo Milan. Mas o grande mea-culpa aconteceu apenas em 2016, na edição de 50 anos do prêmio, quando a revista “corrigiu” o regulamento antigo e elaborou uma lista alternativa.
Se Pelé fosse contemplado em sua época, seria o maior vencedor com sete troféus, hipoteticamente conquistados em 1958, 1959, 1960, 1961, 1963, 1964 e 1970. Maradona, por sua vez, teria levado a Bola de Ouro em 1986 e 1990. Os brasileiros Garrincha e Romário também teriam vencido, em 1962 e 1994, respectivamente, assim como o argentino Mario Kempes, em 1978.
Desde a mudança, o Brasil venceu a Bola de Ouro com Ronaldo (1997 e 2002), Rivaldo (1999), Ronaldinho (2005) e Kaká, o último, em 2007. Neymar ainda persegue o prêmio, mas não está entre os concorrentes de 2021 (foi lembrado apenas entre os finalistas do The Fifa The Best). O brasileiro naturalizado Jorginho, do Chelsea, capa da PLACAR de novembro, está entre os principais cotados.
A lista de todos os vencedores do prêmio:
2020 – Não houve premiação
2019 – Lionel Messi (Barcelona/Argentina)
2018 – Luka Modric (Real Madrid/Croácia)
2017 – Cristiano Ronaldo (Real Madrid/Portugal)
2016 – Cristiano Ronaldo (Real Madrid/Portugal)
2015 – Lionel Messi (Barcelona/Argentina)
2014 – Cristiano Ronaldo (Real Madrid/Portugal)
2013 – Cristiano Ronaldo (Real Madrid/Portugal)
2012 – Lionel Messi (Barcelona/Argentina)
2011 – Lionel Messi (Barcelona/Argentina)
2010 – Lionel Messi (Barcelona /Argentina)
2009 – Lionel Messi (Barcelona/Argentina)
2008 – Cristiano Ronaldo (Manchester United/Portugal)
2007 – Kaká (Milan/Brasil)
2006 – Fabio Cannavaro (Real Madrid/Itália)
2005 – Ronaldinho (Barcelona/Brasil)
2004 – Andriy Shevchenko (Milan/Ucrânia)
2003 – Pavel Nedved (Juventus/Rep. Checa)
2002 – Ronaldo Nazário (Real Madrid/Brasil)
2001 – Michael Owen (Liverpool/Inglaterra)
2000 – Luís Figo (Real Madrid/Portugal)
1999 – Rivaldo (Barcelona/Brasil)
1998 – Zinedine Zidane (Juventus/França)
1997 – Ronaldo Nazário (Inter de Milão/Brasil)
1996 – Mattias Sämmer (Borussia Dortmund/Alemanha)
1995 – George Weah (Milan/Libéria)
1994 – Hristo Stoichkov (Barcelona/Bulgária)
1993 – Roberto Baggio (Juventus/Itália)
1992 – Marco Van Basten (Milan/Holanda)
1991 – Jean-Pierre Papin (Marselha/França)
1990 – Lothar Matthäus (Inter de Milão/Alemanha)
1989 – Marco Van Basten (Milan/Holanda)
1988 – Marco Van Basten (Milan/Holanda)
1987 – Ruud Gullit (Milan/Holanda)
1986 – Igor Belanov (Dínamo Kiev/URSS)
1985 – Michel Platini (Juventus/França)
1984 – Michel Platini (Juventus/França)
1983 – Michel Platini (Juventus/França)
1982 – Paolo Rossi (Juventus/Itália)
1981 – Karl-Heinz Rummenigge (Bayern Munique/Alemanha)
1980 – Karl-Heinz Rummenigge (Bayern Munique/Alemanha)
1979 – Kevin Keegan (Hamburgo/Inglaterra)
1978 – Kevin Keegan (Hamburgo/Inglaterra)
1977 – Allan Simonsen (B. Moenchengladbach/Dinamarca)
1976 – Franz Beckenbauer (Bayern Munique/Alemanha)
1975 – Oleg Blockhine (Dínamo Kiev/URSS
1974 – Johann Cruijff (Barcelona/Holanda)
1973 – Johann Cruijff (Barcelona/Holanda)
1972 – Franz Beckenbauer (Bayern Munique/Alemanha)
1971 – Johann Cruijff (Ajax/Holanda)
1970 – Gerd Müller (Bayern Munique/Alemanha)
1969 – Gianni Rivera (Milan/Itália)
1968 – George Best (Manchester United/Inglaterra)
1967 – Florian Albert (Ferencváros/Hungria)
1966 – Bobby Charlton (Manchester United/Inglaterra)
1965 – Eusébio (Benfica/Portugal)
1964 – Dennis Law (Manchester United/Escócia)
1963 – Lev Iashin (D. Moscovo/URSS)
1962 – Josef Masopust (Dukla Praga/Checoslováquia)
1961 – Omar Sivori (Itália/Juventus)
1960 – Luis Suárez (Barcelona/Espanha)
1959 – Alfredo Di Stéfano (Real Madrid/Espanha)
1958 – Raymond Kopa (Real Madrid/França)
1957 – Alfredo Di Stéfano (Real Madrid/Espanha)
1956 – Stanley Matthews (Blackpool/Inglaterra)