Perto do Flamengo, De La Cruz venceu trombose e sofre com lesão crônica
Queridinho de Gallardo, atacante uruguaio superou trombose em 2021 e luta contra constantes problemas no joelho
Encaminhado para vestir a camisa do Flamengo a partir de 2024, em uma operação de 16 milhões de dólares (78,5 milhões de reais pela cotação atual), Nicolas de la Cruz fará o clube carioca comprometer praticamente metade do investimento de 160 milhões de reais previsto inicialmente em reforços. Alvo do Rubro-Negro em todas as últimas janelas de transferências, a chegada dele põe fim a uma frustração antiga no mercado.
Desde 2017 no River Plate, ele nem de longe viveu a mesma dura realidade do irmão mais velho, o meio-campista Carlos Sánchez, também ex-jogador dos Millonarios. Não passou fome como conta Sánchez, mas também carrega um histórico de dificuldades no futebol.
Aos 26 anos, o reforço mais badalado da temporada brasileira já superou uma trombose venosa profunda e preocupa por um longo histórico de problemas físicos, o principal deles em decorrência de uma inflamação considerada crônica na articulação do joelho esquerdo, tratada como algo complexo por médicos do River Plate.
Nicolás de la Cruz em 2023:
⚔️43 jogos
⚽10 gols
🅰️6 assistências
🔑78 passes decisivos (!)
👟76 chutes (34 no gol)
🦾209 bolas recuperadas (!)
🆚78 desarmes (!)
💯Nota Sofascore 7.35• Maior Nota do River no ano.
• 2ª maior Nota das Eliminatórias (atrás de Messi).🇺🇾👀 pic.twitter.com/qaDlLvOtvw
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) December 13, 2023
“Nico tem uma patologia no joelho que já existe há muito tempo”, resumiu o técnico Marcelo Gallardo em entrevista coletiva concedida em 2022, quando questionado sobre as constantes ausências do jogador.
Se as lesões pesam contra – foram sete pausas para tratamentos no ano, mais de 100 dias parado -, De La Cruz tem como característica a fama de “motorzinho” e de poder atuar bem em qualquer função no meio-campo.
Marcou dez gols e distribuiu seis assistências em 2023, contabilizando jogos por Uruguai e River, com números significativos de desarmes, bola recuperadas e a segunda maior avaliação em atuações nas Eliminatórias, atrás somente de Messi.
Um enorme lastro de lesões, mas um potencial que parece pronto para voar mais alto. “De La Cruz tem um problema que o obriga a parar algumas vezes por ano. Isso foi seguramente o que o impediu de sair até agora. Tem nível para jogar na Europa, mas não condições físicas. Por isso o Flamengo parece uma boa oportunidade”, define o jornalista Martín Blotto. PLACAR conta um pouco mais sobre a trajetória do reforço.
A insistência do ‘pai’ Gallardo
Gallardo e Nico De La Cruz nutriram durante os anos juntos uma relação de pai e filho. O jogador credita ao antigo treinador, hoje no Al-Ittihad, todo o mérito por ter deslanchado na carreira depois de um início bem pouco animador no River.
O camisa 11 chegou aos Millonarios em 2017, após se destacar pelo Liverpool, do Uruguai. Fez só duas partidas no primeiro ano pelo clube. Em 2018, ficou afastado por quase cinco meses devido a uma grave lesão no joelho e não conseguia recuperar espaço.
Gallardo entendia que precisava reinventá-lo fisicamente. Brigava nos bastidores com profissionais do clube para que trabalhassem no ganho de massa muscular e dessem atenção especial ao talentoso jovem uruguaio.
A insistência dele foi premiada e a mudança de chave, curiosamente, aconteceu no próprio Brasil, em uma partida em 3 de abril de 2019, diante do Internacional, no Beira-Rio.
De La Cruz entrou naquele jogo e marcou um dos gols, mostrando uma nova evolução física, agora aliada ao talento técnico. Começou ali a consolidação como principal opção para a lacuna aberta pela saída de Pity Martínez, negociado com o Atlanta United.
“A pressão estava me esmagando. Sentia algo pesado nas costas. E o ‘clique’ chegou à medida que comecei a entender o que é o mundo River e o lugar onde eu estava. Eu não poderia simplesmente ficar. Naquele dia, no Brasil, senti alívio e sabia que era a hora”, contou o atleta ao Olé em novembro de 2020.
Naquela temporada, marcou seis gols e distribuiu seis assistências em 35 partidas. Chegou à final continental contra o Flamengo como o jogador que mais desarmou no torneio: 36 vezes, além de três gols na competição.
“Gallardo é uma pessoa muito especial para mim. Ele me apoiou em situações cruciais da minha vida pessoal. Fora do futebol, ele esteve nos momentos em que tive lesões, quando tive uma trombose, ele sempre estava presente. Essas coisas me marcaram. Ele estava em um momento da minha vida em que só havia sete ou oito pessoas”, resumiu o jogador, também ao periódico argentino.
Não a toa, carrega o apelido em Nuñez de “o mimado de Gallardo”.
Posicionamento, trombose e joelho
De La Cruz conta sobre a fundamental insistência de Gallardo, mas também carrega a influência de um outro técnico, o ex-meio-campista Rubén Paz. O compatriota foi considerado um craque no Uruguai e conselhou o pupilo a ler taticamente o jogo de uma forma diferente, sempre próximo ao árbitro, sem adotar posição fixa.
“Entendi uma coisa do jogo que até hoje ainda me beneficio um pouco: ele sempre me disse para me posicionar onde o árbitro está, porque ele sempre ocupa os espaços vazios. Até hoje, quando jogo nessa posição, olho para o árbitro e fico a um ou dois metros de distância”, afirmou.
Em 2021, no que considera o melhor ano da carreira, impulsionado por um recorde de partidas – 48 jogos, 11 gols e sete assistência – ele sofreu um duro golpe: uma trombose venosa profunda, sendo encaminhado a médicos especialistas. Ficou três meses em recuperação.
“Ele sofreu de fato com a trombose, mas o que mais o incomoda é a lesão crônica no joelho esquerdo. Ele precisou por algumas vezes parar para retirar um líquido que se acumula no joelho com a alta intensidade. Ele parava por uma partida, por duas… para a sinovite (inflamação no tecido que reveste as articulações do corpo) não há uma solução por enquanto. Ele compensou fortalecendo a musculatura para que não sofra tanta exigência”, explica o jornalista Martín Blotto.
Em 2022, evitou novamente uma cirurgia por temor de ter comprometida a participação na Copa do Mundo do Catar. Chegou a ser submetido a um tratamento com uso de células-tronco para tentar reconstruir ar articulações afetadas, mas começou 2023 preocupando. Em uma das primeira entrevistas, o técnico Martín Demichelis lamentou os constantes problemas físicos do jogador.
Até enfrentar o Fluminense, em maio, o jogador só tinha feito oito jogos no ano, sendo substituído em sete deles. Dos 37 pelo River em 2023, só em nove deles atuou nos 90 minutos.
Preocupa ainda o fato de que o time argentino jogou apenas 50 jogos no ano contra 76 do Flamengo.
Adeus, enfim
A relação entre River e De La Cruz está próxima do fim, mas não deve ser ruidosa. Casou boa impressão entre dirigentes o fato de ter optado por estender o contrato em 2022, mesmo procurado por diversos clubes.
“Ele renovou quando tinha tudo para ficar livre, sem contrato. Foi por pura gratidão e por isso há um acordo bem claro agora. O River sabe que precisa retribuir”, afirma Blotto
A liberação é só questão de tempo. O time argentino tem 50% dos direitos econômicos, enquanto a outra metade pertence ao Liverpool, do Uruguai.
Para fazer parte da nossa comunidade, acompanhe a Placar nas mídias sociais.
