Pelé 80 anos: Baquinho, o início de tudo
Foi no clube de Bauru, no interior de São Paulo, que o maior craque de todos os tempos nasceu para o futebol, em 1953
O mundo do futebol já se prepara para a festa: no próximo dia 23 de outubro, Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, completa 80 anos de vida. A revista PLACAR, apenas três décadas mais jovem e de história indissociável à do camisa 10 – basta dizer que a edição inaugural, de março de 70, trazia Pelé na capa e vinha com um brinde, uma moeda com a efígie do craque – preparou uma edição especialíssima, histórica, que traz um compilado de grandes reportagens sobre o Rei do Futebol, escolhidas e comentadas por ele próprio. Daqui até o grande dia, PLACAR publicará diariamente em seu site algumas das reportagens da edição de setembro, que está nas bancas e disponível para dispositivos iOS e também Android. Boa leitura!
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Toda história tem um princípio. A de Pelé começou no interior de São Paulo. Aos 13 anos, ele passou a atuar no infantojuvenil do Bauru Atlético Clube. Os meninos do BAC deram origem ao Baquinho. O time durou apenas dois anos — tempo suficiente para se sagrar bicampeão da Liga Bauruense, com direito a várias goleadas e grandes exibições, principalmente do mirrado Edson Arantes do Nascimento, o filho de Dondinho e de dona Celeste.
Em fevereiro de 1989, PLACAR recuperou os primeiros passos do Rei e dos outros dez garotos daquele grupo de camisa listrada. Osmar, o capitão, se tornara diretor da Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa); Grillo era gerente de uma fábrica de tecidos no Rio de Janeiro; Maninho, supervisor do Banco do Brasil, entre outros destinos tão diferentes. A reportagem, escrita por Kátia Perin, com a colaboração de Edson Rossi, ganhou o Prêmio Esso (entregue de 1955 a 2014, era considerado a maior premiação do jornalismo brasileiro). Nas próximas páginas, você relê o emocionado texto de abertura da publicação original e relembra algumas das fotos que ajudam a narrar os pontapés iniciais do maior jogador de futebol de todos os tempos.
Prazer, Baquinho
Como alguns moleques de Bauru fizeram história com um futebol que era pura magia e virou a principal diversão dos fins de semana
(Publicado em 10 de fevereiro de 1989)
A primeira ideia era formar um time infantojuvenil para fazer, com meninos, o que os profissionais já não conseguiam: arte com a bola nos pés. João Fernandes, diretor e provedor do Bauru Atlético Clube, o BAC, convidou Waldemar de Britto, meia-direita da seleção brasileira de 1934, para ser o técnico. E, em setembro de 1953, o Diário de Bauru publicou um anúncio, convidando as crianças da cidade — distante 345 quilômetros de São Paulo — para participarem da peneira. Cem peladeiros de 8 a 16 anos se apresentaram. Waldemar sentou-se no alto da arquibancada e de lá escolheu os melhores 25 garotos.
Menos de um mês depois, em 29 de outubro, o Baquinho (meninos do BAC) estreava contra o Gérson França F.C.: 3 a 3. Na partida seguinte, porém, a equipe começou a mostrar do que seria capaz. Ganhou do São Paulo por 21 a 0, um gol a cada três minutos. Um crioulinho mirrado, que mais parecia a mascote, foi um dos artilheiros com sete gols: Pelé. Na época, o treinador Waldemar se orgulhava ao constatar que, se outro time jogasse sozinho contra estacas de madeira, já seria difícil alcançar o mesmo resultado.
Mas não havia limites para o Baquinho. Entre amistosos e o campeonato da Liga Bauruense de 1954, disputou 33 partidas e marcou 148 gols, uma média de 4,5 por jogo. A seis rodadas da final, era campeão. Como presente pelo título, o Baquinho atuou em São Paulo, na preliminar de Associação Desportiva Araraquarense (ADA) x América de São José do Rio Preto. Goleou o Flamengo de Vila Mariana por 12 a 1. Depois que saiu de campo, metade do público foi embora: a partida principal não poderia ser melhor.
Chegou ao bicampeonato em 1955. Mas, no ano seguinte, a equipe se desfez. Pelé ainda jogou alguns meses num time de futebol de salão e viajou para o Santos. A infância havia passado. Logo o clube encerrou suas atividades no esporte. Tempos depois, acabou dividindo pela metade o campo — cenário de tantas histórias do Baquinho — para construir cinco piscinas. Hoje elas atraem mais meninos que a bola. Na parede do restaurante, um pôster amarelado com o time de 6 de abril de 1955 foi tudo o que restou como lembrança do nascimento de um rei.
Publicado em PLACAR de junho de 2020, edição 1467