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Opinião: Fifa confirma que a era do streaming chegou

Nova plataforma da entidade terá jogos clássicos de Copa do Mundo, além de séries e documentários exclusivos; ação é um movimento histórico e simbólico

O lançamento do Fifa Plus, plataforma da principal entidade de futebol do mundo para distribuição de conteúdos confirma o óbvio: o futuro (e o presente) do esporte passam pelo streaming. Para além de uma constatação óbvia, há uma inflexão importante neste momento. Afinal, o futebol foi um produto perfeito para a comunicação do século 20 e os projetos de expansão da comunicação de massa reguladas pelos estados. O streaming é o século 21, com distribuição descentralizada, através de dados que circulam pela neutralidade da rede da internet, sob a qual a interferência dos governos acaba sendo mais limitada.

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Neste novo cenário, o consumo é pensado para atingir audiências que têm possibilidade de customizar suas rotinas e seu entretenimento. Não são mais reféns de uma programação única típica da comunicação de massa, que lhes impunha narrativas. O futebol precisará se descobrir como um produto também de nichos, ainda que seu alcance seja grande.

A postura absolutista do futebol sempre foi, em muito, bancada pela própria Fifa. O crescimento da federação sempre foi autocentrado. A despeito dos avanços de comportamentos e tecnologias, a instituição nos acostumou a decisões conservadoras, desconectadas do novo e que pretendiam impor a força do esporte a quem estivesse ao redor. Vejamos a demora que houve para adoção dos primeiros usos tecnológicos no esporte, que ainda são bem escassos, ao contrário de outras modalidades que cresceram suas audiências nas duas décadas deste século, justamente por aproveitarem melhor as novas dinâmicas.

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Quando a Fifa faz este pequeno movimento e lança o Fifa Plus, não deixa de ser um marco, pois sinaliza um posicionamento de se tornar ela mesma uma distribuidora de conteúdo e não só uma licenciadora que entrega sua matéria prima a TVs do mundo inteiro. Dado o histórico da entidade, ainda é difícil saber se é uma decisão que será mantida, se terá investimentos pesados e se realmente indica um novo caminho de negócio. Mas é no mínimo simbólico de um tempo novo. Há poucos anos, seria impensável uma atitude assim.

Em 2018, um grupo de investidores liderados pelo conglomerado japonês Softbank fez uma oferta de 25 bilhões de dólares (117 bilhões de reais) para comprar 49% dos direitos sobre torneios da Fifa, lhes garantindo o acesso para revolucionar o esporte. Um movimento que tinha semelhanças ao que a Liberty Media fizera ao comprar a Formula 1 do conservador Bernie Ecclestone, um ano antes, ajustado às circunstâncias associativas do futebol. O negócio não prosperou. De lá pra cá, mesmo com a pandemia, a Formula 1 vem aumentando receitas e um dos principais segredos tem sido a estratégia de desenvolvimento e distribuição dos diversos conteúdos escondidos dentro da competição.

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Também por conta desse perfil bastante conservador, podemos ter certeza que o Fifa Plus não nasce para revolucionar nada. É natural que, além de aproveitar seu valioso arquivo histórico, os conteúdos desta nova plataforma sejam mais isentos, pouco polêmicos e celebrativos do que interessa à entidade, que segue tendo papel político na economia do esporte. Fifa Plus não será um Netflix, uma HBO Max ou Amazon Prime Video. E tudo bem.

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Sim, neste novo universo de consumo de esporte, as narrativas “chapa branca” também são muito válidas e cumprem um papel de desenvolver um cardápio vasto de possibilidades para quem quer assistir. Entretenimento é assim, o negócio é esse. Quanto mais opção, mais certeza de que você será consumido. Cada plataforma neste negócio assumirá o papel de oferecer opções de linguagens para nós, que amamos esporte, escolhermos o que queremos. Uma hora, um entretenimento leve vai cair bem e o Fifa Plus deverá ser forte nisso. Em outra hora, alguém há de querer acompanhar a investigação de um escândalo. Ou, quem sabe, os bastidores de uma conquista, a história por trás de uma rivalidade. Reviver a nostalgia de tempos que não voltam, ou mesmo a revelação de tabus que só o tempo permite que saiam das sombras…

O esporte é rico demais em possibilidades de gerar histórias pra que a gente siga apenas discutindo o placar do jogo e a próxima rodada. Este futuro já chegou e o Fifa Plus é mais uma confirmação de que nada resistirá ao novo. O futebol seguirá mudando nesta década tudo que não mudou em 100 anos para se adequar às premissas do século 21. Aproveitemos.

Bruno Maia, CEO da Feel The Match e executivo de inovação no esporte. Autor do Livro “Inovação é o Novo Marketing”

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