O que explica a ascensão meteórica do Amazonas Futebol Clube
Com apenas quatro anos de vida, clube que leva o nome do estado ascendeu à Série B com título histórico e brilho do veterano atacante Sassá; leia matéria na íntegra
Poucos animais são tão emblemáticos para a fauna brasileira quanto a onça-pintada. No topo da cadeia alimentar, o maior felino do continente é costumeiramente avistado na Região Norte do país. O símbolo de força e velocidade é também a mascote do Amazonas Futebol Clube, equipe de Manaus que tem apenas quatro anos de existência e se sagrou campeã da Série C. Com o título, o clube estará na Série B em 2024, quebrando um jejum de dezessete anos – desde 2006, quando o São Raimundo jogou na Segundona, nenhum clube local chegava tão longe. Na PLACAR de novembro, já está disponível em nossa loja no Mercado Livre e nas bancas, explicamos a ascensão meteórica do Amazonas FC.
O esquadrão aurinegro que leva o nome do estado foi fundado em 23 de maio de 2019 para rivalizar com o Manaus, criado cinco anos antes, mas precisou de menos tempo para ganhar as manchetes. Com sede em Armando Mendes, bairro da periferia da capital amazonense, tornou-se o primeiro do estado a levantar um troféu nacional. “Eu espero que o futebol continue crescendo por aqui, nosso estado merece mais destaque”, diz Ibson, ex-jogador de Flamengo e Corinthians que atuou pelo Amazonas em 2022, pouco antes de se aposentar, e hoje trabalha como assistente técnico do clube.
A ascensão meteórica do Amazonas começou no próprio ano de fundação, ao subir para a elite estadual logo na primeira tentativa. Em seguida, precisou superar a morte do técnico Ruy Scarpino, vítima de Covid-19. A virada de chave veio com a classificação para a Série D do Brasileirão. “O clube tinha dinheiro, mas não tinha organização. Tudo mudou em 2022, com a contratação de Ângelo Márcio para ser executivo de futebol. Ele faz toda a diferença”, opina a jornalista Larissa Balieiro, da Agência Esportiva LB.
Desde o início, velhos conhecidos do nosso futebol, como Maykon Leite, Marion, Eduardo Ramos e o atacante Walter, vestiram a camisa da Onça. “Muito da visibilidade veio com a contratação desses jogadores. Hoje em dia, em qualquer roda de conversa você escuta o nome do Sassá”, completa Pietra Telles, jornalista amazonense, citando a atual estrela do time, com passagens por Cruzeiro e Botafogo.
Na Série C, o Amazonas começou perdendo para o Brusque. A revanche contra a equipe catarinense veio justamente na melhor ocasião: a grande final. Ainda na primeira fase, anotou uma sequência invicta de dez jogos e terminou na terceira colocação geral. Na segunda fase, liderou o Grupo B e garantiu a vaga na Segunda Divisão – despachando equipes mais tradicionais, como Paysandu, Volta Redonda e Botafogo-PB. Na decisão, empate sem gols em Manaus e vitória por 2 a 1 em Brusque. O jogo que garantiu o acesso, contra o Botafogo-PB, teve 44 509 torcedores lotando a Arena da Amazônia – o segundo maior público do estádio, à frente até mesmo de jogos da Copa do Mundo de 2014, como o clássico entre Itália e Inglaterra.
A conquista da Série C representou a redenção para Sassá. Aos 29 anos, ele garante ter abandonado as inúmeras polêmicas que cercaram sua carreira. “São coisas da idade e ficaram para trás. Hoje vivo um novo momento”, afirmou em entrevista a PLACAR. O atacante terminou a temporada feliz da vida, com o acesso, o título e a artilharia do campeonato, com 18 gols em 24 jogos, inclusive um na final. “O Amazonas é um clube formado por pessoas simples, trabalhadoras e dedicadas, e que, apesar do pouco tempo de vida, já alcançou feitos enormes. Nosso time é muito bom e juntos conseguimos fazer história. O que temos recebido de carinho e apoio é surreal.”
O momento atual do futebol amazonense teve início em 2013, quando ex-dirigentes do tradicional Nacional resolveram criar o Manaus, que seria pentacampeão estadual entre 2017 e 2022. O caçula aproveitou-se do fato de os clubes tradicionais estarem em baixa para se estabelecer como uma potência regional. A ascensão do Gavião do Norte despertou o interesse político no futebol, tanto municipal quanto estadual, e os governos passaram a turbinar o clube. Nesse contexto, nasceu o Amazonas – sem nenhum apoio oficial. Até o ano passado, era financiado pelo presidente do próprio clube e seus apoiadores. “Só o Manaus recebia verba”, destaca Larissa.
Este ano, a prefeitura de Manaus passou a investir o mesmo valor nos dois times: 1 milhão de reais. E o governo estadual destinou inéditos 7,5 milhões de reais entre os clubes. O Amazonas também se beneficiou de uma emenda parlamentar para lá de controversa da deputada estadual Joana Darc no valor de 3,5 milhões de reais. A proposta original era destinar o dinheiro para o projeto Guardiões do Futebol, para a realização de peneiras no interior do estado, mas acabou se tornando uma importante fonte de renda para a Onça-Pintada.
Jefferson Oliveira, presidente do Rio Negro, questiona tudo o que aconteceu: “O Amazonas recebe muita emenda. A folha salarial é desconhecida. Alguém sabe quanto ganha o Sassá?”. O clube aurinegro, por sua vez, diz utilizar a verba para “aquisição de materiais e a implantação dos núcleos em alguns locais”. Às vésperas da publicação desta reportagem, a deputada Joana Darc foi notificada pelo Tribunal de Contas do Amazonas para esclarecer a tramitação da emenda.
Larissa também explica que “o dinheiro público só vai para os clubes que estiverem regularizados e aptos a receber. É preciso enviar uma série de documentos. Assim, os clubes novos têm mais facilidade do que os tradicionais”. Jefferson Oliveira confirma: “O Rio Negro tem problemas com certidões e, por isso, não consegue participar dos editais. Temos cerca de 3 milhões de dívidas, não chega a ser muito. Parcelamos algumas coisas, mas só recebemos cerca de 170 000 reais para disputar o Campeonato Amazonense”.
A onda de renovação tem outra cria. O Manauara foi fundado no fim de 2020 pelo empresário Marcus Souza e já vem colhendo frutos. O Manamáquina, como é conhecido, foi finalista da última edição do Estadual, perdendo o título justamente para o Amazonas. Outro efeito colateral positivo dessa agitação é movimentar um dos principais candidatos a elefante branco da Copa de 2014, a Arena da Amazônia, cuja construção custou mais de 600 milhões de reais. A partir da segunda fase da Série C, a Onça mandou suas partidas no estádio, com média de público de 20 752 torcedores.
E a euforia só tende a crescer, com a participação na B de 2024. O Amazonas garante que não quer cair de volta e promete carregar a paixão de toda a Região Norte pelo futebol. Por que não sonhar com a torcida da Onça-Pintada na elite nacional?
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