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O polêmico papel de Piqué na questão Catalunha x Espanha

Neste domingo, zagueiro votou no referendo de independência da Catalunha, jogou pelo Barcelona e, chorando, cogitou deixar a seleção espanhola

Gerard Piqué é, sem dúvidas, o jogador de futebol mais controverso da Espanha – e da Catalunha. Apesar de ser reconhecido como um dos melhores zagueiros do planeta e de ter conquistado uma Copa do Mundo e uma Eurocopa pela seleção espanhola, o jogador do Barcelona está longe de ser uma unanimidade no país. Os motivos: a rivalidade intensa com o Real Madrid e seu amor incondicional pelo Barcelona e, sobretudo, pela Catalunha, região onde nasceu e que neste domingo realiza um tumultuado referendo de independência – não autorizado pelo Tribunal Constitucional da Espanha. Nesta tarde, Piqué chorou ao falar sobre os conflitos violentos e, pela primeira vez, ameaçou deixar a seleção espanhola. 

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Piqué sempre se disse favorável à realização do referendo de independência da Catalunha, embora nunca tenha se posicionado claramente a favor da separação. Posição idêntica adota o seu clube, que recentemente condenou “qualquer ação que atente contra a democracia, a liberdade de expressão e o direito a decidir” e neste domingo tentou adiar a partida contra o Las Palmas, no Camp Nou, vencida pelo Barcelona por 3 a 0.

A federação não aceitou o pedido do Barça e também de alguns de seus jogadores (incluindo Piqué) e o jogo ocorreu com portões fechados. Pouco antes da partida, o zagueiro votou e, claro, registrou o momento no Twitter – seu meio de comunicação favorito e onde também costuma postar suas provocações ao Real Madrid. “Votei. Juntos somos imparáveis em defesa da democracia”, escreveu.

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Lágrimas após a partida

Piqué não se escondeu após a partida deste domingo e se emocionou ao falar sobre a repressão da Guarda Nacional durante a votação. “Nós catalães não somos maus, só queremos votar. Podemos votar sim, não ou em branco, mas podemos votar. Com o Franquismo não se podia votar e esse é um direito que temos de defender. Sou e me sinto catalão e hoje mais do que nunca me sinto orgulhoso do povo catalão”, cravou – em castelhano, não em catalão, para que todo a Espanha entendesse.

Pela primeira vez, Piqué cogitou a possibilidade de deixar a seleção espanhola. “Se o treinador ou algum dirigente achar que eu sou um problema para a seleção não tenho nenhum problema em dar um passo ao lado e deixar a seleção antes de 2018”, disse. “Servir a seleção espanhola não é uma competição de patriotismo, quem vai não é mais patriota que os outros. Muitos jogadores se naturalizaram e não eram espanhóis, não sentiam o mesmo que outros. Jogar pela seleção é fazer o melhor possível para ganhar, é assim que eu entendo.”

Por fim, Piqué fez duríssimas críticas ao presidente espanhol Mariano Rajoy. “Estamos diante de um presidente que tem o nível que tem… Sai pelo mundo e não sabe nem falar inglês.”

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Supercampeão com a seleção espanhola

Rivais unidos na seleção espanhola: Piqué, Puyol e Casillas
Rivais unidos na seleção espanhola: Piqué, Puyol e Casillas Getty Images/VEJA

No meio de semana, Piqué defendeu a realização do referendo no Twitter. “A partir de hoje e até domingo, vamos nos expressar pacificamente. Não vamos dar nenhuma desculpa a eles (governo espanhol). É o que querem. E cantaremos bem alto e bem forte. Votem”, escreveu Piqué no Twitter, pedindo que não haja violência durante as manifestações”, tuitou.

Um dia depois, Piqué foi convocado nesta pelo técnico Julen Lopetegui para seguir defendendo a Espanha. Mais uma vez, muitos torcedores se posicionaram contra a convocação do zagueiro, que é constantemente vaiado em jogos da equipe nacional. Ao longo da história, diversos jogadores catalães da seleção espanhola foram contestados por suas posições políticas, como o agora técnico Pep Guardiola. Nenhum deles, porém, causou tantos atritos como Piqué.

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O zagueiro Sergio Ramos, uma espécie de antagonista de Piqué – é um símbolo do Real Madrid e do orgulho espanhol – colocou mais lenha na fogueira ao criticar a declaração do companheiro de zaga na seleção. “Esse tuíte não é a melhor coisa para alguém que não queira ser vaiado. Talvez não seja o melhor para o grupo, mas cada um é livre para dizer o que pensa”, disse Ramos ao diário Marca. Apesar dos seguidos desentendimentos e das diferenças clubísticas e políticas, o capitão do Real Madrid é um dos melhores amigos de Piqué na seleção.

O técnico Julen Loepetegui defendeu a permanência do jogador catalão em seu time. “Piqué sempre é comprometido e possui um comportamento exemplar quando está conosco. Por isso, não tenho dúvidas de sua presença e de seu foco na seleção”, disse o treinador. “Ele estará aqui, conosco, e tenho certeza que com o mesmo comprometimento e a vontade de sempre, porque sei que ele dá a vida pelo país. Sobre questões que não dizem respeito ao campo não posso opinar.”

Colecionador de polêmicas

O marido da cantora colombiana Shakira é especialmente detestado pela torcida do Real Madrid. Falastrão e bem humorado, Piqué coleciona confusões com o maior rival. Sua comemoração depois de uma goleada do Barça por 5 a 0 sobre o Real iniciou as rusgas em 2010 – José Mourinho, então técnico do Real, chegou a colocar uma foto do zagueiro, com a mão espalmada (contando os gols da goleada), no vestiário do Santiago Bernabéu, para motivar seus atletas em uma futura vingança.

Gerard Piqué e o filho, Milan, na festa do Dia da Catalunha, em Barcelona
Piqué e o filho, Milan, na festa do Dia da Catalunha Instagram/Reprodução

Em outra ocasião, um jornal divulgou que Piqué teria dito a jogadores rivais que ganharia a “Copa do reizinho de vocês”, em referência a Copa do Rei da Espanha – fato negado com veemência pelo defensor. Ele é constantemente visto em manifestações populares na Catalunha, mas nega ser a favor independência. “Não sou a favor da independência, defendo o direito de votar, defendo a democracia”, afirmou sobre ter levado o filho Milan a uma manifestação em favor de um plebiscito de independência, em 2014.

Na festa do título da Liga dos Campeões de 2015, no Camp Nou, Piqué pegou o microfone para agradecer a torcida e provocou os rivais do Real Madrid e o craque Cristiano Ronaldo. Ao final de seu discurso, agradeceu ao músico colombiano Kevin Roldán, que ganhou fama ao vazar fotos da animadíssima festa de aniversário de 30 anos de Cristiano, horas depois de uma derrota para o Atlético de Madri, por 4 a 0. Foi neste momento que o Real entrou em crise e o Barcelona arrancou para a conquista da “tríplice coroa”.

Dias depois da provocação, Piqué se apresentou à seleção e reencontrou atletas do Real, como Iker Casillas, Sergio Ramos e Isco. Todos do elenco fizeram de tudo para apagar o fogo, mas a confusão já estava armada: Piqué foi vaiado em todos os treinamentos e também nas partidas. O jogador, que nunca escondeu seu sonho de ser presidete do Barcelona no futuro, disse não se arrepender de nada. “Sou assim, quero que o Real Madrid perca sempre. Não esperem que eu mudem, que peça desculpas, não vou fazer isso”. Na ocasião, comentou sobre antiga controvérsia sobre seu sentimento em vestir as cores da Espanha. “É algo que enfrento há muitos anos. Acabo de ganhar três títulos e estou muito feliz, não me afeta em nada. Virei sempre que for chamado à seleção porque me sinto em casa”, disse.

Em 2010, ano em que a rivalidade entre o Barcelona de Guardiola e o Real de Mourinho estava mais intensa, o técnico Vicente Del Bosque conseguiu convencer os atletas das duas equipes a se unirem em busca do inédito título mundial, que veio com vitória sobre a Holanda, na África do Sul. O gol foi marcado por Andrés Iniesta, outro símbolo do Barcelona, mas muito querido em toda Espanha – o meia nasceu na região de Albacete, fora da Catalunha, e sempre se disse orgulhoso de defender a “Fúria”.

Durante aquele Mundial, Piqué e Sérgio Ramos protagonizaram uma cena embaraçosa e marcante. Durante uma entrevista coletiva, um jornalista de Barcelona fez uma pergunta a Piqué, em castelhano, e pediu que ele respondesse em catalão. O jogador do Barcelona o fez e em seguida perguntou se deveria dar a resposta em castelhano também. “Responda em andaluz, para ver se eu entendo”, ironizou Ramos, nascido na região da Andaluzia, com semblante sério, em uma clara crítica ao repórter e ao companheiro. Sete anos se passaram e as polêmicas sobre o zagueiro catalão seguem cada vez mais efervescentes.

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