‘O futebol fora do Brasil é um bom negócio’, diz Marcus Buaiz
O sócio de Ronaldo na agência 9ine e no Fort Lauderdale Strikers diz que a escolha do projeto foi por paixão pelo esporte. Mas também é um negócio, que tem dono e tem de dar dinheiro
O empresário Marcus Buaiz, capixaba de 36 anos, é agitado, não para de pensar em novos negócios. Desde muito jovem, entrou no mundo das baladas, festas, eventos, foi sócio de várias casas noturnas, montou outras, e hoje investe suas forças na agência 9ine, criada em no fim de 2010 em parceria com Ronaldo, quando o Fenômeno já pensava em deixar os campos profissionalmente. O primeiro cliente de peso foi Anderson Silva – Ronaldo é o maior, o número 1 -, que desfez a parceria em 2014, mas o UFC continua na lista de prioridades da empresa, que administra a carreira de Júnior Cigano, ex-campeão dos pesados, e Vítor Belfort. Mas trabalha também com publicidade, gestão de artistas e em ações de plataformas digitais.
Ronaldo inaugura sua primeira academia de futebol
Os últimos lances da agência foram audaciosos: além da entrada na sociedade do Fort Lauderdale Strikers em 2014, time da North American Soccer League (NASL), uma liga menor que a Major League Soccer (MLS), em que Kaká é a estrela mais bem paga, agora entram em funcionamento as franquias de escolinhas de futebol, a Ronaldo Academy. Nesta conversa, Buaiz conta que a agência ainda está focada no esporte, fala da participação dele e de Ronaldo no esporte americano e a expectativa de inundar o planeta com as academias com a marca de Ronaldo.
A agência começou em 2011. Em quatro anos teve alguma mudança de foco? Não. Sempre entendemos que a agência é de esporte e entretenimento. Algumas empresas focaram na Copa do Mundo e Olimpíada, mas nós não. Somos empresários e sabemos que esse tipo de negócio gera lucro, sempre fomos uma empresa focada em custo, receita, e mantivemos foco de empresário para o esporte e para o entretenimento. Crescemos de acordo com o que prevemos, não fizemos negócio para aproveitar o momento.
Como vocês escolhem os esportes? Na nossa visão, o UFC é o segundo esporte do Brasil, está crescendo e temos duas grandes marcas, Cigano e Belfort, que vendem cada vez mais e que independem de performance.
Como é o acordo com o Rafael Nadal? Temos o direito de venda da imagem dele na América Latina. O acordo é com ele e com seu empresário. Não nos envolvemos com nenhum cliente. No Brasil sempre se teve a ideia de que o empresário faz tudo. Sempre vi dessa forma: ou o cara é bom para vender show ou o cara é bom para vender imagem, no caso da música, por exemplo. Quando abrimos a 9ine, os empresários nos viam como concorrentes, mas na verdade somos complementares. Mesmo que algum cliente peça para fazermos tudo, não temos interesse.
Como vocês chegaram aos Estados Unidos? De setembro para outubro de 2014, começamos a falar sobre essa oportunidade. A Copa do Mundo do Brasil nos mostrou que os EUA foram o segundo país a comprar mais ingressos. O crescimento de latinos, amantes do futebol, nos EUA é absurdo e o número de praticantes, em especial crianças que cresceram nos EUA, também é enorme. Eu e o Ronaldo ficamos com vontade de entrar nesse negócio. Tínhamos na cabeça a liga – o nome e o local são bons, Sul da Flórida, onde há muitos brasileiros. Acredito nesse projeto a médio prazo, colheremos frutos daqui uns três anos.
Como vocês chegaram ao Strikers? Contratei uma consultoria que trouxe informações e oportunidades.
Mesmo sendo uma liga menor? É muito melhor nos envolvermos com algo que ainda esteja começando porque conseguimos contribuir empresarialmente com essa estruturação. Por exemplo, não será oportuno discutir a médio prazo uma união de todas as ligas para pensar em um projeto único? Talvez sim. Acho que a oportunidade é boa, a relação com a liga é muito boa e os resultados começam a surgir devagar, dentro do esperávamos. A MLS hoje está muito mais estruturada, e creio que é um lugar onde se contribui pouco: você é dono de um time e nada mais, resta ter de cumprir as regras deles. Na nossa liga, podemos contribuir, ser mais apenas dono do time. Temos de discutir como será esse negócio daqui a quatro anos, como tratar o direito de televisão, saber de qual esporte nos EUA o futebol vai tomar o lugar… Podemos contribuir muito na hora em que esse negócio tomar as proporções que esperamos. A partir do momento em que chegamos aos EUA com essa associação com o Ronaldo, aparecemos mais do que outros times da MLS.
Esse é um plano para virar cartola? Não (risos). Olhamos esse projeto com paixão e também como negócio, como uma empresa, que tem dono e tem de dar dinheiro, tem investimento, não é ONG. Não é uma estatal em que se gasta dinheiro sem dar muita satisfação e ainda se pode ter o beneficio politico de isenção de pagar a dívida. Isso não existe. O que nos entusiasmou em investir no futebol fora do Brasil é ver tudo isso como um negócio.
Essa é a diferença do esporte no Brasil e nos EUA? É o que enxergo. Vejo hoje o futebol no Brasil quase como cargo político, em que muitas vezes as metas não são cumpridas porque alguém vai assumir esse lugar. Imagine se na minha empresa fizesse isso? Isso não existe. É tanta burocracia que inviabiliza de, por exemplo, misturar entretenimento e esporte. Os EUA fazem isso com o futebol americano no SuperBowl.
Qual a parcela de sociedade que vocês têm no Strikers? Tenho 10% e Ronaldo 10%.
Hoje, como se ganha dinheiro na liga americana? Por enquanto é um início de trabalho. É o momento de investir, não pensar em ganhar dinheiro de imediato. É investimento em algo que as pesquisas indicam que vai crescer. Mas creio que o direito de televisão é o grande negócio, além da venda de produtos, porque com a visibilidade a venda de produto é uma consequência. Estamos dando visibilidade ao nosso time no Brasil: todos os jogos do Strikers passam no SporTV.
Vocês pensam em investir em algum outro esporte? Nesse momento, somos 100% no Strikers. Temos o projeto das academias, com foco diferente do que temos no time e com outro grupo societário, mas é um projeto que se debruça sobre os EUA. Teremos academias em Campinas, e em Fort Lauderdale, Boca Raton e Orlando (EUA). Logo depois que lançamos o projeto no fim do primeiro semestre, nas primeiras horas tivemos mais de 530 pedidos de interessados em ter a franquia, de lugares como Índia e China. Com a estrutura que teremos na Ronaldo Academy, quero que meu filho treine lá, porque envolve metodologia, educação, prática de esportes e mais uma porção de coisas que em nada têm a ver com performance. No Strikers o que vale é performance, na Ronaldo Academy pode ser até que se formem alguns jogadores, mas o foco é a educação.
Quando surgiu a ideia das academias? Era um projeto de construir algo com a marca Ronaldo voltado à educação do futebol. Quando conversei com o Carlos Wizard, que tinha quase 4.000 franquias no Brasil e experiência de sobra nesse setor, percebemos que faltava no mapa do Ronaldo essa imagem nos EUA, pois seu foco era na Europa. O negócio com o Strikers deixou o Ronaldo encantado, estou impressionado o quanto ele está gostando e como a ideia de viver na Flórida toma forma na sua cabeça. Afinal, temos o Strikers, as academias e o plano de levar a 9ine para lá. No final, o Strikers, a academia e a Spark acabam se comunicando e precisamos estar num lugar onde tudo converge.
O que é a Spark? É uma sociedade com os donos da Vevo (canal de música do YouTube). É a venda de publicidade nas redes sociais de celebridades, construindo uma grande comunicação de massa.
Quanto tempo a criança vai passar na academia? Depende do prazo que o pai quer. Pode ter clientes que fiquem apenas um ano e outros que fiquem dos 4 aos 18 anos. Nosso objetivo é criar no Brasil o estudante-atleta, com a pretensão de ele vá para o exterior e aprenda o conceito dos americanos. A primeira coisa que um jogador de futebol faz hoje é parar de estudar, mas nos EUA é o contrário: ele ganha bolsa.
Quantos negócios você tem? Como base são cinco (9ine, Strikers, Spark, uma empresa de casas noturnas e a Ronaldo Academy). Mas como negócio paralelo são mais de 14.
Você tem também casa noturna? Temos o Villa Mix e a Royal.
Vocês pensam em fazer algo relativo à Olimpíada? A Spark recebe propostas para construir estratégias de marketing para a Olímpiada e a 9ine é consultada para não só de cuidar da imagem de um atleta mas de um grupo de atletas olímpicos.
Vocês estão aprendendo bastante coisa? Sim, e estamos nos cercando de bons profissionais. E temos o cara que não é um homem de negócios, é o próprio negócio. O Ronaldo entende isso e tem visão sobre o global, viveu Copa do Mundo, viveu em time grande, em time pequeno.
Como é o mix de esporte e entretenimento na empresa? A agência é dividida em duas áreas. Temos contas publicitárias de alguns clientes e temos gestão de celebridades. Na publicitária temos a Ambev, Duracell, Johnson & Johnson e a Ybera (Empresa de Cosméticos). Na gestão de imagens de celebridades, temos o Ronaldo, o Neymar – que não é exclusivo mas grande parte dos contratos dele estão aqui -, o Cigano e o Vitor Belfort, o Rafael Nadal (na América Latina), a Paula Fernandes (cantora), e Paolla Oliveira e Alexandre Nero (atores). Não podemos nos restringir apenas ao esporte, por isso buscamos pessoas de vários segmentos e também queremos poucos clientes, queremos menos quantidade e mais qualidade.