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No mapa alemão até o Rio, pistas para reconstruir o Brasil

Enquanto a seleção da casa chegou à fase decisiva da Copa improvisando um time, a finalista apostou num estilo e em jogadores desenvolvidos durante anos

A confiança inabalável no trabalho da comissão técnica escolhida para conduzir a Alemanha ao triunfo pode até não ter resultado em nenhum grande troféu até agora. Uma vantagem inquestionável dessa filosofia, porém, é o entrosamento da equipe�, que tem um estilo de jogo desenvolvido ao longo de vários anos e conta com um grupo completo de atletas testados e aprovados

Há muitos caminhos até uma final de Copa do Mundo. Alguns deles são abertos pelo talento individual – a Argentina, por exemplo, não estaria na rota do Maracanã se não fosse pela genialidade de Lionel Messi. Outros, porém, são pavimentados a partir de um planejamento detalhado, com investimento pesado� e organização impecável. É o caso da seleção alemã, que tentará conquistar o tetracampeonato depois de atropelar o Brasil na semifinal, na terça-feira sinistra de Belo Horizonte. Enquanto a anfitriã do Mundial chegou à hora da decisão na base do improviso (ainda que sua comissão técnica insista em um discurso cheio de soberba, gabando-se de seu planejamento para o torneio), a finalista europeia preparou-se com muito trabalho (e muito dinheiro) para chegar ao Rio de Janeiro no domingo. O técnico Luiz Felipe Scolari – que assumiu o cargo no fim de 2012, mudou quase toda a comissão técnica e mexeu de forma radical no time e no estilo de jogo da seleção -, disse várias vezes ao longo da Copa que não se arrependia de nada e que o planejamento feito por sua equipe na CBF foi nada menos que exemplar e irretocável. Essa programação, entretanto, é de alguns meses atrás. A Alemanha começou a plantar as sementes de seu quarto título mundial há mais de uma década – e mesmo que os frutos não sejam colhidos já neste domingo, a Mannschaft ainda terá muitas outras safras de grandes atletas para disputar outros troféus.

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Desde o fiasco de sua seleção na Eurocopa de 2000, quando a equipe não passou da primeira fase (empatou com a Romênia e perdeu para Inglaterra e Portugal), a federação alemã se reestruturou, traçou um plano de longo prazo e passou a trabalhar de forma integrada, valorizando principalmente a descoberta de novos valores. Passados catorze anos, a equipe que veio à Copa no Brasil (e que chegou às últimas quatro semifinais de Mundial) é uma boa mescla de atletas experientes, como o recordista de gols Miroslav Klose e o zagueirão Per Mertesacker, jogadores que se transformaram em referências do time, como o capitão Phil�ipp Lahm e o volante Bastian Schweinsteiger, e jovens extremamente talentosos, como os incríveis Toni Kroos, Thomas Müller, André Schürrle e Mario Götze. Como a federação trabalhou com a estabilidade e a regularidade, elementos importantes da cultura e do estilo de vida alemães, esses jogadores formam a base da equipe há anos, e o técnico, Joachim Löw, está na comissão técnica há nada menos de uma década. Primeiro como auxiliar de Jürgen Klinsmann (na Copa das Confederações de 2005 e na Copa do Mundo de 2006) e depois como técnico, Löw passou em branco em cinco grandes competições. �Em todas elas, contudo, chegou pelo menos à semifinal (na Eurocopa de 2008, foi vice-campeão).

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Testados e aprovados – A confiança inabalável no trabalho da comissão técnica escolhida para conduzir a Alemanha ao triunfo pode até não ter resultado em nenhum grande troféu até agora. Uma vantagem inquestionável dessa filosofia, porém, é o entrosamento da equipe�, que tem um estilo de jogo desenvolvido ao longo de vários anos e conta com um grupo completo de atletas testados e aprovados na seleção. O Brasil chegou à semifinal da Copa disputada em seu quintal com uma equipe que jamais havia entrado em campo junta, e que tinha sido ensaiada apenas por alguns minutos, em treino de véspera de jogo, na Granja Comary (de acordo com Luiz Felipe Scolari, para “confundir os jornalistas” e impedir que os alemães soubessem da escalação para a semifinal). Se a dupla de zaga formada por David Luiz e Dante ainda não se conhecia bem, se o ataque formado por Bernard, Hulk e Fred não tinha afinidade alguma em campo, se o meio com Luiz Gustavo e Fernandinho tinha rodagem limitadíssima, a Alemanha que entrou em campo para golear o Brasil no Mineirão tinha oito atletas que estiveram em campo na semifinal que perdeu em 2010 para a Espanha (Neuer, Lahm, Boateng, Khedira, Schweinsteiger, Ozil, Kroos e Klose) e dez que participaram da semi da Eurocopa de 2012, em que foi derrotada pela Itália.

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Mesmo que o título escape de novo, que Löw deixe o cargo e que a Alemanha caia diante da Argentina no Maracanã, é certo que muitos deles – Kroos, Müller, Götze, Schürrle, Hummels, Neuer – estarão na Rússia daqui a quatro anos. E ainda há Marco Reus (24 anos) e Ilkay Gündoğan (23), que não vieram ao Brasil porque estavam machucados, mais promessas do quilate de Julian Draxler (meia de 20 anos que está no grupo da Copa) e Marc-André ter Stegen (goleiro de 22 anos que acaba de chegar ao Barcelona). Ainda nesta quinta-feira, o massacre sofrido pelos pentacampeões no Mineirão custa a ser digerido pelo torcedor brasileiro. Mas basta examinar a trajetória percorrida por cada equipe até a chegada à partida fatídica de Minas Gerais – uma delas, construída com convicção e competência; a outra, improvisada na base do jeitinho e da intuição – para começar a entender o que fez a seleção da casa entrar em colapso enquanto a favorita à conquista do título não parava de marcar gols, marchando firme rumo à glória.

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