Ex-presidente uruguaio morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos, após árdua batalha contra um câncer no esôfago
Faleceu nesta terça-feira, 13, o ex-presidente uruguaio José ‘Pepe’ Mujica, aos 89 anos, vítima de um câncer no esôfago. A informação foi confirmada pelo atual presidente do país, Yamandú Orsi. Além de político e guerrilheiro, Mujica também deixou um legado no futebol, entendendo a representatividade do esporte fora das quatro linhas, criticando sua mercantilização e torcendo para o time do seu bairro.
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Mujica nasceu em 20 de maio de 1935, no bairro de Paso de la Arena, em Montevidéu, ao lado de Villa del Cerro. Em uma terra quase sempre dominada pelo poder de Nacional e Peñarol, Pepe não renegou às origens e fez questão de cultivar seu amor pelo Club Atlético Cerro, time de futebol do bairro.
O Club Atlético Cerro joga hoje a primeira divisão do futebol uruguaio, mas não tem nenhum título de grande expressão. Foi campeão da 2ª divisão uruguaia em quatro oportunidades: 1940, 1941, 1946 e 1998.
Em entrevistas, Mujica destacava que torcer para o Cerro era uma forma de manter a lealdade à sua origem e classe social, apoiando a luta dos trabalhadores desde baixo: “O clube da minha juventude”, disse. Um ato condizente com sua filosofia, Pepe defendia todos os clubes de bairro pela importância na formação educativa dos jovens, cultivando valores, ideais e sentimentos de pertencimento singulares.
Muito além de torcedor, Pepe não era figura presente em estádios de futebol e tampouco acompanhava o Cerro fervorosamente, mas entendia muito bem o esporte como um movimento cultural e reflexo social: “O futebol não é apenas uma bola, é uma forma de ver a vida”.
Em 2017, o jornalista de El País, Breiller Pires, relatou uma conversa singela com o político uruguaio. Mujica havia elogiado a seleção brasileira de Tite e comentou o futebol como fenômeno em seu país: “Não há uruguaio que não goste. Nosso futebol é meio milagroso. Somos um país tão pequeno e sempre estamos aí, chegando, chegando…”
Abaixo da paixão, torcer para o Cerro era um protesto de Mujica à mercantilização do esporte. José chegou a criticar até veículos de imprensa pelo tratamento a ídolos como produtos e também questionava a pressão em jogadores cada vez mais jovens.
Conhecido por sua humildade, mesmo quando então presidente, Mujica morava em seu sítio afastado do grande centro de Montevidéu. Foi quando em 2012 saiu passear com sua cachorra Manuela e seu reconhecido fusca azul claro. A missão de Pepe era simples, comprar um assento para sua privada.
Alguns quarteirões de casa, Pepe foi abordado por alguns jogadores do Huracán del Paso de la Arena – pequeno clube do bairro que disputava a segunda divisão. À pedido, o então presidente nacional concordou em realizar uma conversa motivacional e José foi até o grupo com o assento de privada em baixo do braço.
A história foi contada pelo jornal El Observador, e o técnico da equipe se surpreendeu com o quanto Pepe conhecia as origens do clube.