MLS: futebol em alta e qualidade de vida atraem jogadores
Em 2014, há 18 brasileiros só na MLS. Kleberson e Senna jogam em liga menor
“Tenho um ótimo carro, uma casa confortável. A qualidade de vida que tenho aqui só teria no Brasil se fosse uma estrela, um jogador consagrado”, diz Juninho, do Los Angeles Galaxy
Os clubes de futebol dos Estados Unidos já abrigaram alguns dos maiores jogadores da história do futebol, como o alemão Franz Beckenbauer, o holandês Johan Cruyff e o maior de todos, o brasileiro Pelé. A passagem destes craques pela América, nos anos 1970, serviu como pontapé inicial para o movimento que se instala agora em alta velocidade no país. Pesquisas recentes mostram que o soccer já é um dos esportes mais adorados entre os americanos e os mais tradicionais como futebol americano, basquete e beisebol perdem praticantes para o jogo com os pés, nova febre entre os jovens. A Major League Soccer (MLS), principal liga dos EUA, vê sua popularidade crescer ano a ano (tem média de público superior à do Campeonato Brasileiro) e se torna cada vez mais um mercado atraente para jogadores consagrados, que procuram um bom salário e principalmente tranquilidade. Depois do britânico David Beckham e do francêsThierry Henry, a temporada de 2015 da MLS terá novas estrelas – a maior delas, o brasileiro Kaká.
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Diferente da North American Soccer League (NASL) – liga que teve no New York Cosmos de Pelé sua principal atração na década de 1970, mas faliu quase duas décadas depois pelo pouco interesse e falhas de planejamento -, a MLS é hoje um exemplo de negócio. Com modelo baseado nas grandes ligas de basquete e futebol americano, a MLS conta com altos investimentos de empresas estrangeiras, do governo e apoio de potências de outros esportes, como o time de basquete Los Angeles Lakers e o de beisebol, New York Yankees.
Um dos maiores atrativos do futebol nos EUA é a qualidade de vida, que atrai atletas que pretendem encerrar carreira com tranquilidade, jovens que não tiveram oportunidades em seus países e até jogadores que estavam sem clube e tinham vaga na Copa do Mundo, como no caso do goleiro Júlio César. Na temporada de 2014 da MLS, que terminará em dezembro em um grande evento, nos moldes do Super Bowl (a final do futebol americano), 18 brasileiros estão inscritos. Júlio César atuou pelo Toronto FC (há três times canadenses na liga) por três meses para pegar ritmo antes da Copa.
Sonho – Na MLS ainda há jogadores que miram ligas mais fortes e tradicionais, como no Brasil ou Europa. O meio-campista Juninho, do Los Angeles Galaxy, de 25 anos, foi revelado no São Paulo e está há cinco temporadas na equipe pela qual conquistou o título em 2011 e 2012, ao lado do inglês David Beckham e do americano Landon Donovan, as duas maiores estrelas da liga naqueles anos. Juninho deixou o São Paulo, abriu mão da forte concorrência na equipe e aceitou o desafio de jogar nos EUA. “Percebo uma evolução clara. Quando cheguei, em 2010, ninguém conhecia a MLS. Agora, a liga cresceu muito, já está se aproximando das melhores do mundo. A estrutura do clube é fantástica.”
Casado e pai de um menino, Juninho fala da comodidade de viver na Califórnia. “Todos os dias almoço em casa, como comida brasileira. Tenho um ótimo carro, uma casa confortável. A qualidade de vida que tenho aqui só teria no Brasil se eu fosse uma estrela, um jogador consagrado.” Mas revelou que ainda gostaria de jogar em uma grande equipe brasileira, assim como seu irmão mais novo, o atacante Ricardo Goulart, destaque do Cruzeiro. “Sou jovem, penso em voltar, quero tentar jogar no Brasil e ter sucesso como o meu irmão. Ou quem sabe na Europa. Mas para quem já pensa em se aposentar aqui é o lugar ideal. A qualidade técnica da MLS está melhorando, mas o nível ainda é inferior ao do Campeonato Brasileiro. O jogo aqui é mais físico do que técnico.”
O meia Marcelo Sarvas, também do Galaxy, de 32 anos, já prevê mudança de rumo na vida assim que chegar a aposentadoria. Seu contrato termina este ano, mas tem opção de renovação por mais uma temporada, e o jogador diz ainda ter plenas condições de jogar por pelo menos mais três temporadas. “Pelo grau de exigência da liga hoje, tranquilamente tenho mais alguns anos como titular no Galaxy. Mas tenho projeto de continuar no futebol, aqui mesmo no Galaxy, mesmo não jogando, quem sabe começando a treinar as categorias de base.”
Marcelo ficou no Corinthians dos 13 as 21 anos no profissional B e assim que casou resolver tentar a sorte na Europa, com destino à Suécia, de onde foi, depois de quatro anos e meio, para a Polônia e depois para a Costa Rica. “Cheguei ao Galaxy em 2012, estou bem feliz aqui, mas ainda é preciso melhorar muito a liga, como os salários, há jogador que ganha pouco mais de 50.000 dólares por ano (cerca de 113.000 reais por ano, pouco mais de 9.000 reais por mês). A ideia é melhorar muito os salários mais baixos já no ano que vem. Tenho uma vida tranquila, simples, nada me falta, mas não dá para pensar em uma casa em Beverly Hills, nem em uma Ferrari. Longe disso.” Depois dos treinos Marcelo costuma almoçar com a mulher e o filho de seis anos, que normalmente vai apanhar na escola, e muitas vezes vai ao clube à tarde para compromissos que podem ser de cunho social ou até atender fãs.
Titular absoluto do time, além da reivindicação salarial, Marcelo conta que os jogadores querem mudar a legislação que os prende ao clube. “Se aqui mudamos de time, podemos jogar no novo clube assim que o negócio for finalizado, no dia seguinte se for o caso. Mas se saímos dos EUA para outro país, quando voltamos o passe pertence ao clube. Queremos o passe livre após o fim do contrato.”
Kleberson e Marcos Senna, dois campeões na ‘segundona’
Extinta em 1984, a National American Soccer League retornou às atividades em 2010 com bem menos prestígio que nos tempos de Pelé, George Best e Gerd Müller. Atualmente, com 12 equipes, ela é a segunda liga mais importante do país – recebe bem menos investimento que a MLS, mas registra boas médias de público – e tem dois brasileiros como suas principais estrelas, Kleberson e Marcos Senna.
Campeão do mundo com a seleção brasileira em 2002, Kleberson jogou um ano no Philadelphia Union, da MLS, antes de se transferir ao Indy Eleven, de Indianapolis, da NASL. Aos 35 anos, ele conta por que resolveu encarar a “segundona” dos EUA. “Vim porque vi o quanto a estrutura aqui é fantástica. Sou pai, tenho duas crianças, e eu sabia que aqui poderia dar à minha família uma tranquilidade maior.”
O jogador revelado no Atlético-PR diz ter se surpreendido com o número de amantes do futebol no país. “Meu filho joga em uma escolinha de futebol. Jamais poderia imaginar que tantas crianças gostassem e jogassem futebol por aqui.” Com passagem por clubes europeus, incluindo o gigante Manchester United, Kleberson se sente mais à vontade nos EUA. “O povo aqui nos recebe muito bem, o americano é mais caloroso que o europeu. Minha vida é excelente, mas sinto falta do Brasil. Tenho muito carinho pelo Atlético-PR, pode ser que eu encerre a carreira lá, não sei ainda.”
Futuro – Marcos Senna, de 38 anos, teve uma carreira de muito sucesso na Europa – se naturalizou espanhol e foi campeão da Eurocopa com a seleção da Espanha, em 2008. Ele é a principal estrela justamente do New York Cosmos, que reabriu as portas e retornou à NASL em 2013. Logo em seu primeiro ano, o time foi campeão nacional, com um gol do brasileiro.
“Estou superfeliz aqui, foi uma grande surpresa porque pensei que uma cidade como Nova York poderia ter problemas como os de São Paulo. Mas me enganei, aqui tudo funciona, temos segurança”, diz Senna, que também treina em apenas um período, apanha o filhos na escola, almoça em casa, faz aulas de inglês e de cavaquinho.
“Ainda me sinto bem, estou jogando sem problemas físicos e meu contrato vai até o fim do ano. Tenho condições de jogar mais duas temporadas se o clube quiser. Claro que aqui o nível não é tão forte como no Brasil ou Europa, mas a liga está crescendo”, fala Marcos Senna, feliz em contar que já recebeu convite do Cosmos para conitinuar no clube após a aposentadoria. “Acho que não tenho talento para treinador, mas gostaria de atuar na área de gestão, na parte administrativa.”
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