Memória: a morte de Foé na Copa das Confederações
Meia camaronês sofreu ataque cardíaco diante do mundo durante semifinal da edição de 2003
O cronômetro passava dos 27 minutos do segundo tempo. A seleção de Camarões vencia a Colômbia por 1 a 0, gol de Ndiefi, pela semifinal da Copa das Confederações de 2003. Sensação da Copa do Mundo de 1990, na Itália, os “leões africanos” viviam outro momento de auge, a caminho de mais uma decisão de nível mundial — haviam sido campeões olímpicos em Sydney-2000. Mas tudo isso se tornou insignificante quando o meia Marc-Vivien Foé, de 28 anos, caiu no gramado.
Vítima de colapso cardíaco, a imagem de seus olhos virados e o peito ofegante comoveu o mundo, numa transmissão ao vivo de um homem em agonia. As tentativas de reanimação adiaram a tragédia para minutos depois, no hospital. Tempo suficiente para a partida prosseguir e seus colegas confirmarem a classificação para a decisão.
Uma hora depois, França e Turquia entraram em campo pela outra semifinal. Atletas choraram durante o minuto de silêncio e homenagearam o colega da melhor forma, com muitos gols (vitória francesa por 3 a 2). A cada bola na rede, comemorações comedidas. Na primeira delas, Thierry Henry, aos 11 do primeiro tempo, apontou para o cé
Depois de certa relutância, a seleção de Camarões decidiu disputar a final. Perdeu por 1 a 0, com gol de Henry aos sete minutos do primeiro tempo da prorrogação. Por mórbida ironia, uma derrota na “morte súbita”, termo popularizado no Brasil para denominar a regra do “gol de ouro” (tento no tempo extra que encerrava a partida). Não havia clima para erguer o troféu com festa. Os franceses o receberam rodeados pelos camaroneses, ao lado de uma foto gigante de Foé.
Havia histórico de mortes de jogadores em campos de futebol, mas em circunstâncias tão relevantes, diante dos olhos do mundo, era a primeira vez. Infelizmente, seguida de outros dois casos no ano seguinte. Em janeiro de 2004, o húngaro Miklós Feher, de 28 anos, caiu em campo durante uma partida do seu Benfica contra o Vitória de Guimarães. Em outubro, o volante Serginho, do São Caetano, passou mal enquanto defendia o São Caetano contra o São Paulo, no Morumbi, pelo Campeonato Brasileiro.
Com uma consolidada carreira no futebol europeu (pelos franceses Lens e Lyon e os ingleses West Ham e Manchester City), Marc-Vivien Foé tinha duas Copas do Mundo (1994 e 2002) no currículo — ficara fora de 1998 por contusão. Em sua homenagem, as camisas 17 do Lens e do Lyon e a 23 do Manchester City estão aposentadas.