Maxi López, ‘Palmeiras B’ e Gabigol salvam o pobre do futebol brasileiro
Sucesso de “rejeitados” e o fraco desempenho dos finalistas da Copa do Brasil evidenciam o abismo entre o jogo praticado por aqui e na Europa
Nesta sexta-feira 12, a seleção brasileira venceu a inexpressiva Arábia Saudita em mais um amistoso organizado pela CBF. No sábado 13, Gabriel Barbosa, o Gabigol, que decepcionou na Europa, ampliou sua vantagem na artilharia do Brasileirão em um clássico em que o adversário usou um time inteiramente reserva. No domingo 14, os veteraníssimos argentinos Andrés D’Alessandro e Maxi López brilharam por Inter e Vasco, e o Palmeiras, mais uma vez com um time misto, manteve a ponta da Série A contra um Grêmio pouco interessado. Na próxima quarta-feira, Corinthians e Cruzeiro tentarão, enfim, ser mais que equipes pragmáticas na decisão da Copa do Brasil mais insossa dos últimos tempos. Os exemplos citados, dentre tantos outros, são um retrato fiel do mau momento do futebol do Brasil.
O caso de Maxi López chama atenção: aos 34 anos, ele chegou ao Vasco bastante acima do peso, mas entrou em forma e, demonstrando liderança e faro de gol, vem sendo o salvador da equipe carioca. Ainda que poucos duvidassem de sua capacidade técnica, surpreende o fato de Maxi já ter marcado mais gols no Brasil (cinco em 12 jogos) do que em duas temporadas completas na decadente liga italiana (dois pela Udinese e dois pelo Torino). Passa a impressão de que, para um jogador experiente e de boa técnica, basta comprometimento e condição física para se destacar por aqui. O mesmo vale para Nenê, Thiago Neves, Diego Ribas e outros atletas “experientes”. E também para atletas mais jovens e “rejeitados” no futebol europeu, como Gabigol e Deyverson.
O Palmeiras de Felipão, aliás, também faz um trabalho elogiável. Num Brasileirão escanteado – a lucrativa Copa do Brasil e a sonhada Libertadores roubam todas as atenções em meio a um calendário indecente –, o clube alviverde se aproveita de saúde financeira e planejamento bem feito e roda seu ótimo elenco sem perder desempenho. O estilo pode não ser o mais vistoso, mas há uma ideia clara e eficiente por trás dos resultados (14 jogos de invencibilidade). Mas as outras 19 equipes jogam tudo que podem? Corinthians e Cruzeiro certamente não, mas ainda assim podem faturar os 50 milhões de reais de premiação da Copa do Brasil.
Mais do que nunca, a frenética busca pelo resultado justifica o baixo nível técnico – o Corinthians, por exemplo, não deu sequer um chute a gol nas partidas como visitante contra Flamengo e Cruzeiro pela Copa do Brasil. “Mas o time foi desmontado e é limitado”, justificam os mais benevolentes, como se estes fatos também não retratassem problemas do futebol nacional. Ora, como é possível que um dos clubes mais populares do mundo, atual campeão estadual e brasileiro e dono da maior cota de TV do país esteja endividado e sem patrocínio master há dois anos? Se está difícil para o Corinthians – e Fluminense, Santos, Atlético Mineiro, etc – imagine como é dura a vida de Chapecoense, América-MG, Paraná…
Há décadas, o futebol nacional sofre com a fuga precoce de potenciais craques. Mas não são apenas as saídas de um Vinicíus Júnior ou de um Rodrygo que matam o esporte brasileiro. Neste casos, não haveria mesmo como competir com os gigantes da Europa. São as vendas, sem retorno financeiro satisfatório nem resistência das diretorias, de jogadores apenas bons ou muito bons, como Rodriguinho, Keno ou Pedro Rocha, a clubes do Oriente Médio ou do Leste Europeu. Antes, a discussão era se o Brasileirão estaria no nível das ligas francesa, alemã ou italiana. Hoje, o torneio parece mais próximos da liga americana ou da chinesa. E não é por falta de dinheiro, já que nunca premiações e cotas de TV foram tão altas.