Kean é vítima de racismo e Bonucci diz que colega tem ‘50% de culpa’
Revelação do futebol italiano não recebeu apoio de seu companheiro na Juventus depois de ser ofendido por torcedores do Cagliari
O Campeonato Italiano registrou mais um caso de racismo na última terça-feira 2. A vítima foi justamente a maior revelação do futebol local, o atacante Moise Kean, de 19 anos, que marcou um gol na vitória por 2 a 0 da Juventus sobre o Gagliari, fora de casa, pela 30ª rodada. O caso ganhou ainda mais repercussão depois que o experiente zagueiro Leonardo Bonucci disse que o colega teve 50% de culpa pelo ocorrido, por ter encarado a torcida na Sardenha ao marcar o gol.
“Kean sabe que se ele marca um gol, deve comemorar com seus companheiros. Ele sabe que poderia ter feito algo diferente. Houve insultos racistas depois do gol, Blaise (Matuidi) ouviu e ficou irritado. Eu acho que ele tem 50% de culpa, porque Moise (Kean) não deveria comemorar diante da torcida adversária e os torcedores não teriam reagido dessa maneira”, afirmou Bonucci depois da partida.
A postura de Bonucci foi bastante criticada na Europa, inclusive por torcedores da Juventus e colegas de profissão. Nesta quarta-feira, 3, o atacante Raheem Sterling, outro atleta que é constantemente vítima de preconceito na Europa, ironizou as palavras de Bonucci. “A culpa é 50/50… tudo o que posso fazer é dar risada”, cravou o jogador do Manchester City em seu Instagram.
Balotelli, jogador da seleção italiana e atualmente jogando no futebol francês, defendeu Kean e criticou Bonucci por sua ação. “Diga a Bonucci que a sorte dele é que eu não estava lá. Em vez de te defender ele faz isso? Estou chocado, juro. Te quero bem, irmão”, comentou Balotelli na postagem no Instagram de Kean.
O presidente do Cagliari, Tomassi Giulini, usou justamente as palavras de Bonucci para minimizar os atos racistas de seus torcedores. Segundo ele, atletas brancos da Juventus teriam o mesmo tratamento. “Se o Bernardeschi celebrasse assim, ele seria tratado exatamente da mesma maneira por nossos torcedores. Se o Dybala fizesse o mesmo drama que o Matuidi fez, ele teria o mesmo tratamento dos torcedores. Eu não quero que as pessoas comecem a falar mal da torcida do Cagliari até porque eu ouvi de jogadores da Juventus que o Kean errou em celebrar desse jeito.”
O técnico da Juventus, Massimiliano Allegri, disse não ter ouvido as ofensas e também responsabilizou, de certa forma, o seu atacante. Mas cobrou punição severa aos torcedores racistas.
“Você precisa ser inteligente em lidar com essas situações para não provocar as pessoas. Mas isso, obviamente, não significa que os idiotas na torcida e a reação deles seja justificada. Como tudo na vida, tem idiotas que fazem coisas ruins para todo mundo. (…) Temos de usar os recursos, que são as câmeras, encontrar quem faz isso e punir essas pessoas. É muito simples, identificar eles e banir pelo resto da vida, não só um ou dois anos. Nós temos essa tecnologia, dá para fazer se as autoridades tiverem interesse.”
Kean, que é filho de marfinenses e estreou este ano pela seleção italiana, se manifestou brevemente nas redes sociais. “A melhor forma de responder ao racismo”, escreveu na legenda da foto da comemoração de seu gol. Nos comentários, recebeu o apoio de diversos atletas, como Mario Balotelli, outro italiano de ascendência africana que já foi várias vezes ofendido racialmente. E também do companheiro francês Blaise Matuidi, que no ano passado já havia sido vítima de racismo justamente da torcida do Cagliari.
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