Kaká: ‘Quero fazer parte da história do futebol nos EUA’
Com sede de títulos, o meia quer ser campeão com o São Paulo e deixar sua marca nos Estados Unidos, onde vai jogar por três temporadas, no Orlando City
Kaká volta a jogar neste domingo à tarde no Estádio do Morumbi, com a camisa do São Paulo, contra o Vitória, em partida pelo Campeonato Brasileiro, com dois objetivos bem claros em sua cabeça: ser campeão com o tricolor – na Copa do Brasil ou no Brasileirão, se possível nos dois torneios – e chegar aos Estados Unidos para se tornar um dos maiores nomes do futebol na terra de Tio Sam. Aos 32 anos, Kaká fica no São Paulo até o final da temporada e se muda no ano que vem para a cidade turística de Orlando, região central do estado da Flórida, para defender o time da cidade, de propriedade de seu amigo, o empresário Flávio Augusto da Silva, inicialmente por três anos.
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O Orlando City vai integrar a principal liga de futebol americana, a Major Soccer League (MLS), em 2015 e Kaká será um dos maiores propulsores da equipe para conquistar torcida, ter bom nível de futebol, tática e tecnicamente, e ainda estreitar a ligação com o Brasil. E o que mais incentiva o meia campeão do mundo em 2002 e eleito o melhor jogador do planeta em 2007 é fazer parte do atual momento do futebol nos Estados Unidos, ajudar o esporte a definitivamente se tornar popular no país e, quem sabe, fazer da MLS uma liga competitiva internacionalmente. Com entusiasmo, Kaká falou de seu plano para a nova fase na carreira e contou por que decidiu defender um time recém-nascido num país onde até pouco tempo reinavam o basquete, o beisebol e o futebol americano.
Qual o principal fator que o fez aceitar a proposta do Orlando City? MInha escolha foi totalmente baseada em fazer parte do desenvolvimento do futebol nos EUA. Eu queria mesmo participar desse momento, da explosão do futebol entre os americanos. Enfim, surgiu a oportunidade com o Orlando, clube com quem já mantinha conversações, mas minha decisão foi baseada 100% em estar no boom do futebol nos EUA.
Como o Zico participou no Japão? O Zico é admirável, ele fez muita coisa e ajudou muito o Japão. Eu estou apenas começando, ainda vou iniciar a minha história nos EUA, mas espero conquistar o que Zico conquistou no Japão. Acho que o David Beckham foi um jogador muito importante para o futebol nos EUA, um grande embaixador.
Você conversou com o Beckham antes de acertar com o Orlando? Sim, liguei para ele algumas vezes porque antes da proposta do Orlando eu tive outras duas oportunidades de ir para os EUA. Recebi convite do New York Red Bulls e depois do Los Angeles Galaxy. Isso foi há dois anos. Quando estive em Los Angeles com o Real Madrid (na pré-temporada de 2013), eu conversei com representantes do clube. Também falei muito com o David para entender como era o processo de sair de um futebol supercompetitivo como o europeu e ir para um futebol diferente, com tudo novo, tudo nascendo. Ele me garantiu que a experiência dele foi fantástica e valeu muito a pena. As suas impressões também me ajudaram na escolha.
E o que você acha dessa fase do futebol nos EUA? Está crescendo, todo mundo está enxergando o crescimento da liga americana. O nível técnico está melhorando, acho que o fato de o alemão Jürgen Klinsmann ser técnico da seleção ajuda bastante no desenvolvimento. E há muitos técnicos estrangeiros trabalhando lá, o que é bom porque essa variedade ajuda o futebol a evoluir. É um mercado que antes levava jogadores em fase final de carreira, mas agora está mudando. Atletas com muito tempo de carreira pela frente, como o espanhol David Villa (New York City) e eu, estão indo para lá. Isso também ajuda na evolução técnica e tática e dá experiência para a liga americana.
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Sua opção pelos EUA tem algo a ver com seu futuro pós-campo? Não, meu objetivo agora é jogar, quero que esta minha passagem pelo Orlando, a princípio de três anos, seja muito legal. Não vejo a hora de chegar, jogar e dar certo. Já penso em classificar o time, chegar aos play offs, o que deve ser uma experiência emocionante. Quero muito curtir o campeonato lá, tem muita novidade. Estou focado neste momento e só penso em jogar. Mais à frente, sim, quero aprender, estudar, conhecer bem a liga americana.
O dono do Orlando City disse que pretende ter 40 milhões de torcedores. Você acha possível? A média de público da MLS é maior que a do Brasileirão, e vem crescendo (em 2013 a MLS registrou média de 18.000 torcedores por jogo enquanto o Brasileirão teve pouco menos de 15.000). O Flávio tem o projeto de tornar o Orlando o segundo time do torcedor brasileiro e o primeiro do americano. Tomara que tenhamos mais torcedores que Corinthians e Flamengo e que todo são-paulino torça pelo Orlando.
Jogadores de times da MLS costumam ter contato mais estreito com os garotos da base, muitas vezes como atividade prevista pelo clube. Gosto muito dessa área de formação, é fundamental o jogador do time principal, profissional, transmitir aos jovens as dificuldades em se tornar profissional e também incentivá-los a lutar. E também é importante mostrar outros valores, pois muitos daqueles jovens não serão profissionais e por isso é importante estudar. Vou fazer tudo o que puder para ajudar na formação da base.
Você tem uma imagem de forte apelo junto às crianças. Por quê? Realmente não entendo o motivo. Gosto muito de crianças. Sempre levo meu filho aos jogos. Acho importante um jogador ver uma criança perto dele, até ali na hora do aquecimento, antes de entrar em campo, pois a alegria da criança dá mais motivação. Talvez seja por isso, como gosto de ver as crianças talvez elas sintam o mesmo, é recíproco.
Você vai sentir falta de algo da Europa e do Brasil? Acho que da rotina, de frequentar os restaurantes, já saber dos programas a serem feitos, o principal são as amizades, tanto da Europa quanto do Brasil. Mas procuro viver as fases da minha vida. Foram 11 anos na Europa e o Brasil é minha referência. Agora vou viver uma nova história, conhecer de verdade um país que só conheço de férias. E não sei o que vou encontrar. Por isso, não vejo a hora de ir e curtir essa nova experiência.
Você acredita que nesta nova fase quem estiver na MLS pode estar mais próximo da seleção? Bom, o Júlio César já mostrou isso, apesar de jogar no Toronto, mais longe ainda do Brasil, foi para a Copa e jogou bem, portanto um jogador da MLS pode vir para a seleção… É o que eu espero.