Hebert Conceição nocauteia ucraniano e é campeão olímpico de boxe
Atleta baiano de 23 anos havia perdido os dois primeiros rounds e chegou ao título com um cruzado de esquerda perfeito
O brasileiro Hebert Conceição conseguiu uma medalha de ouro espetacular na madrugada deste sábado, 7, ao nocautear o ucraniano Oleksandr Khyzniak pelo peso-médio masculino (até 75 quilos) do boxe nos Jogos de Tóquio. O adversário foi mais incisivo nos dois primeiros rounds, mas o atleta baiano de 23 anos chegou à vitória com um cruzado de esquerda que derrubou o campeão mundial.
“Orgulho de ser brasileiro”, exclamou o atleta, enquanto o ucraniano, que havia vencido os dois primeiros rounds por unanimidade da arbitragem, demonstrava revolta com o resultado. Com o nocaute, algo raro no boxe olímpico, Hebert igualou outro baiano, Robson Conceição, único campeão brasileiro do boxe, na Rio-2016. Esta foi a sexta medalha de ouro do Brasil em Tóquio — está a uma de igualar a marca de cinco anos atrás e já superou o recorde no número total de medalhas.
“Eu tinha perdido dois rounds, tinha mais um, e apesar de a pontuação ser adversa eu sabia que em três minutos dava para reverter com um nocaute. Se vocês perceberam no começo do round eu já fui para uma luta franca e falei, se tomar nocaute aqui não interessa, estou perdido, agora eu vou buscar o meu. Trocação é loteria. Consegui conectar um bom cruzado, que eu treino muito também quando estou simulando situações de trocação. Essa medalha de ouro é para o Brasil”, discusou Hebert.
“Eu não sou nocauteador, sou mais estiloso. Mas também tem que treinar golpes encaixados para em situações como essa ter outras armas e outros planos para poder executar na hora. Acreditei até o fim e o nocaute veio”, completou o vencedor ao Comitê Olímpico do Brasil.
Escola baiana de campeões
A curta e já vitoriosa carreira de Hebert Conceição tem a influência de dois gigantes do boxe nacional. Robson Conceição, campeão olímpico na Rio-2016, é um de seus mentores. O outro é o renomado Luiz Dórea, uma referência do esporte e que foi o técnico de “Popó”. O jovem chegou aos cuidados da academia de Dórea aos 12 anos de idade e a mentalidade vencedora do profissional foi importante para moldar o lutador. Após conquistar uma vaga na semifinal, que já garantia a medalha de bronze, Hebert ligou para a Academia Champion, no Bairro da Cidade Nova, em Salvador. A empolgação pelo pódio foi substituída por uma “bronca” do técnico. “Ainda não acabou: você tem que fazer esse bronze virar ouro”, disse Luiz Dórea, que não viajou para Tóquio.
O atleta baiano da capital Salvador venceu o atual campeão mundial amador do peso médio (até 75 kg), o russo Gleb Bakshi, na semifinal para chegar à decisão. Na trajetória em Tóquio, as raízes baianas foram o destaque. O torcedor do Esporte Clube Bahia escolheu o Olodum como a trilha sonora para a Olímpiada. “Nobre guerreiro negro de alma leve, nobre guerreiro negro lutador”, diz a letra da música Madiba, da banda baiana, e que embala Hebert na entrada para cada uma de suas lutas.
A medalha de Hebert, somada ao bronze de Abner Teixeira no peso pesado (até 91 kg) e à medalha já garantida de Beatriz Ferreira, que disputa sua final no domingo, significam muito para o boxe nacional. Já é o melhor desempenho do país na modalidade na história. Em Londres há nove anos, também foram três medalhas, mas com apenas uma final: a prata do “pizzaiolo” Esquiva Falcão. No Rio de Janeiro, apenas Robson Conceição chegou até a última luta.