“Falei com o ministro e ele deu respaldo. Estamos fazendo de conta que não estamos vendo”, disse Medeiros
O ex-sindicalista e ex-deputado federal Luiz Antonio Medeiros é a principal autoridade do Ministério do Trabalho em São Paulo. Como superintendente da pasta, ele chefia a equipe de auditores que verificou as condições de trabalho no canteiro de obras do Itaquerão, o palco da abertura da Copa do Mundo. Em entrevista publicada na edição desta quinta-feira do jornal Folha de S. Paulo, Medeiros reconhece que a construção tem irregularidades, que elas são ignoradas por causa da necessidade de terminar o estádio a tempo e que o ministério “faz de conta que não vê” os problemas. De acordo com ele o trabalho é “precário” no local onde um operário se acidentou no fim de semana. Fabio Hamilton da Cruz, de 23 anos, caiu de uma altura de nove metros enquanto trabalhava na montagem das arquibancadas provisórias do Itaquerão. Ele morreu horas depois.
“Se esse estádio não fosse da Copa, os auditores teriam feito um auto de infração por trabalho precário e paralisado a obra. Estamos fazendo de conta que não vemos algumas coisas irregulares”, afirmou o superintendente na entrevista, concedida na quarta-feira. “Isso é trabalho precário. Não vamos nem entrar neste assunto porque vai atrasar ainda mais a obra.” Medeiros afirmou à Folha que o ministro do Trabalho, Manoel Dias, foi informado da situação. “Falei com o ministro e ele deu respaldo. Estamos fazendo de conta que não estamos vendo.” Antes da morte de Fabio Cruz, outros dois operários já haviam morrido na construção do Itaquerão. Desde aquele acidente, ocorrido no fim de novembro de 2013, o risco de o estádio não ficar pronto a tempo aumentou bastante – o que aumentou ainda mais a pressão sobre os envolvidos no projeto. A Fifa chegou a lamentar o fato de o Itaquerão ter ficado sem “margem de erro” alguma para sua conclusão até meados de maio, o prazo final para o estádio ser usado na Copa.
A obra na arena do Corinthians é realizada pela Odebrecht, mas as arquibancadas provisórias necessárias para o estádio ser palco da abertura são de responsabilidade da Fast Engenharia. O operário que morreu era funcionário de uma empresa subcontratada, a WDS Construções. O local onde aconteceu o acidente está interditado desde a segunda-feira. Luiz Antonio Medeiros disse que não permitirá a retomada dos trabalhos se os responsáveis pela obra não cumprirem todas as exigências de segurança apresentadas pelos fiscais do Ministério do Trabalho. “Foram cinco itens pedidos. Se eles não apresentarem todos, não tem liberação. Eu não assino.” Na terça, a Fast Engenharia informou que estava providenciando as melhorias de segurança recomendadas.