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Fratus sobre Olimpíada em 2020: ‘Seria como fazer uma prova sem estudar’

Voz importante no debate sobre o adiamento dos Jogos, nadador brasileiro ressaltou que “não fez mais do que a obrigação” ao se posicionar

A Olimpíada de Tóquio foi oficialmente adiada devido à pandemia de coronavírus nesta terça-feira, 24. A medida foi aprovada pelo nadador brasileiro Bruno Fratus, que nos últimos dias se tornou uma voz bastante ativa nos debates sobre a suspensão dos Jogos. O atleta carioca de 30 anos, dono de quatro medalhas em Mundiais e sete em Jogos Pan-Americanos, considera que “não havia solução ideal, mas a melhor decisão foi tomada”.

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Há cinco dias, Fratus rebateu uma postagem de Kirsty Coventri, bicampeã olímpica de natação e atual presidente da comissão dos atletas do COI, que dizia ter se reunido com esportistas e manifestava o desejo de manter os Jogos na data original – entre 24 de julho e 9 de agosto. “Kirsty, como colega nadador e atleta olímpico, eu te peço para reconsiderar e consultar outros atletas pelo mundo. Não tenho certeza se você está sabendo que muitos atletas, como eu, estão incapazes de treinar”, escreveu Fratus, citando que o COI estaria “fora da realidade.”

Desde então, o nadador brasileiro presente nos Jogos de Londres-2012 e Rio-2016, passou a angariar apoio de atletas do Brasil e do mundo. A federação americana de natação, assim como o Comitê Olímpico do Brasil, se posicionaram a favor do adiamento. A federação canadense foi além e anunciou que boicotaria os Jogos se eles fossem mantidos na data original.

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“Comecei a falar porque senti uma inércia e uma passividade muito grandes de vozes que eu gostaria de ter ouvido. Tive a sensação de que alguém deveria empurrar essa primeira peça do dominó e acabei tomando a iniciativa”, contou Fratus, a VEJA. Um dos candidatos à conquista nas provas de velocidade, ele falou sobre seu engajamento e ressaltou que, antes de “recalcular a rota” para os Jogos de 2021, é preciso erradicar o Covid-19:

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Bruno, se sente aliviado com a confirmação do adiamento? É preciso olhar sob vários contextos. É difícil dizer que me sinto bem diante de uma crise de saúde global na qual estamos imersos. Não dá para fazer qualquer plano, olímpico ou não. Creio que a melhor decisão foi tomada. Não havia uma solução ideal, mas essa me parecia a mais razoável. Com tantos atletas sem conseguir treinar e com risco de todos os presentes contraírem um vírus aleatório, era muito arriscado manter o evento. E tem o lado da performance esportiva também, seria no mínimo esquisito realizar uma Olimpíada sem ninguém poder treinar direito.

Dá para dimensionar o quanto isso afetaria o rendimento dos atletas? Seria como fazer uma prova sem estudar e sem ir às aulas. Seria impossível imaginar qual seria o resultado, o esportista iria para a maior competição esportiva do mundo a Deus dará.

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O que te motivou a ter um papel de liderança entre os atletas? Comecei a falar porque senti uma inércia e uma passividade muito grande das vozes que eu gostaria de ter ouvido. Tive a sensação de que alguém deveria empurrar essa primeira peça do dominó e acabei tomando a iniciativa. E quanto mais eu me dedicava a esse assunto, mais vi gente concordando que a data deveria ser remanejada. Fui entrando em contato e colhendo opiniões, vários pontos de vista diferentes. Falei mais com gente que discordava, mas elas eram envolvidas mais com a parte de imprensa, logística, marketing esportivo. Foi uma pesquisa interessante, aprendi muito.

Acha que a Olimpíada se tornou “comercial demais” e por isso demorou tanto para o adiamento ser oficializado? Não, não acho. Afinal, o que não é comercial demais hoje em dia? É preciso comercializar o esporte e, falando especificamente sobre meu esporte, a natação sofre por ser comercial de menos. É muito difícil vender a natação, buscar patrocinadores, então eu jamais reclamaria de a Olimpíada ser comercial. Eu entendo que não é simples você simplesmente mudar a data de um evento que leva dez anos para ser preparado de uma hora para a outra. É um evento bilionário, que envolve as maiores empresas do mundo. Colocando tudo isso em perspectiva, acho que a decisão foi tomada com agilidade. E foi uma boa decisão. O que importa agora é combater o coronavírus.

A partir de agora, pretende se tornar uma voz mais ativa nas discussões dos atletas? Não tenho nenhuma pretensão de virar cartola, político, nada. O que eu fiz não ultrapassa em nada a minha obrigação como cidadão e como alguém que faz parte de uma comunidade específica, a dos atletas, no caso. Não fiz mais do que minha obrigação. Isso se estende a todos os cantos da sociedade, você não precisa ser político para lutar pelos seus direitos e pelo que acredita. Não usei a minha voz para benefício próprio, fiz porque senti que algo deveria ser feito. Quero deixar claro que não quero ganhar os créditos de nada, eu apenas acrescentei na discussão.

Como avalia este ciclo olímpico? Apesar das dificuldades financeiras, sinto que o COB deu um salto gigantesco. A Olimpíada do Rio nos deu aprendizado muito importante. Agora todos terão de recalcular a rota, mas acredito que o ciclo está sendo bem feito.

Quando pretende voltar a treinar e se preparar para os “Jogos de 2021”? Isso não importa tanto agora, primeiro temos que saber como a vida vai ficar, quando poderemos circular normalmente. Não adianta eu responder quando eu acho que vamos poder voltar a treinar porque eu não sou médico, não sou virologista, nem político, sou só um atleta. Prefiro não achar nada, seguir um dia de cada vez e fazer minha parte.

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