Fernando Diniz, de favorito a título da Série A a demitido na B em um ano
Treinador se despediu do Vasco, sem conseguir o acesso à elite. “Não sei por que as coisas não aconteceram”, lamentou
Um jogo vistoso, com construção desde o goleiro e os zagueiros, muita movimentação e posse de bola. O vice-campeonato paulista de 2016 com o destemido Grêmio Osasco Audax expôs com brilhantismo as ideias de jogo de Fernando Diniz, um ex-meia-atacante esforçado, de boa técnica e poucos gols. O promissor treinador ainda passaria por Oeste e, novamente, pelo Audax, antes de receber uma chance no Athletico-PR para o Brasileirão de 2018. Há pouco mais de um ano, ele vivia seu auge, no comando de um São Paulo folgado na liderança da elite do Campeonato Brasileiro. O título escapou e sua capacidade foi novamente posta em xeque. Por que Fernando Diniz não deslancha? Hoje, aos 47 anos, ele amarga duras críticas e uma desconfiança nunca vista, demitido do Vasco sem conseguir evitar mais uma temporada do clube na Série B.
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“Aqui no Vasco, a gente terminou de maneira muito ruim, mas o torcedor voltou ao campo muito entusiasmado tanto com o resultado do jogo quanto com a maneira que o time jogava. Essa é uma luta que eu travo, e eu vou estar sempre procurando melhorar para entregar o melhor para jogadores, instituição, estafe e de maneira especial aos torcedores”, discursou Diniz, que fez questão de convocar uma entrevista de despedida em São Januário.
Faltando três rodadas, o Vasco é o nono colocado da Série B com 47 pontos, 16 a menos que o líder Botafogo e 11 a menos que o Goiás, último time na zona de acesso. No clube Cruz-Maltino, Diniz repetiu um roteiro visto em outros momentos de sua carreira: um início animador, seguido de uma frustrante virada de chave.
O início na elite
Desde que começou a figurar em grandes clubes, Diniz fez questão de fugir do óbvio. Nada de um time muito defensivo que explorava contra-ataques. Ele queria o diferente, a participação ativa de goleiros e zagueiros na construção das jogadas, algo comum no futebol de mais alto nível praticado na Europa. A questão era: o torcedor brasileiro aceitaria que seu time corresse tantos riscos? Ou ainda: perdoaria tropeços em um período de adaptação? No Athletico não foi assim e após uma sequência inicial positiva, a equipe perdeu nove jogos em um período de 11 disputados. Ou seja, a demissão foi a solução encontrada pelos dirigentes do clube paranaense.
A ideia de Fernando Diniz ainda seduzia muitos adeptos, uma esperança de contraponto ao pragmatismo geral. Foi esse o pensamento do Fluminense ao anunciar o treinador para conduzir a equipe em 2019. No Rio de Janeiro, entre altos e baixos, houve abraço da torcida – e obviamente que também cobrança -, mas nem isso foi capaz de que o vínculo fosse encerrado após 43 jogos, 18 vitórias, 11 empates e 14 derrotas. A boa notícia era: houve tempo para que ele construísse sua ideia e melhorasse o rendimento da maioria dos atletas.
Quanto mais alto, mais dura a queda
Se a resposta era negativa anteriormente, no seu terceiro trabalho na Série A, houve apoio da diretoria. Diniz foi bancado pelo São Paulo. Contratado no fim de um Brasileiro teve poder de planejar o ano de 2020 em um clube carente de títulos recentes. E mesmo prejudicado por um cenário de pandemia que paralisou o futebol no início da temporada, o clima estava a seu favor e nem mesmo uma eliminação vexatória nas quartas de final do Paulistão diante do Mirassol, no Morumbi, o fizeram balançar no cargo. A escolha foi manter o projeto. A decisão foi a mesma quando o time paulista foi eliminado na fase de grupos da Libertadores, competição de alto apelo entre são-paulinos.
A calma rendeu, ao menos, um período de sucesso. Foram 17 partidas sem derrota no Campeonato Brasileiro, abrindo uma liderança de sete pontos sobre o vice-líder a 14 rodadas do fim. Na Copa do Brasil, o time também mostrava “cara de campeão”, após eliminar o Flamengo nas quartas de final. O “Dinizismo” (maneira que foi apelidado o estilo de jogo do treinador) estava no ápice. Mas tudo acabou em decepção, com a eliminação nas semifinais no torneio nacional de mata-mata diante do Grêmio e, sobretudo, após a crise implantada em uma noite chuvosa de Bragança Paulista, no Estádio Nabi Abi Chedid.
Naquela partida, nenhum mecanismo do “dinizismo” funcionou e as saídas curtas aliadas a uma fragilidade defensiva culminaram em vitória do Red Bull por 4 a 2. Mais do que o placar, a partida marcou uma discussão entre Fernando Diniz e o volante Tchê Tchê, seu velho conhecido dos tempos de Audax, com ofensas por parte do técnico. Psicólogo formado, ele voltou a ter a sua capacidade de gerir o grupo conquistada. Daí em diante, o promissor homem da beira do campo não venceu mais pelo Tricolor e foi goleado, em pleno Morumbi, por 5 a 1 pelo Internacional. O fim veio com 75 jogos, 34 vitórias, 20 empates e 20 derrotas. Uma decepção ao torcedor, problemas internos e derrotas dolorosas que valeram muito mais do que os números frios e relativamente bons.
Diniz saiu contestado do Morumbi. Contudo, acreditava-se numa mudança de ares. Para isso, em 2021, o treinador desceu a serra e assumiu o Santos. Mas 27 partidas bastaram para a demissão, com o Alvinegro próximo da zona de rebaixamentos. Período sabático? Que nada. Pouco depois, Diniz pegou a ponte aérea e desembarcou em São Januário. O objetivo era levar o Vasco de volta para a Série A. Perto dos rivais de divisão, o elenco vascaíno era badalado, com peças importantes e até queridas pela torcida, como Nenê e Germán Cano. Menos expressivo em aplicar seu estilo independente do contexto, o treinador também moderou e a esperança invadiu o torcedor do Gigante da Colina.
O resultado nós sabemos. O Vasco não jogará o Brasileirão Série A de 2022 e ficará pela primeira vez na história dois anos consecutivos na Série B. O treinador não faz parte dos planos da equipe para a próxima temporada e, em apenas 12 jogos, sofreu 18 gols, sete deles nas duas últimas derrotas sofridas para Botafogo e Vitória, por 4 a 0 e 3 a 0, respectivamente. O auge e a queda de Diniz aconteceram em um piscar de olhos.
Tal qual o jogo em Bragança, ele elegeu um empate em 2 a 2 com o Náutico, após seu time abrir 2 a 0, como um “divisor de águas”. “Eu não sei por que as coisas não aconteceram. Foi a partir do jogo com o Náutico. Foi a nossa maior chance porque tivemos uma conjunção muito favorável daquilo que se fazia no campo e no extracampo aqui no clube. E com o torcedor. Quando a gente tem esse momento, tem que saber aproveitar.” Ele deve ter novas chances. Será que, finalmente, ela conseguirá convencer…e vencer?