Em crise, vôlei do Brasil pode levar suspensão de um ano
Após escândalos envolvendo Ary Graça, punições e desistência de sediar a Liga Mundial, país corre risco até de ter a Olimpíada de 2016 suspensa
O vôlei brasileiro pode ser suspenso por um ano de partidas internacionais, afetando de forma profunda a preparação das equipes para a Olimpíada no Rio em 2016 – masculino e feminino, quadra e praia. Na semana passada, a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) anunciou punições ao treinador Bernardinho e alguns atletas da seleção por causa de críticas que fizeram à organização do Mundial masculino em setembro, na Polônia.
A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), em resposta, disse que a punição foi uma retaliação às denúncias de corrupção contra Ary Graça Filho, presidente da FIBV – segundo relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), há irregularidades de até 30 milhões de reais em contratos da confederação, na gestão de Graça. Em protesto, a CBV anunciou que abandonaria a organização da fase final da Liga Mundial, agendada para ocorrer no Brasil. A FIVB deixou claro que irá abrir um procedimento disciplinar se o Brasil mantiver a decisão de não organizar as finais da Liga Mundial de 2015.
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Segundo o artigo 15.5 do Código de Disciplina da FIVB, o “fracasso em organizar uma competição” resulta em várias sanções. A primeira é a suspensão do Brasil de “participar de competições internacionais” por “até um ano”. O tamanho da sanção depende da importância do torneio que foi abandonado pelo país. No caso do Brasil, trata-se de um dos eventos de maior relevância no calendário.
A retaliação poderia afetar os times brasileiros às vésperas da Olimpíada e em uma modalidade que tem chances de trazer quatro ouros, duas no vôlei de quadra (masculino e feminino) e outras duas no vôlei de praia (entre homens e mulheres). A regulamentação da federação prevê também aplicação de multa, entre 44.000 dólares (cerca de 120.000 reais) e 110.000 dólares (300.000 reais). Além disso, o Brasil teria de “reembolsar as taxas, gastos e perdas de renda” do evento à entidade internacional. A confederação nacional teria ainda de pagar sobre esse valor taxa de juros de 1% ao mês a partir do dia do cancelamento do evento.
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Outra medida disciplinar prevista é a suspensão do Brasil por quatro anos da organização de qualquer tipo de evento internacional, o que afetaria etapas do Grand Prix e do vôlei de praia. A FIVB poderia até suspender a Olimpíada de 2016, no Rio, mas no Comitê Olímpico Internacional (COI) ninguém acredita que a federação dê um tiro no pé, anulando sua própria competição. “Existem contratos com patrocinadores e dezenas de compromissos”, disse um membro do Comitê Organizador dos Jogos do Rio. “Ninguém no COI acha que serão loucos a esse ponto.”
Negociação – Mesmo assim, diante da crise aberta, a estratégia adotada pela FIVB agora é a de tentar encontrar uma saída para a crise com o Brasil. Fontes da entidade com sede na Suíça indicaram que negociam com os cartolas brasileiros e que, em janeiro, haverá reuniões para tentar resolver a crise e manter o torneio mundial no Brasil em 2015.
“Isso é algo sem precedentes”, declarou Richard Baker, porta-voz da FIVB. “Estamos buscando esclarecimentos com o Brasil.” Segundo ele, os contatos neste momento são por e-mail e telefonemas. “O processo completo de esclarecimento vai começar no início de janeiro. Dependendo de como avançar, vamos estabelecer um prazo.”
Apesar de deixar uma janela aberta para a negociação, Baker disse que se um entendimento não for atingido a FIVB “vai abrir um procedimento disciplinar” contra o Brasil. “Não há como prever qual será a decisão. O cancelamento do evento é algo que jamais ocorreu. O evento denominado finais da Liga Mundial 2015 é um dos principais eventos anuais da Federação Internacional de Voleibol e não pode ser tratado dessa forma.”
(Com Estadão Conteúdo)