Doping por Meldonium, uma nova ameaça para a Rio-2016
Além da tenista Maria Sharapova, vários atletas do Leste Europeu testaram positivo para a substância, proibida desde 1º de janeiro.
O mundo foi apresentado ao Meldonium, também conhecido como mildronato, quando a tenista russa Maria Sharapova admitiu ter sido pega em exame antidoping pelo uso da substância, nesta segunda-feira. Desde então, mais de dez atletas de alto rendimento também testaram positivo para a mesma substância, bastante receitada no Leste Europeu para combater problemas cardíacos, e que entrou na lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (Wada) desde 1º de janeiro. Até o momento, não está claro se o Meldonium deveria ou não ser considerado doping, nem qual seria a punição justa. Fato é que este novo escândalo de doping já passou a ser mais uma preocupação, a menos de cinco meses do início da Olimpíada do Rio de Janeiro.
A lista de atletas flagrados pelo uso de Meldonium já inclui ao menos 14 atletas, incluindo os russos Alexander Markin, destaque da seleção de vôlei, Ekaterina Bobrova, campeã mundial de patinação artística, o ciclista Eduard Vorganovtem, além de parte da seleção de luta da Geórgia e a fundista Abeba Aregawi, etíope que defende a Suécia. De acordo com a agência de notícias russa R-Sport, outros três atletas de patinação de velocidade já foram flagrados: Semyon Yelistratov, campeão olímpico, Pavel Kulizhnikov, campeão mundial, e Ekaterina Konstantinova. Nenhum deles foi punido oficialmente até o momento – maior “garota-propaganda” do Meldonium, Sharapova está suspensa de forma preventiva pela Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês).
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O Meldonium é apenas mais um capítulo da confusão sobre doping no esporte, especialmente na Rússia. O atletismo do país segue suspenso dos Jogos do Rio até julgamento oficial, devido às denúncias sobre um esquema feito para esconder casos de doping no esporte – possivelmente com a conivência do governo de Vladimir Putin. Nesta quarta-feira, o jornal científico The British Journal of Sports Medicine publicou um artigo em que afirma que pelo menos 490 atletas que participaram dos Jogos Europeus do ano passado utilizaram o Meldonium. Um dos principais lutadores da Geórgia, Davit Modzmanashvili, prata olímpico em Londres-2012, admitiu o uso da substância. Como seria reincidente, pode ser banido do esporte. De acordo com a Federação Georgeana de Luta, outros cinco lutadores falharam em teste antidoping no ano passado (os outros nomes não foram revelados).
Maria Sharapova admitiu que consumiu Meldonium pelos últimos dez anos para tratar de problemas vasculares e prevenir diabetes. A substância foi incluída na lista negra da Wada depois que um laboratório de Colônia, na Alemanha, concluiu que o Meldonium aumenta o desempenho do metabolismo, o que elevaria a resistência do atleta, e ainda ajuda na recuperação da fadiga e o desempenho do sistema nervoso central. Mas, até por ter sido incluído na lista de substâncias dopantes tão recentemente, ainda não está claro se o uso de Meldonium deve realmente ser apontado como uma grave transgressão à ética do esporte. O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem mais um problema a resolver.
A palavra do criador
O remédio foi criado em 1976 pelo médico Ivar Kalvinsh em um instituto de pesquisa da antiga União Soviética. Em entrevista à agência EFE nesta quarta-feira, Kalvinsh, que nasceu na Letônia, afirmou que a substância melhora notavelmente a irrigação sanguínea e combate a falta de oxigênio, o que reduz a possibilidade de infarto ou trombose, especialmente em adultos e idosos. Para atletas, o uso do medicamento protegeria o coração nas fases mais intensas de treinamento.
O médico alega que o Meldonium “salva vidas” e, caso tivesse sido usado por atletas nos últimos anos, poderia ter evitado mortes súbitas nos campos ou nas quadras nos últimos anos devido a problemas cardíacos não diagnosticados. Kalvinsh nega que o remédio melhore o rendimento físico dos atletas e considera a decisão da Wada uma “aberração”. O médico, inclusive, pensa em pedir explicações ao órgão e exigir que exames clínicos justifiquem essa decisão.
Kalvinsh afirmou que o Meldonium só está patenteado e é comercializado na Rússia e no Leste Europeu, sendo praticamente desconhecido nos demais países da região e nos Estados Unidos, onde sequer está registrado. Além de Kalvinsh, outros médicos e especialistas russos, assim como o ministro de Esportes do país, Vitaly Mutko, consideram que o Meldonium não melhora o rendimento dos atletas que o consomem, mesmo que por períodos prolongados.
(com agências EFE e Estadão Conteúdo)