Da depressão à glória: Caeleb Dressel é a estrela dos Jogos de Tóquio
Neste sábado, nadador americano chegou a cinco medalhas de ouro no Japão, com direito a recordes olímpicos e mundiais
O posto de principal estrela dos Jogos Olímpicos de Tóquio está vago desde que a ginasta americana Simone Biles abandonou a disputa para cuidar de sua saúde mental. Os tenistas Novak Djokovic e Naomi Osaka decepcionaram em quadra e também voltarão sem tanta glória. Uma semana depois da abertura do evento, vem das piscinas o principal candidato a estrela da Olimpíada: o americano Caeleb Dressel, que também passou por vários conflitos psicológicos e hoje vem pulverizando recordes e colecionando medalhas douradas.
Na noite de sexta-feira, 31, Dressel faturou o título dos 100 metros borboleta com direito a recorde mundial: 49s45, superando a marca anterior, de 49s50, que já era dele. Sem a presença de torcida no Centro Aquático dos Jogos pandêmicos, membros da equipe americana e de outras delegações fizeram questão de festejar e parabenizar a nova lenda das águas. A medalha de prata foi para o húngaro Kristof Milak (49.68) e o bronze ficou com o suíço Noe Ponti (50.74). Antes, o atleta de 25 anos já havia vencido a as provas de 100m livre e do revezamento 4x100m livre. Ele quer mais.
Com os feitos no Japão, Dressel já igualou o compatriota Mark Spitz, até então o único homem a vencer os 100m borboleta e os 100m livre em uma mesma edição, em Munique-1972. Depois da façanha, Dressel ainda garantiu neste sábado, 31, o ouro dos 50 metros livre com recorde olímpico (o brasileiro Bruno Fratus foi bronze) e o título dos 4×100 medley com o recorde mundial de 3m26s78.
Dressel tinha, na verdade, o objetivo conquistar seis ouros no Japão, o que não será possível pois na madrugada de ábado 31, perdeu na modalidade estreante 4 x 100m medley misto. Ele até fez sua parte, mas a equipe não colaborou e terminou com a quinta colocação; a Grã-Bretanha levou o ouro. O recorde de oito ouros em uma mesma edição, estabelecido por Michael Phelps em Pequim-2008 é inalcançável, mas com os cinco ouros conquistados Dressel possivelmente deixará a capital nipônica como a estrela dos Jogos, inclusive por sua história de superação.
Uma bandana com significado
Dressel já tinha duas medalhas de ouro em provas de revezamento no Rio-2016, e teve um ciclo para Tóquio irretocável, com 13 títulos em Mundiais (sete em Budapeste, em 2017, e seis em Gwangju, em 2019). Já estava claro se tratar de um fenômeno, cujos antigos fantasmas começaram a se tornar conhecidos do grande público. No pódio em Tóquio, Dressel, que é bastante emotivo e costuma chorar no hino americano, tem levado à mão uma bandana. Não se trata de mera superstição.
O item de vestuário pertencia a Claire McCool, sua professora de geometria em um colégio da Flórida, região onde o nadador nasceu e cresceu. A professora morreu em novembro de 2017, vítima de câncer de mama, e o marido de Claire decidiu presentear Dressel com uma das bandanas de sua coleção, pois sabia da profunda ligação entre eles.
Em 2013, no último semestre do Ensino Médio, Dressel, então uma promessa da natação americana de 17 anos, foi diagnosticado com um quadro de depressão e passaria quase seis meses longe da piscina. Apesar de preferir não se aprofundar no tema (diz apenas que teve de “lutar contra seus demônios”, mesma expressão usada por Simone Biles nesta semana) Dressel faz questão de lembrar que a professora foi fundamental para sua volta. Ela própria chegou a falar no assunto, em uma entrevista em 2016.
“Saber que ele confia em mim os segredos e a maneira como ele se sentia é algo tão especial para mim, é quase sagrado”, contou a professora, em em entrevista à emissora WUFT, após uma das várias homenagens prestadas por Dressel a ela. A bandana no pódio de Tóquio do discreto Dressel é mais uma prova de sua gratidão e da importância de cuidar da saúde mental, até mesmo dos atletas mais geniais. De cabeça boa, ele já tem lugar garantido na história do esporte.