A crise financeira atinge até mesmo gigantes como o campeão mundial Liverpool — que pisou feio na bola ao tentar usar dinheiro público
Time reverenciado pela incrível campanha que fazia até a paralisação do futebol em virtude do coronavírus, o Liverpool deu uma tremenda bola fora na última semana. O clube inglês, que apontou lucro de 270 milhões de reais em 2019, anunciou a intenção de colocar cerca de 200 funcionários sob licença temporária. A medida não era voltada para o estrelado e milionário elenco de atletas, mas, sim, para empregados que ganham menos de 2 500 libras mensais (algo como 16 000 reais), pouco para os padrões britânicos, e que, portanto, estariam aptos a receber a ajuda oferecida pelo governo de pagamento de 80% de seu salário — o restante seria pago pelo clube.
Naturalmente, a ideia pegou mal e, na segunda 6, o CEO do atual campeão mundial, Peter Moore, voltou atrás e pediu desculpas. “Chegamos a uma conclusão errada”, justificou o dirigente. Outros clubes da Inglaterra não coraram nem um pouquinho ao aceitar o subsídio e, até a quarta-feira 8, não haviam recuado da decisão. Nem mesmo o Tottenham, o agora vice-campeão da Liga dos Campeões e oitavo clube mais rico do mundo (uma posição atrás do Liverpool), segundo levantamento da consultoria Deloitte. Embora impopular, o comportamento, mesquinho, é a prova de que ninguém está imune ao impacto econômico causado pela Covid-19.
Há quem veja na crise, porém, um freio de arrumação. O treinador italiano Carlo Ancelotti acredita que a pandemia antecipou o estouro da bolha econômica do futebol. “Em breve, os direitos de TV valerão menos, jogadores e treinadores ganharão a metade, ingressos custarão menos”, disse a um jornal de seu país. No Brasil, os abastados do futebol são uma ínfima minoria. Um estudo conduzido pela Fundação Getulio Vargas em parceria com a Fifa mostrou que 87% dos jogadores do país recebem até dois salários mínimos. Apenas 4% dos futebolistas que atuam aqui têm vencimentos acima de 19 000 reais. Pedro Trengrouse, coordenador da pesquisa da FGV, lembra que, antes mesmo da Covid-19, “a grande maioria dos clubes do Brasil já estava em crise de liquidez, beirando a insolvência”. Por aqui, com tantos clubes endividados, o maior gol para muitos times será apenas seguir jogando.
Publicado em VEJA de 15 de abril de 2020, edição nº 2682
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