Com cabeça e coração, Abel pode se eternizar como o maior do Palmeiras
Treinador português conquistou duas Libertadores e está a um jogo de conseguir o título do Mundial de Clubes em apenas 15 meses de trabalho
ABU DHABI – Em seus quase 107 anos e seis meses, desde que se chamava Palestra Itália, o Palmeiras teve grandes técnicos. Houve gestores de homens e grupos, como Osvaldo Brandão, bicampeão brasileiro em 1972/73, ou Luiz Felipe Scolari, que faturou a primeira Copa Libertadores exposta na sala de troféus do Allianz Parque, em 1999. Houve estrategistas, como Vanderlei Luxemburgo ou Rubens Minelli. Ou carismáticos, como o uruguaio Ventura Cambón, campeão como jogador e o homem que comandou a conquista da Taça Rio, em 1951. Criativos, como o argentino Filpo Nuñez, responsável pela “Academia” com Dudu, Ademir da Guia, Djalma Santos, Julinho Botelho e Valdir no gol.
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E tem o português Abel Ferreira, que é tudo isso: gestor de homens, estrategista, carismático e criativo. E também detalhista, incansável, persistente…
Mais do que trazer um olhar mais moderno para o time, Abel foi capaz de em 14 meses conquistar um inédito bicampeonato da Libertadores. OK, nesta trajetória, nem tudo foram flores: poucos meses depois de assumir o comando do Palmeiras, deu tudo errado na campanha do Mundial de Clubes do Catar, em 2021.
O time jogou mal contra o Tigres do México e perdeu por 1 a 0. Na disputa do terceiro lugar, contra o Al-Ahly, do Egito, nova decepção: depois de empatar no tempo normal, o Palmeiras caiu na disputa por pênaltis. Foi apenas o quarto colocado, a pior colocação de um clube sul-americano em todas as edições do campeonato.
Claro que o mau desempenho em Doha atiçou as cornetas na rua Palestra Itália, onde ficam a sede social e o estádio do Palmeiras. Quando foi anunciado como técnico do clube, em outubro de 2020, para substituir Vanderlei Luxemburgo, o português foi visto por muitos com desconfiança.
Então com 41 anos, o ex-lateral direito do Penafiel, Vitória de Guimarães e Sporting de Lisboa possuía um currículo modesto no banco de reservas: em seus nove anos dirigindo times, tinha treinado as categorias de base do Sporting, feito um bom trabalho no Braga, um coadjuvante na Liga de Portugal, e dirigido o PAOK, da Grécia.
O Palmeiras pagou 2 milhões de euros para contratá-lo e mais 1 milhão de euros de salário anual. Como sempre, Abel foi acompanhado dos auxiliares Carlos Martinho e Victor Castanheira, do analista de desempenho Tiago Costa e do preparador físico João Martins.
Sem uma carreira de títulos para mostrar, os cartões de visitas de Abel eram o seu estilo tático, com pressão para roubar as bolas, rapidez nas transições e contra-ataques mortais. Os cartolas do Palmeiras tentaram antes dele o espanhol Miguel Ángel Ramírez, que fazia sucesso no Independiente del Valle, mas que não aceitou a proposta para trabalhar no alviverde. Ou seja, o português era a segunda opção. Mas, deu a volta por cima, em grande estilo.
Escaldado pelo vexame do Mundial de 2021, Abel Ferreira e a comissão técnica trataram de fazer um planejamento impecável para a sua segunda tentativa na competição, desta vez em Abu Dhabi. Apesar do clima de euforia da torcida alviverde, desde que se a delegação se concentrou para a viagem para os Emirados, tudo segue um roteiro, sem improvisos. Inclusive um inusitado treino físico, dentro do Boeing 777-3DZ da Qatar Airways, sobre o oceano, em pleno voo.
Ou a decisão de trocar uma tarde de recreação na beira da piscina com borda infinita do Hotel Shangri-la, onde a delegação do Palmeiras está concentrada, ou a vista para a Mesquita Sheikh Zayed, numa tarde de descanso, por uma sessão de treinamentos no campo do Zayed Sports Stadium. Tudo parte do plano para acelerar a adaptação dos jogadores no Oriente Médio.
“Acredito muito no trabalho. E com ele tive tempo de treino, tempo para conhecer o nosso plantel, impor as ideias de jogo nas quais eu acredito”, disse Abel. “Há palavras que nos acompanham: disciplina , trabalho duro e fazer tudo o que é preciso para jogar em alto nível e ganhar”.
Sobre a esperada final contra o Chelsea, ele mantém o otimismo. “Eu quero que dentro das quatro linhas, a nossa equipe tenha valentia e disciplina, imponha o nosso jogo, quando tivermos a bola, coragem para driblar, foco para marcar e manter a cabeça em paz. Não sei o resultado desta final, mas sei o que nossos jogadores forem organizados, tiverem a cabeça em paz, para juntar o talento ao coletivo e jogarmos em alto nível, poderemos competir contra qualquer equipe e vencer”.
Se Abel Ferreira conquistar o título mundial, mais do que escrever seu nome na seleta lista de técnicos históricos e campeões, ele estará no topo do planeta Palmeiras: para a posteridade. A bola rola na decisão a partir das 13h30 (de Brasília) deste sábado, 12.