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Coadjuvante, eu? A nova fase de Eduardo Sasha, destaque do Red Bull Bragantino

Atacante gaúcho moldou carreira consistente por grandes clubes e, aos 31 anos, assumiu nova faceta em Bragança Paulista; leia entrevista na íntegra

O cabelo cuidadosamente platinado contrasta com o perfil discreto e a fala mansa. Eduardo Colcenti Antunes, o popular Sasha – apelido que carrega desde a infância, quando acompanhava o irmão mais velho, Xuxa, nas peladas no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre –
foge do estereótipo do atacante marrento. Como fez em toda sua carreira, nas boas passagens por Inter, Goiás, Santos e Atlético-MG, prefere chamar atenção pelos gols e pela entrega em campo. Mas, aos 31 anos, vive uma nova fase, se tornou mais protagonista. Eduardo Sasha é o artilheiro e referência do Red Bull Bragantino, que chega à reta final do Campeonato Brasileiro sonhando com o inédito título. Do centro de treinamentos da equipe em Bragança Paulista, Sasha abriu o jogo à PLACAR de novembro, que já está disponível em nossa loja no Mercado Livre e chega às bancas na próxima sexta-feira, 17.

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Você jogou em clubes de massa e se acostumou a estádios grandes e cheios, algo que o Red Bull Bragantino não tem. O que este clube possui que o seduziu? Temos uma projeção muito boa, um projeto para entrar de vez no futebol brasileiro, e isso vem sendo demonstrado a cada ano. É um novo desafio, vim motivado e fui muito bem recebido. É a primeira vez que sou um dos mais velhos, e ajudar os meninos tem sido uma experiência nova. Por mais que o clube tenha um método diferente, de comprar e vender jogadores jovens, é preciso ter atletas experientes para competir no Brasileirão, essa mescla é importante.

Como é a vida em Bragança, depois de passar por Porto Alegre, Goiânia, Santos e Belo Horizonte? Sempre fui um cara na minha, gosto de aproveitar a família. Então caiu como uma luva vir para uma cidade mais tranquila. Minha esposa e meus filhos estão aproveitando bem, desfrutando da cidade. A abordagem dos torcedores acontece, mas de forma menos intensa. O pessoal é bem atencioso, carinhoso, torce realmente pelo atleta e pelo clube.

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Muito se fala hoje sobre como a saúde mental dos atletas é abalada por pressão de torcida, por vezes com violência e ameaças nas redes sociais e nas ruas. Isso também foi levado em conta? Sim. Infelizmente, as cobranças com agressão foram normalizadas, já passei por esse nível de excessos. Então vir para cá trouxe mais tranquilidade. Não que aqui não exista cobrança, mas com certeza não é do mesmo nível.

Este é o melhor momento da sua carreira? Individualmente posso dizer que sim. Acho que os números confirmam isso [dez gols e duas assistências no Brasileirão]. Eu me sinto bem e confiante.

Além da qualidade e do faro de gol, você é respeitado no mercado por ser aplicado e obediente taticamente. De onde vem essa característica? É algo pessoal, sempre fui assim, de querer ajudar e entender o que o treinador pede. Já me falaram que eu cumpro até demais. Tive várias lesões de tornozelo que me fizeram mudar minhas características. Eu era praticamente um extremo, com mais  mobilidade, e fazia bem a função de acompanhar o lateral adversário. Eu sempre tive, desde a base, essa facilidade de entender a função que precisa ser feita.

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No Santos, houve uma passagem marcante com o técnico Jorge Sampaoli, que disse que não levaria você em conta, mas acabou mudando de ideia… Sim, foi difícil ter ouvido aquilo, mas gostei de pelo menos ele ter falado diretamente comigo. No início fiquei triste, mas, acompanhando o trabalho e vendo o que ele queria, consegui identificar no que eu poderia ser útil. Continuei trabalhando firme, sem criar confusão, e no momento certo as coisas aconteceram.

Sua mudança de posição dentro de campo passa por Sampaoli? Passa bastante, sim, até porque ele não gosta de um camisa 9 tão fixo. Era o que ele queria naquele momento e eu consegui aplicar. Prestei muita atenção no que ele gostaria que aquela peça fizesse e aprendi uma função que até então nunca tinha feito.

Você trabalhou com outros técnicos estrangeiros, como Turco Mohamed, Diego Aguirre, Eduardo Coudet e agora o Pedro Caixinha. De forma geral, o que esses profissionais trazem de diferente? A questão da intensidade. Todos aplicaram isso, de estar a equipe toda junta, balançando e compacta. Os treinos são curtos, mas com muita intensidade.

Por que você decidiu deixar o Atlético-MG? Não “Não houve briga, nem nada do tipo, foi mais por querer jogar. Eu não vinha sendo utilizado e sabia que poderia estar jogando mais. Disse isso ao técnico e à diretoria e todos entenderam numa boa. Tenho lenha para queimar, ainda.

Você tem esse jeitão mais pacato, pouco comum entre os boleiros, ainda mais com uma carreira consistente como a sua… É algo natural. A boa fase não pode mudar o caráter da pessoa. Vejo muita gente assim, que começa a fazer gols e já se deslumbra, mas eu sempre tentei ter a mesma postura, independentemente de estar bem ou não.

Até por ter esse perfil mais discreto, acredita que não foi valorizado como deveria? Não, por mim está tudo certo. A questão da valorização passa muito pela mídia, e, talvez por não dar muitas entrevistas, eu não chamo tanta atenção. Mas em todos os clubes eu consegui ir bem, sempre tive mercado. As pessoas que trabalharam comigo sempre dizem que gostariam de trabalhar novamente. Acho que é isso que vale para a vida e como profissional.

Não ter jogado no exterior é uma frustração? Quando eu era mais novo – ou melhor, no início de carreira, porque falando assim parece que eu sou velho (risos) – eu tinha esse sonho, como todos. Mas as coisas não aconteceram, talvez pelas lesões. Deixo as coisas acontecerem naturalmente. É um sonho que não foi realizado ainda, mas, se não acontecer, seguirei satisfeito e grato por tudo.

Seleção brasileira chegou a ser um objetivo? Não. Claro que todo mundo sonha, principalmente quando é jovem, mas em nenhum momento eu senti que realmente merecia uma chance. Eu tenho consciência, sou um cara bem autocrítico.

Você chegou ao Inter com apenas 9 anos e tem uma história muito bonita no Colorado. Como é enfrentar o time do coração? É o clube que me revelou, passei minha adolescência toda lá dentro. Tenho um carinho muito grande pelo Inter e claro que é um sentimento diferente, mas são coisas do futebol. Passei meus momentos lá, bons e ruins, caí para a Série B e fiz questão de seguir para ajudar no retorno. Tudo o que eu tenho eu devo ao Inter.

Tem um momento que o torcedor gaúcho não esquece, a valsa de debutante dançada em referência aos 15 anos sem títulos nacionais do Grêmio. O que levou a fazer aquela provocação? Eu vivi aquela rivalidade desde os 9 anos. Foi uma ocasião diferente, por estar jogando no clube em que sempre quis jogar, ter vivenciado todas essas fases e saber o significado daquela rivalidade. Foi algo natural, de um menino que saiu da base e cumpriu o sonho de chegar ao profissional, mas já passou.

Considera o Gre-nal a maior rivalidade do Brasil? Sem dúvida, só quem jogou sabe como é. Já joguei clássicos em Minas e aqui em São Paulo, mas no Sul é diferente.

O Bragantino não tem um rival regional tão claro. Qual é o time que vocês mais gostam de enfrentar? Os quatro grandes de São Paulo. Sempre gera aquele algo a mais.

Fala-se muito hoje na polêmica sobre entre gramados naturais e artificiais. Até pelas lesões, causa receio jogar em piso sintético? Eu prefiro o natural. O sintético muda toda a situação de jogo para quem não está acostumado, a bola fica mais rápida. Tenho um receio, sim, pois é um campo mais duro, ao trocar de direção pode acabar acontecendo algo. Particularmente, por causa do meu histórico de lesões, acabo também ficando mais dolorido depois do jogo. Não é do meu agrado e nem dos meus colegas.

Aos 31 anos, você já começa a vislumbrar o fim de carreira? Meu plano é jogar até os 35, mas o futebol é muito dinâmico, podem acontecer lesões. Estou bem tranquilo, e depois que parar não tenho nada esclarecido, não sei se seguirei no futebol ou não.

E como enxerga o futuro do Red Bull Bragantino? É um projeto a longo prazo que já começa a dar frutos antes mesmo do planejado. Em breve vêm o novo centro de treinamento, as reformas no Estádio Nabi Abi Chedid, e isso vai ser um passo a mais, com certeza mais jogadores vão querer vir para cá. O clube está no caminho certo, com boas participações na Sul-Americana e na Libertadores, e é apenas o começo.

Ainda dá para sonhar com o título brasileiro? O campeonato é muito equilibrado. Muitas pessoas acham que o jogo vai ser fácil, que a vitória está garantida, e acaba acontecendo um resultado que não é o esperado. Claro que estamos felizes, o time está bem, confiante, mas estamos com os pés no chão, caminhando passo a passo, o que foi a nossa meta desde o início. Claro que existe a expectativa, mas já estamos confiantes e felizes com o trabalho realizado.

O Dinizismo venceu: a capa da PLACAR de novembro
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