Chamado de ‘bolsonarista’ e fascista, Palmeiras repudia jornal argentino
Clube obteve direito de resposta junto ao ‘Clarín’ e reafirmou sua neutralidade em relação às eleições no Brasil
O Palmeiras repudiou com veemência um artigo publicado pelo Clarín, importante jornal argentino, no qual é tratado como um clube apoiador do candidato presidencial Jair Bolsonaro (PSL) e com “história vinculada ao fascismo italiano”. Nesta quarta-feira, o diário publicou o direito de resposta do Palmeiras, que reafirmou sua postura de neutralidade política e rechaçou qualquer ligação com o totalitarismo.
Em seu artigo “A disputa política chega ao futebol: a torcida do Palmeiras se declara bolsonarista”, publicado no último dia 5, a jornalista Eleonora Gosman destaca as palavras de apoio do volante Felipe Melo a Bolsonaro e o recente caso de torcedores que proferiram gritos homofóbicos em uma estação de metrô.
O Clarín ainda cita “historiadores” para relacionar a tradição italiana do Palmeiras ao fascismo. “A história da instituição não é um detalhe. Foi fundada com outro nome: Palestra Itália, em 1914; e segundo historiadores, durante a II Guerra Mundial foi um embrião fascista dentro do Brasil”, escreveu a jornalista.
O Palmeiras imediatamente repudiou a matéria. Sobre o caso envolvendo Felipe Melo, como já havia feito anteriormente, afirmou que todos os seus funcionários têm direito a se expressar politicamente. Quanto aos gritos homofóbicos, disse não ser “responsável por atos isolados de torcedores que não representam a instituição e seus valores”.
E negou qualquer ligação com o fascismo italiano. “O Palestra foi, sim, duramente perseguido durante a II Guerra por conta do posicionamento do governo brasileiro. Foi vítima de preconceito unicamente por ter ‘Italia’ no nome. O clube nunca declarou apoio ao Eixo”, ressalta o clube, em trecho de nota de repúdio.
Veja abaixo a nota completa do Palmeiras:
“Com relação ao artigo “‘La disputa política llega al fútbol: la hinchada del Palmeiras se declara ‘bolsonarista’”, a Sociedade Esportiva Palmeiras vem a público esclarecer:
O Palmeiras, em momento algum, declarou apoio a qualquer candidato a presidente do Brasil. Como o próprio texto ressalta, o clube, após as declarações do atleta Felipe Melo, emitiu uma nota ratificando a posição de neutralidade nas eleições, lembrando que se tratava de uma posição pessoal do jogador.
Sobre o vídeo com canções homofóbicas no metrô, o Palmeiras não é responsável por atos isolados de torcedores que não representa a instituição e seus valores. São 16 milhões de palmeirenses espalhados por todo o país, e generalizar que a torcida do Palmeiras apoia determinado candidato é, no mínimo, imprecisão jornalística e incoerência, já que, no mesmo texto, é citada a existência de um grupo chamado Palmeiras Antifascista.
Tão grave ou mais são as afirmações de que o Palmeiras é uma “institución con una dura historia vinculada al fascismo italiano”, que era “un germen fascista dentro de Brasil” e que “no pudo sin embargo desprenderse de la fama de racista que había sabido ganar”. Não sabemos quais historiadores foram consultados, mas, certamente, não conhecem a história do clube e do futebol brasileiro.
Em nossa ata de fundação, em 1914, constam os nomes de 46 pessoas, entre elas, brasileiros sem nenhuma ascendência italiana (portanto, nunca houve distinção étnica no clube). Fomos fundados por operários, trabalhadores e profissionais autônomos. Enfrentamos o establishment do futebol paulistano, à época dominado pela aristocracia, e fomos um dos grandes responsáveis pela popularização do esporte na cidade. O contingente de torcedores do Palestra Italia lotando os jogos do time foi, inclusive, motivo de artigo de jornal, impressionado com a capacidade do clube de mobilizar as massas. E não havia restrição de etnia, de gênero ou de classe social nessas massas.
O Palestra foi, sim, duramente perseguido durante a Segunda Guerra por conta do posicionamento do governo brasileiro. Foi vítima de preconceito unicamente por ter “Italia” no nome. O clube nunca declarou apoio ao Eixo. Inclusive, um dos jogadores ícones do time em 1942, quando o clube foi obrigado a mudar de nome, era o negro Og Moreira…
Feitos os devidos esclarecimentos, lamentamos profundamente que os leitores de um jornal da importância do Clarín tenham se deparado com um texto com tanto desconhecimento histórico e com tanta generalização incorreta.
Atenciosamente,
SE Palmeiras”