CBF repete Globo, tem transmissão caseira e Pelé sem ritmo
Transmissão da CBF TV teve problemas e ‘torceu’ muito pela seleção. Nada muito diferente do que aconteceria com Galvão e Ronaldo
Foi estranho acordar cedo para assistir à seleção brasileira num clássico sul-americano sem ouvir Galvão Bueno dizer – repetidas vezes – que “ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor”. A CBF não entrou em acordo com a Rede Globo e decidiu montar sua própria estrutura de transmissão “multiplataformas” para o amistoso desta sexta-feira. E, apesar da derrota por 1 a 0, de algumas falhas técnicas e da sonolência do comentarista Pelé, passou no primeiro teste. A transmissão teve uma falha grave: foi 100% parcial e corporativista, “torcendo” abertamente para a seleção da CBF – afinal a CBF estava em campo, estava narrando, comentando e reportando. Não muito diferente, porém, do que acontece na Globo com Galvão e Ronaldo – sobretudo quando Neymar está em campo.
Em vez de vender o jogo, a CBF pagou um valor irrisório pelo horário nas emissoras públicas e de cunho educativo TV Brasil e TV Cultura – que, pela primeira vez em um bom tempo, não devem ter dado traço de audiência. O grande trunfo da CBF, porém, foi a transmissão pela internet, que funcionou perfeitamente (para quem estava com boa conexão, claro). Por volta das 8h, a transmissão chegou a 150.000 torcedores assistindo simultaneamente à partida no perfil da CBF no Facebook – um número bem alto para uma “live”. Até o momento, mais de 2,4 milhões de pessoas visualizaram o jogo no perfil da CBF no Facebook. A CBF também pagou caro para contratar sua equipe de transmissão, posicionada em um luxuoso estúdio na sede da CBF, no Rio: o narrador Nivaldo Prieto (do Fox Sports), Denilson (Band), o ex-árbitro Rodrigo Cintra e, sobretudo, Pelé – só o cachê do Rei pode ter chegado a 200.000 reais.
O maior jogador de todos os tempos retornou ao posto de comentarista e, aos 76 anos, demonstrou a velha dificuldade. Tal qual Ronaldo na Globo, fez comentários curtos e sem grande relevância, muitas vezes lógicos e descritivos, sem emoção ou opinião, como quando, aos dez minutos de jogo, disse que 10 era seu número da sorte ou que, a cada ataque da Argentina, seu “coração começava a acelerar”. Críticas, claro, só ao time adversário: “Todos diziam que esse menino Dybala seria o substituto de Maradona, mas só porque joga com a perna esquerda. Até agora não mostrou nada.” Nas redes sociais, torcedores ironizaram a pouca participação de Pelé dizendo que o Rei ainda não estava plenamente acordado pela manhã.
O maior problema da transmissão, porém, foi a falta de imparcialidade. Além dos jornalistas contratados pontualmente, a CBF usou seu próprio assessor de imprensa, Gregório Fernandes, como repórter de campo. O delay, atraso causado pela transmissão do sinal, atrapalhou bastante e muitas vezes Gregório atropelou a narração ou repetiu informações que já haviam sido dadas. No fim, o narrador Nivaldo Prieto criticou a arbitragem por não dar mais minutos de acréscimos e ajudar a seleção brasileira a buscar o empate – novamente, não muito diferente do que fazia na Band ou faria no Fox Sports. O nome de Neymar praticamente não foi citado, pois não seria nada interessante para a CBF lembrar que o principal jogador do país ganhou férias antecipadas. Mas, apesar dos problemas técnicos e da pouca inspiração de sua equipe, a CBF deve ter ficado satisfeita com sua aventura. Enquanto a Globo praticamente ignorou a partida em seu noticiário.