Blatter e Havelange são investigados pelo FBI no escândalo da ISL
Carta escrita pelo ex-dirigente brasileiro indica que o suíço, então seu braço-direito na Fifa, tinha conhecimento sobre o pagamento de propinas nos anos 90
O FBI está investigando o presidente da Fifa Joseph Blatter por participação em um dos primeiros grandes escândalos de corrupção envolvendo o nome da entidade, ainda na década de 90. O dirigente suíço é suspeito de envolvimento no caso ISL, empresa de marketing esportivo fundada na Alemanha que pagou cerca de 100 milhões de dólares (375 milhões de reais pela cotação atual) em propinas à Fifa quando João Havelange era seu presidente – na época, Blatter era secretário-geral da entidade e braço direito do brasileiro. As revelações fazem parte de um documentário da emissora britânica BBC que vai ao ar nesta segunda-feira.
Presidente da Fifa por 24 anos (de 1974 a 1998), Havelange – que enfrenta problemas de saúde aos 99 anos – renunciou ao cargo de presidência de honra da Fifa em 2013, diante das revelações de que na década de 90 recebeu milhões de dólares em propina da ISL, em troca de contratos de transmissão para a Copa do Mundo. O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, seu ex-genro, também ficou com parte do dinheiro.
Leia também:
Candidato à Fifa denuncia ‘sabotagem’ de Blatter e acordos corruptos de Havelange
Caso Fifa: 8 acusados de corrupção se declaram culpados
Del Nero se licencia da CBF e deputado federal assume
Presidentes da Conmebol e da Concacaf são presos em Zurique
Um acordo foi fechado na Justiça suíça em que, sem admitir culpa, Havelange e Teixeira pagaram uma multa e o caso foi encerrado. Blatter passou anos insistindo que desconhecia o esquema montado para fraudar a Fifa. Agora, no entanto, o FBI decidiu mergulhar mais uma vez no assunto. No pedido de cooperação enviado pelos americanos à Justiça da Suíça, os Estados Unidos indicam claramente que Havelange e Blatter estão no centro do processo.
Uma carta escrita por Havelange à qual a BBC teve acesso indicaria que Blatter sabia de tudo, desmentindo a versão mantida pelo suíço por anos de que não tinha conhecimento do esquema corrupto que o brasileiro havia estabelecido. “Durante o tempo em que fui presidente da Fifa, Joseph Blatter era o secretário-geral. Eu mantive relações comerciais com empresas de marketing esportivo e, como resultado dessa relação, recebi uma remuneração de acordo com a regra da Fifa e isso foi alvo de um processo judicial na Suíça sem o reconhecimento de qualquer culpa”, escreveu Havelange.
O brasileiro também indica que, apesar de já não ser presidente da entidade, quem pagou seus advogados foi a própria Fifa. “Esclareço que todos os gastos para os processos mencionados, inclusive advogados, foram pagos pela Fifa”. Mas a principal revelação é sobre o envolvimento do atual presidente da entidade. “Enfatizo que Joseph Blatter tinha pleno conhecimento de todas essas atividades e sempre me aconselhou sobre elas”, indicou Havelange.
A carta levou o FBI a agir. Ao solicitar a cooperação da Suíça na investigação sobre a Fifa, os americanos indicaram que, “entre outras coisas, o procurador está investigando a declaração de Havelange implicando Blatter e aparentemente inocentando seu genro, Teixeira, no caso ISL”. Blatter indicou em 2013 ao Comitê de Ética da Fifa que desconhecia a propina e foi inocentado pelo organismo. Naquele mesmo ano, ele visitou Havelange no Rio durante a Copa das Confederações.
CPI – O presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, foi convidado a depor nesta terça-feira na CPI do Futebol. Os senadores querem interrogá-lo sobre as acusações feitas a ele pela Justiça americana. Se o dirigente não comparecer de forma voluntária, será convocado para se apresentar à CPI em outra data, obrigatoriamente.
Nos últimos sete meses, as operações do FBI contra a corrupção no futebol sacudiram o esporte, levando à renúncia de vários cartolas, à prisão de mais de uma dezena e ao indiciamento de 41 pessoas. José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira – os últimos três presidentes da CBF – são suspeitos de terem recebido propinas de “pelo menos” 120 milhões de reais.
(com AFP e Estadão Conteúdo)