Automobilismo: equipe feminina sonha em fazer história nas 24h de Le Mans
Formado exclusivamente por mulheres, time Richard Mille disputa a categoria LMP2 da tradicional corrida na França

Começa neste sábado, 19, um dos mais tradicionais eventos esportivos do mundo, as 24 Horas de Le Mans, na França. Realizada desde 1923, a principal prova do Campeonato Mundial de Endurance da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) terá algumas novidades. A primeira, triste: será a primeira edição sem a presença de público no Circuito de La Sarthe, cumprindo os protocolos de segurança e prevenção à pandemia de coronavírus. A outra, positiva: a presença de duas equipes formadas apenas por mulheres, o que não ocorria desde 1977.
O destaque fica por conta da equipe Richard Mille Racing Team, da categoria LMP2, de protótipos, formada pela colombiana Tatiana Calderón, pela holandesa Beitske Visser, pela alemã Sophia Flörsch e liderada pela britânica Katherine Legge. O time é resultado do sonho de dois fãs de corridas, Richard Mille, dono da relojoaria de luxo suíça homônima, e sua filha, Amanda Mille. A marca patrocina estrelas como Fernando Alonso e Rafael Nadal e também as próprias 24 Horas de Le Mans e equipes de Fórmula 1 Fórmula E.
Desde 2018, Richard, hoje com 69 anos, é presidente da Comissão de Enduro da FIA. “Nosso objetivo comum era levar mulheres ao pódio em Le Mans”, afirmou ao jornal Financial Times, a ex-piloto Michèle Mouton, presidente da Comissão de Esportes Motorizados Femininos, que vem apoiando a causa da equipe Richard Mille. Os objetivos, portanto, são altos, mas Amanda Mille, uma das donas do time, nega fazer parte de uma cruzada feminista. “Não é um combate feminista ou uma guerra”, diz admitindo, porém, o incômodo com comentários de homens como “faça as unhas antes de pular no carro” ou “você nem sabe como funciona um motor”.
Os resultados, de fato, justificam otimismo. A equipe disputa também a European Le Mans Series (ELMS) e, após as três primeiras corridas, ocupa o sexto lugar na série. O time perdeu sua capitã Katherine Legge, que quebrou a perna em um grave acidente em um teste em julho e foi substituída por Beitske Visser. “Eu corro há muito tempo, mas nunca houve uma oportunidade em um carro que pudesse vencer neste nível. Não somos o time ‘feminino’ para eles. Somos uma equipe que busca pódios e vitórias. Estamos sendo levados a sério e isso é um grande passo na direção certa”, afirmou Legge.
A estrela do time passa a ser a colombiana Tatiana Calderón, piloto de Fórmula 2 e que já realizou testes na Fórmula 1 pela equipe Alfa Romeo. “Meu sonho sempre foi me tornar piloto de Fórmula 1 em tempo integral e agora que realizei testes, sinto que somos capazes de estar no mais alto nível”, diz a sul-americana, ao Financial Times. Além da Richard Mille na categoria LMP2, há ainda outra equipe feminina na GTE AM (categoria de Gran Turismo Endurance, disputada por amadores e apenas um piloto profissional por time): a Iron Lynx, que terá a italiana Manuela Gostner, a dinamarquesa Michelle Gatting e a suíça Rahel Frey a bordo de um Ferrari 488 GTR.
