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Às vésperas da Olimpíada, Gabriel Medina vive turbulenta briga na família

O melhor surfista brasileiro de todos os tempos tem grandes chances de medalha. Já na vida pessoal, é caldo em cima de caldo

Na vida profissional, o paulista Gabriel Medina, 27 anos, está na crista da onda: bicampeão mundial e melhor surfista brasileiro de todos os tempos, prepara-se para disputar uma Olimpíada com grandes chances de medalha. Já na vida pessoal, é caldo em cima de caldo. Ao longo dos seis primeiros meses de 2021, 1) Medina dispensou o padrasto, Charles Saldanha, por quem foi criado, do posto de instrutor; 2) a mãe dele, Simone, acusou a nora, Yasmin Brunet, de afastar o filho da família; 3) o irmão de Medina, Felipe, e a mulher dele, Bruna Bordini, se solidarizaram com o surfista e Simone também rompeu com eles; e 4) neste último caso, o bafafá foi parar na Justiça. Resultado: Medina cortou relações com os pais, que deixaram de segui-lo no Instagram, ao mesmo tempo que reitera o encantamento pela modelo. “Ter encontrado alguém como a Yasmin foi coisa de Deus, tinha que ter acontecido, especialmente diante de tudo o que tenho passado com a minha família. Nunca me senti tão leve e feliz”, disse a VEJA.

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A três semanas de o atleta embarcar para o Japão, o enrosco familiar respingou no Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Medina pediu para pôr Yasmin, e não o novo instrutor, o australiano Andy King, na equipe que vai acompanhá-lo a Tóquio, alegando que, além de filmar e analisar sua performance e a dos adversários, ela monta seu cardápio, o ampara emocionalmente e o ajuda a criar estratégias mentais durante as disputas. “Não é pré-requisito levar alguém que tenha formação acadêmica”, pondera. “Funcionei bem durante anos com o Charles e agora estou funcionando bem com a Yasmin.” O pedido foi negado pelo COB, levando o surfista a se declarar “injustiçado” e “desrespeitado”. O regulamento olímpico para Tóquio, calcado na ameaça da Covid-19, restringe cada atleta a um único acompanhante pessoal. O campeão mundial de 2019, Italo Ferreira, e a vice-campeã, Tatiana Weston-Webb, vão levar, respectivamente, um amigo dele que filma suas manobras e o marido dela, também surfista. O pedido de Medina foi injustamente rejeitado “por questões conceituais internas e de preservação de imagem das instituições e do próprio atleta”. Ao que tudo indica, o barraco em família pesou.

LEVE E SOLTO - O surfista, com Yasmin: “Nunca me senti tão feliz” -
LEVE E SOLTO – O surfista, com Yasmin: “Nunca me senti tão feliz” – Reprodução/Instagram

Simone e Charles, ambos evangélicos neopentecostais, sempre administraram com mão de ferro a carreira de Medina — dentro e fora do mar. Yasmin, 33 anos, que fala de signos e misticismo e não tem religião definida, entrou na equação em meados do ano passado, impactando logo de cara: por ela, o surfista abandonou a posição de parça nas farras do jogador Neymar (um bom sinal, aliás). Em março, o casal postou fotos de um casamento simbólico no Havaí, sem família nem convidados, selado dois meses antes. Contrariando quem apostava que o relacionamento prejudicaria seu desempenho, Medina teve este ano seu melhor início de temporada. Nem em 2014 e 2018, anos em que conquistou o título mundial, ele apresentou tamanha consistência sobre a prancha: em seis etapas, ficou entre as duas primeiras colocações em cinco. Está no topo do ranking, com mais de 13 000 pontos à frente do segundo, Italo Ferreira.

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Yasmin o acompanhou em todas as etapas do torneio, que incluiu Havaí, Austrália e Estados Unidos. “Saí da minha zona de conforto e amadureci muito. Tenho me dedicado a viver de forma mais humana, aproveitando os momentos e não pensando só em competir, competir e competir. Nunca me senti tão bem”, resume ele. Adepta da meditação, a modelo assiste às baterias sentada, em compenetrado silêncio — o exato oposto de Charles, que gritava instruções a plenos pulmões por acreditar que sua presença fazia o surfista render mais.

MÁGOA - Simone, a mãe, e Charles, o padrasto: relações cortadas com os filhos -
MÁGOA - Simone, a mãe, e Charles, o padrasto: relações cortadas com os filhos – Reprodução/Instagram

Entusiasta do esporte desde pequeno, aos 11 anos Medina pediu ao padrasto que o treinasse para ser campeão mundial — façanha que alcançou nove anos depois. Ex-praticante de triatlo, Charles traçou uma rotina rígida de treinamento. “O Gabriel bicampeão do mundo é resultado de um esforço de família, com muito suor e privação. Dessa época, ele herdou a disciplina do Charles e a fé da Simone. Mas agora, ao lado da Yasmin, vive um novo momento, mais sereno”, analisa o jornalista Tulio Brandão, biógrafo de Medina. Tachada de “radical” e “fundamentalista” por pessoas próximas, a mãe do atleta dizia, antes de brigar com ele, que o filho era “eleito de Deus” — e por causa disso, nas manhãs de competição, proclamava que o título estava ganho. “Ela é apaixonada pelos filhos, mas essa visão de mundo atrapalhava muito a vida do Gabriel. A Simone representa uma face de evangélicos tatuados que mais recitam versículos bíblicos do que praticam ações cristãs”, alfineta uma amiga dos Medina.

O descontentamento da matriarca explodiu depois da cerimônia havaiana longe da família. Sem identificar a quem endereçava o recado, Yasmin postou em maio que “às vezes as pessoas fingem que você é uma pessoa ruim para que elas não precisem sentir culpa pelo que fizeram” (leia abaixo trechos da troca de farpas familiar). Quando a mágoa de Simone se estendeu ao outro filho, Felipe, e à mulher dele, Bruna, ela resolveu cobrar aluguel do apartamento que lhes emprestara. Eles deixaram o imóvel, mas ela moveu uma ação contra Bruna — que tocou no assunto em rede social, omitindo o nome da sogra — pedindo retratação pública e indenização de 100 000 reais por danos morais. Procurada por VEJA, a mãe de Medina disse que não quer mais expor sua vida pessoal. “Tenho uma filha de 16 anos que está sendo obrigada a viver essa maldade. As pessoas são tão desprovidas de princípios que querem ganhar a vida em cima da tristeza dos outros”, desabafou.

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arte Medina

As desavenças familiares afetaram até o Instituto Gabriel Medina, um centro de treinamento de surfistas em Maresias, litoral norte de São Paulo, presidido por Simone e que se encontra aparentemente abandonado. “O Gabriel contratou gente para limpar e fazer obras no espaço, mas a mãe dele trocou as fechaduras”, afirma um amigo de infância de Medina. Na terça-feira 29, o surfista foi às redes sociais (sempre elas) fazer uma promessa. “Um dia vou compartilhar tudo o que aconteceu e está acontecendo em relação à minha família. Mas por enquanto só quero paz, tranquilidade e foco para trazer o ouro olímpico para o Brasil”, escreveu. Nessa novela, pelo jeito, muita água há de rolar. E tomara que a medalha de ouro também.

Publicado em VEJA de 7 de julho de 2021, edição nº 2745

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