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Após ‘roer o osso’, Grazi quer Libertadores antes de adeus ao futebol

Aos 40 anos, veterana superou machismo e dificuldades para virar referência na modalidade; só pelo Corinthians já são 211 jogos, 60 gols e oito títulos

Grazielle Pinheiro Nascimento, 40 anos, gosta de ouvir que fez parte da geração que “roeu o osso” no futebol feminino. Na edição de outubro da PLACAR, ela falou sobre a a influência da geração capitaneada pela meio-campista baiana Sissi, nos anos 1990, preconceitos superados na modalidade, machismo, longevidade, mas evitou um assunto: a decisão sobre o futuro profissional que será anunciado em dezembro. A atacante do Corinthians ainda se recusa a falar sobre aposentadoria antes da disputa da Libertadores feminina. A competição – junto com a final do Paulista, ainda sem data definida – pode ser o último ato de sua carreira.

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Nesta quinta-feira, 4, o clube paulista estreia na competição sul-americana diante do San Lorenzo, da Argentina, às 17h30 (de Brasília), no estádio Arsenico Erico, em Assunção, no Paraguai. O Corinthians está no grupo D ao lado também de Deportivo Cali, da Colômbia, e Nacional, do Uruguai. Campeão em 2017 e 2019, a equipe do técnico Arthur Elias entra como favorita a conquista do torneio, que também conta com os brasileiros Ferroviária e Kindermann.

Depois de 211 jogos, 60 gols e oito títulos conquistados só pelo Corinthians – o último deles o Campeonato Brasileiro, no último dia 26 de setembro, diante do Palmeiras -, Grazi ainda persegue mais uma marca histórica, talvez a derradeira. Veja a entrevista exclusiva com a jogadora:

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Grazi persegue o nono título com a camisa do Corinthians -
Grazi persegue o nono título com a camisa do Corinthians –

A Cristiane costuma dizer que a geração de vocês roeu o osso e deixou picanha para as que virão. Concordo com a Cris, comecei até antes dela. Peguei o final da geração da Roseli e da Sissi e digo que as meninas não tinham um mínimo de estrutura. Hoje, graças a Deus, a situação é outra. Há categorias de base, evolução constante da modalidade. Que bom que eu, Cristiane e Formiga ainda pegamos um pouco disso. Tão logo vamos sair de cena e vemos que o futebol feminino tem muito a evoluir.

Você chegou aos 40 e ainda segue atuando em um time campeão. O que te motiva? Quando saí de casa aos 15 tinha em mente que estenderia o máximo possível. Não imaginava chegar aos 40 em alto rendimento, devo isso ao Corinthians. Me perguntam o motivo pelo qual eu continuo jogando. É simples: porque ainda me emociono e tenho motivação para ganhar. É algo pessoal, fiquei muitos anos sem vencer e aproveito isso. Quando deixei a casa dos meus pais jurei que só voltaria vitoriosa.

E há uma projeção de quando deve parar? Até o ano passado eu não tinha nada em mente. Já recebi centenas de mensagens me pedindo para não parar em dezembro. Eu disse, quando completei 200 jogos pelo Corinthians, que em dezembro vou soltar a data do fim da minha carreira. Já está decidido, já conversei com os meus pais. Estou chegando no meu limite, não dá para lutar contra o tempo. Por enquanto, a única certeza é que vou encerrar minha carreira no Corinthians. Até lá, quero conquistar o Paulista e a Libertadores.

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E por que o Corinthians? Você teve outras passagens marcantes por Santos, Botucatu… Não é só a relação de conquistas, títulos… o que mais pesa é o carinho que os torcedores têm conosco, o tratamento que recebo dentro do clube. E isso dinheiro algum paga, título nenhum substitui. Aqui se tornou a minha casa. A questão de jogar mais, ou menos, passa por decisões tomadas pelo Arthur. Temos que ter autocrítica sempre e digo que comecei a temporada razoavelmente bem, mas depois da última Libertadores caí um pouco, assim como todo o grupo. É algo natural, acontece. Hoje usamos GPS, somos monitorados diariamente, não tem nem como enganar mais. Estou pronta nesta Libertadores. Seja para um minuto, 10 ou 15.

É difícil vencer, mas é ainda mais complicado manter um time no topo por tanto tempo. Qual a conversa entre vocês hoje? Todas as nossas conversas diárias são especiais. Aqui, por ser um grupo que está acostumado a vencer, não tem essa de sentar no que já fez. Conquistamos o titulo do Brasileiro em um domingo e, a partir de segunda-feira, já estávamos pensando no nosso próximo jogo [pelo Campeonato Paulista]. Agora, a nossa chave muda novamente, a questão do titulo brasileiro ficou para trás. Eu, particularmente, sempre fui de fazer, não de falar. Uma das formas de ajudar é fazer o meu melhor todos os dias. Óbvio que estou sempre conversando, falo para que se divirtam, aproveitem o momento porque não temos garantia de viver isso novamente. Posso falar mil coisas bonitas, mas a motivação está em cada uma.

Grazi está em sua sexta temporada pelo clube paulista -
Grazi está em sua sexta temporada pelo clube paulista –

Como vê hoje a questão do machismo? E vocês viraram uma referência na modalidade, recebem muitos pedidos de ajuda? Na minha visão, o machismo diminuiu. Sofri muito no início da carreira, mas muita coisa mudou. Não é perfeito, mas a prova de que mudou são as torcidas organizadas apoiando. A Gaviões da Fiel foi na nossa concentração, isso nunca havia acontecido. Sobre ajuda, hoje não tem chegado nada. É uma situação que acontece, sim, de forma recorrente no Nordeste e em clubes que ainda não são tão sérios na modalidade. Hoje temos muitos grandes clubes que entenderam, assim como a Ferroviária, que também precisa ser vista como grande na modalidade.

Você lamenta não ter tido uma história maior na seleção? Não lamento. Todos sabiam do meu potencial, mas tinham outros nomes na linha de trabalho, outras meninas. Não reclamo, não. Cheguei na seleção em 1996, para a Olimpíada de Atlanta. Vi tudo de perto, grandes jogadoras. Muito do que sei aprendi com aquela geração, com aquelas meninas. Muita gente fala: ‘Grazi, você tem que falar mais. Grazi, você tem que aparecer mais’, mas não acho que não ir para a seleção possa estar ligado a essa não exposição. É o meu jeito.

E tem chances de mudar os planos sobre a aposentadoria? Quero aproveitar, tem a disputa do Paulista e da Libertadores, e tudo o que tiver pela frente quero jogar. Pode ser que em dezembro aconteça algo diferente e queira estender por mais dois anos, por exemplo. A única certeza é que quero encerrar a minha carreira no Corinthians, não me vejo em outro clube no pais. Não tenho costume de fazer isso, mas parei para pensar e acho que depois do Botucatu aqui é o clube que mais tenho história.

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