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Americanos operam novo “milagre no gelo” e são parabenizados pelo presidente Obama

Em um jogo com cara de final, gol anulado e decisão por “pênaltis”, a equipe de hóquei no gelo dos Estados Unidos derrotou a da Rússia, em uma disputa que lembrou os tempos da Guerra Fria

O hóquei no gelo é assunto sério aqui na Rússia. Tão sério quanto o futebol no Brasil, ou as provas de velocidade do atletismo na Jamaica. Por isso, quando a seleção russa está jogando, o país costuma parar e acompanhar as disputas na televisão, tipo final de Libertadores ou Copa do Mundo. Mesmo quando o jogo é da fase classificatória. Mas a partida deste sábado não era uma disputa qualquer. Era contra os Estados Unidos. E muito embora não se possa dizer que existe, às claras, um sentimento de ódio entre as nações (embora as relações políticas dos dois países não sejam as mais cordiais nos últimos tempos), a rivalidade dos tempos da Guerra Fria persiste entre essas duas potências do esporte. Como disse, esta era uma partida da fase de grupos do torneio, não valia medalha ou uma classificação direta, mas ainda assim a Rússia parou para acompanhar o jogo. “A máquina vermelha está de volta”, gritavam alguns torcedores dentro do domo de gelo Bolshoy, no parque olímpico de Sochi.

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A equipe da Rússia joga esse torneio, obviamente, pressionada. Além de serem os anfitriões, os russos convivem com o duro fardo de não conquistarem uma medalha de ouro desde a Olimpíada de Inverno de 1992, quando o país disputou o torneio como Time Unificado, após o colapso da União Soviética. Desde então, os tropeços vem se acumulando – na última edição dos Jogos, em Vancouver, no Canadá, os russos tiveram que engolir uma humilhante derrota para os anfitriões nas quartas-de-final. Por isso, a partida contra os Estados Unidos serviria para reafirmar a posição de potência no gelo. E o jogo começou seguindo o roteiro mental na cabeça dos russos. Depois de um primeiro tempo sem gols (são três tempos regulamentares, de 20 minutos cada, no hóquei olímpico) a equipe voltou pressionando o adversário na segunda etapa e saiu na frente do marcador, fazendo explodir em alegria a arena Bolshoy. Os gritos de “Rússia! Rússia!” ecoaram em outros pontos do parque olímpico, inclusive no centro principal de imprensa, onde os voluntários locais se aglomeraram em frente ao telão gigante para ver a partida.

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Os americanos também tinham motivos de sobra para disputar o jogo com a faca entre os dentes, quase que pelos mesmos motivos que os russos. A seleção dos Estados Unidos é considerada uma das favoritas nesta competição. Mas está com a final da edição passada dos jogos ainda entalada na garganta, quando perderam para os anfitriões canadenses. Por isso, vencer a partida contra os russos era fundamental para provar que são capazes de lidar com a pressão da torcida local. Mais do que isso, o confronto contra os russos remete a uma passagem histórica do esporte americano, que ganhou o apelido de “milagre no gelo”, e que foi eleita pela conceituada revista americana Sports Illustrated como o “maior momento do esporte no século XX”. Trata-se da partida entre Estados Unidos e Rússia nos Jogos de 1980, em Lake Placid, no estado de Nova York. Com um time de amadores e universitários, os americanos venceram os favoritíssimos soviéticos, donos de seis títulos olímpicos até então, tudo isso durante o período de enfrentamento entre capitalistas e socialistas. A história virou filme, lançado em 2004, com o título em português de Desafio no Gelo.

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Inspirados pela vitória histórica 35 anos atrás, a seleção americana conseguiu reunir forças e virou o placar no início do terceiro tempo. Parecia que a história de Lake Placid iria se repetir quando, a sete minutos do fim, o russo Pavel Datsyuk marcou o gol de empate dos donos da casa, para a alegria do presidente Vladimir Putin, que era um dos 11 678 espectadores da partida. Com o marcador novamente em igualdade, os russos decidiram ir para cima, usar o combustível que vinha das arquibancadas e inflamar a partida. E eles conseguiram, por alguns segundos. O jogador russo Fyodor Tyutin acertou um balaço e colocou o puck, como é chamado o pequeno disco preto, dentro das redes americanas. A festa durou pouquíssimo: um dos árbitro percebeu que o gol americano estava fora de posição em alguns centímetros, o que não é permitido. Por essa razão, o gol não valeu e a grande maioria do estádio torceu o nariz para a marcação – Putin incluído.

Final de tempo normal, o placar ficou em 2 a 2. Durante a prorrogação de cinco minutos, não houve alteração do placar. Foi chegada a hora do shootout, como é chamada a disputa de pênaltis no hóquei. Na verdade, é uma cobrança em movimento, tendo o jogador de linha que correr com o disco em direção ao gol, fintando e tentando enganar o goleiro quanto ao momento do chute. Foi uma das disputas mais intensas da história da modalidade. Foram dezesseis cobranças, sendo as seis primeiras obrigatórias (três para cada lado) e as demais alternadas. Aliás, no hóquei sobre o gelo não existe essa de o cobrador só poder atirar uma vez. O americano T. J. Oshie fez seis das oito cobranças americanas. A última delas, decisiva, deu a vitória aos Estados Unidos. Pronto, estava feito o milagre de novo. “Eu nunca havia atirado mais do que cinco vezes num shootout, foi insano”, revelou Oshie, de 27 anos, e rapidamente alçado ao posto de novo herói nacional – o presidente Barack Obama, ao final da partida, fez questão de usar a conta do Twitter da Casa Branca para parabenizá-lo nominalmente, além de cumprimentar a equipe. Putin, saiu de fininho da arena Bolshoy.

Congrats to T.J. Oshie and the U.S. men’s hockey team on a huge win! Never stop believing in miracles. #GoTeamUSA -bo

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– The White House (@WhiteHouse) 15 fevereiro 2014

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