Alex na PLACAR de abril: ‘Quantos clubes do Brasil pagam em dia?’
O ídolo de Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro e Feberbahçe concedeu uma entrevista contundente sobre os direitos e deveres dos jogadores em tempos de coronavírus
A edição de abril de PLACAR chegou às bancas nesta segunda-feira 13, com uma reportagem de capa sobre o momento em que a bola parou de rolar em todo o mundo em razão da pandemia de coronavírus. A entrevista do mês é com o ex-jogador Alex de Souza, ídolo das torcidas de Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro e Fenerbahçe, da Turquia, cuja voz é uma das mais sensatas do futebol brasileiro. Aos 42 anos, ele se protege da Covid-19 em casa, ao lado da família, em Curitiba, a quase 11.000 quilômetros de distância de sua estátua de bronze em Istambul, na entrada do estádio do clube turco, que recentemente foi “protegida” pelos fãs com máscara e luvas cirúrgicas.
Alex foi membro do extinto Bom Senso F.C. e hoje, à distância, se mantém ativo nos debates do Sindicato dos Atletas de Futebol do Município de São Paulo (SIAFMSP), lutando por melhorias para a categoria pelo qual atuou por 19 anos. Para ele, os clubes que hoje pedem compreensão dos atletas sobre a redução de salários em virtude da escassez de receitas só deveriam fazê-lo se efetivamente cumprissem com todas as suas obrigações. “Quantos clubes pagam em dia?”, questiona durante a entrevista por telefone.
Confira, abaixo, um trecho da entrevista. A íntegra está disponível na PLACAR de abril.
Como recebeu a notícia de que os torcedores do Fenerbahçe “protegeram” sua estátua contra o coronavírus? Um amigo meu me mandou a foto dizendo: “olha, capitão, estamos cuidando de você”. Os turcos me surpreendem cada dia mais. Já sai de Istambul há sete anos, não havia necessidade nenhuma de eles fazerem isso, mas é um gesto de carinho com um simbolismo muito grande nesse momento em que vivemos.
Você abriria mão de seu salário durante a paralisação em razão da pandemia? Mas estamos falando de qual salário, o de agora ou dos que ficaram para trás? Quantos clubes do Brasil pagam em dia? Eu abriria mão do meu salário nesse período na boa, contanto que meu clube cumprisse as demais obrigações. Agora, como um clube que deve férias, 13º, dezembro, janeiro, etc, vem falar em acordo? A primeira coisa é acertar o que está pendente. A partir daí, acho que é consenso que agora é um momento de empatia e de ajuda mútua. Para Flamengo, Palmeiras, por exemplo, é simples. Mas e Cruzeiro, Fluminense, Vasco? Acho difícil colocar todos no mesmo bolo.
Você foi membro do Bom Senso F.C., movimento que acabou perdendo força. O coronavírus é mais uma boa oportunidade para os jogadores voltarem a se posicionar? Hoje estou menos envolvido, mas sigo acompanhando meus colegas à distância. Veja, o Bom Senso teve respostas maravilhosas e outras decepcionantes, mas o objetivo foi atingido, porque a discussão chegou até a presidente da época, Dilma Rousseff. Conversamos com senadores, deputados, com quem efetivamente dita as regras. E ali vimos como o jogo funciona. Tem dirigentes de clubes que são políticos, outros que têm relações fortes com a CBF, com federações, com a detentora dos direitos de TV… O papel foi desempenhado. Acabou sem resolver o problema? Verdade, mas isso aconteceu porque não tínhamos como executar nossas ideias.
O jogador de futebol é alienado? Ele é um cidadão como outro qualquer. No Brasil, há essa percepção de que jogador ganha muito e por isso pode ficar sem receber salário. Mas 98% dos jogadores profissionais ganham muito pouco, isso quando recebem. Tem bastante jogador alienado, mas nem todos são. Existe opinião no futebol, mas talvez elas não ganhem o eco necessário.
Como assim? Não concordo com a generalização. A contestação tem de vir de quem tem força e muitas vezes um atleta jovem não tem esse poder. Quando falamos de jogador de futebol pensamos em um Daniel Alves (que contestou a postura do presidente Jair Bolsonaro em ser contrário ao isolamento ao isolamento social por conta da Covid-19), mas ele representa a minoria da minoria.