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A um ano dos Jogos de Tóquio, como atletas se preparam em meio à pandemia

Adiamento da Olimpíada para 2021 e normas de isolamento social alteraram a rotina dos esportistas de elite que sonham com pódio no Japão

Não fosse a pandemia de coronavírus, o mundo estaria vivendo nesta quinta-feira, 23, a expectativa pelo início dos Jogos Olímpicos de Tóquio, na véspera da cerimônia de abertura, no Estádio Nacional do Japão. A Covid-19, no entanto, paralisou todas as atividades e alterou o planejamento, frustrando atletas de elite em todo o mundo. A maior competição esportiva do planeta teve de ser adiada pela primeira vez na história e está marcada exatamente para o dia 23 de julho de 2021. A um ano do início de Tóquio-2020 – O Comitê Olímpico Internacional (COI) manteve o nome original – seus protagonistas tentam recuperar o tempo de preparação perdido.

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O clima de incertezas permanece. Nesta semana, Yoshiro Mori, presidente do comitê organizador, disse que se a pandemia seguir como está por muito tempo, ainda existe o risco de a competição ser cancelada. Assim como tudo no “novo normal”, a rotina e modo de treinamentos são completamente diferentes do anterior. A dificuldade é ainda maior para os brasileiros, pois o país foi um dos mais atingidos pela doença e um dos menos capazes de reagir com responsabilidade, o que aumentou o período de isolamento. Nos últimos dias, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) iniciou dois movimentos de retomada: a primeira fase da Missão Europa, que levou atletas para treinar em Portugal, e a reabertura do Centro de Treinamento Time Brasil, no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio.

Apenas 57% das vagas olímpicas foram preenchidas até o momento, segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI). Antes da paralisação, diversas etapas mundiais que garantem vaga em Tóquio-2020 seriam disputadas e, provavelmente, os atletas em atividade há meses terão mais chances, pois as competições terão de voltar urgentemente quando a pandemia der uma trégua. Alguns atletas, como a esgrimista ítalo-brasileira Nathalie Moellhausen, campeã mundial, tiveram de se virar no início da pandemia. O fato de viver em Paris, na França, onde o vírus foi controlado mais rapidamente agilizou o processo.

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“Comecei a treinar em casa logo depois de voltar de uma competição, no dia 10 de março quatro dias antes do lockdown, que acabou no dia 11 de maio. Ainda não está permitido o uso de salas de combate e ginásios, então acabei treinando todo o tempo em casa ou em áreas abertas. Faço treinos físicos, de dança, artes marciais e até instalei uma pista de esgrima no meu pátio, onde recebo regularmente meu treinador de esgrima e alguns parceiros para jogar comigo”, afirmou Nathalie, em entrevista a VEJA.

“Foi um choque no início, mas treinar em casa foi uma experiência ótima. Treino de cinco a sete dias por semana e consigo focar em projetos sociais e artísticos”, completou Nathalie. Atletas estrangeiros, principalmente asiáticos e europeus, foram os primeiros a retomar a rotina de treinos, após um período de isolamento rigoroso e cumprimento de protocolos sanitários, que resultaram na abertura gradual das atividades. Segundo Nathalie, a questão mental é tão importante quanto a física.

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“Voltar a treinar antes é uma realidade muito particular. Na França, temos vantagem em relação a quem mora no Brasil, mas desvantagem em relação aos atletas chineses, que são um país forte e saíram antes da pandemia. Pela minha experiência profissional, sei perfeitamente que isso também pode não ser um problema. É uma questão mental, não importa o tempo de treinamento, mas como usamos esse tempo”, explicou a campeã mundial de 34 anos.

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Atletas que vivem no Brasil, porém, não viveram a mudança com tanta naturalidade e tiveram de improvisar maneiras de manter o foco e a forma em casa. A situação é ainda mais complicada para quem disputa esportes como natação e ginástica, e naturalmente, por ausência de espaço ou aparelhos específicos em seu ambiente doméstico, ficaram sem qualquer ritmo de competição.

“É um sentimento de muita felicidade e alívio em poder voltar para o ginásio. Ficar três meses treinando sozinho em casa é complicado. Aqui estou me sentindo indo para as Olimpíadas. Muita gente, toda a delegação, outros esportes, tudo bem organizado. É uma motivação para todo mundo”, disse o ginasta Arthur Zanetti, ouro nas argolas nos Jogos de Londres-2012, que está com a delegação brasileira em Portugal.

Missão Europa e Maria Lenk

Para remediar a situação, o COB conseguiu a aprovação do governo português e já enviou 72 atletas de seis modalidades – boxe, ginástica artística, ginástica rítmica, judô e natação e nado artístico – para treinos intensivos em Portugal, devido à gravidade da pandemia no Brasil. O “Missão Europa”, como foi batizado o projeto, funcionará entre julho e dezembro deste ano, nas cidades de Rio Maior, Coimbra, Cascais e Sangalhos, ao custo de 13,7 milhões de reais, e deve atender mais de 200 atletas. O objetivo é dar suporte na retomada de treinos de atletas classificados e com potencial para garantir vaga na Tóquio-2020.

O Centro de Treinamento Time Brasil, no Parque Aquático Maria Lenk, abriu as portas para 40 atletas, além de treinadores, equipes multidisciplinares e funcionários do COB, todos testados previamente, nesta primeira semana de reabertura da instalação. O primeiro grupo a utilizar o espaço é formado por atletas que residem no Rio e já garantiram vaga para os Jogos ou estão próximos da classificação olímpica.

“É um momento bom para retornar a treinar e a cabeça continua com o mesmo objetivo. A sensação é de começar tudo de novo em busca de um sonho. Espero que agora a gente possa voltar com tudo todos os dias treinando. Daqui a algumas semanas, vamos para a Missão Europa e lá a gente conseguirá correr um pouco mais atrás”, enfatizou a campeã mundial de maratonas aquáticas Ana Marcela Cunha, ao site do COB.

O COB informou ainda que segue dando apoio a atletas residentes em locais em que a pandemia está sob controle, como Thiago Braz, campeão olímpico do salto com vara e Nubia Soares, do salto triplo, na Espanha, entre outros. “Estamos acompanhando todas as ações e as monitorando para identificar qualquer necessidade específica. É importante entender que todas essas ações são complementares e serão ampliadas aos poucos e dentro do possível, ainda em ambiente de pandemia”, afirmou Jorge Bichara, diretor de esportes do COB.

“Temos a certeza de que esses 365 dias passarão muito rápido. Sabemos que os desafios para Tóquio serão muitos: a cultura, o fuso horário, a gastronomia, a distância. Mas tudo já foi testado, e novas experiências serão vividas antes dos Jogos, que possamos oferecer as melhores condições para que nossos atletas se preocupem apenas com o desempenho esportivo”, completou Marco La Porta, chefe da Missão Tóquio 2020 e vice-presidente do COB. O Brasil alcançou sua melhor participação olímpica na última edição, na Rio-2016, com sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze, na 13ª colocação.

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