A bola ainda rola: os campeonatos que não pararam por coronavírus
Seis estaduais brasileiros continuam acontecendo; calamidade financeira faz com que clubes prefiram entrar em campo apesar da pandemia
A pandemia de coronavírus está afetando todo o planeta. As autoridades de saúde alertam para que a população fique em casa, empresas estão colocando seus funcionários em regime de home office e os campeonatos esportivos do mundo inteiro foram suspensos para interromper o fluxo de transmissão da Covid-19. No Brasil, porém, seis estaduais ainda continuam acontecendo: os de Roraima, Pará, Amapá, Mato-Grosso, Mato-Grosso do Sul e Paraíba, todos com portões fechados. Há razões econômicas para isso: a fragilidade financeira de alguns clubes do país faz com que algumas federações simplesmente ignorem as recomendações e o bom senso e mantenham as tabelas inalteradas.
Até mesmo o clube mais vitorioso e rico da atualidade, o Flamengo, tentou, sem sucesso, ignorar as recomendações. O atual campeão brasileiro e da América foi contra a paralisação do Campeonato Carioca com o argumento de que prejudicaria os pequenos. Muitos times têm calendário apenas até o final de abril, com o encerramento dos estaduais e não teriam como manter a folha de pagamento nos meses seguintes ao adiamento dos jogos. Por esse motivo, alguns campeonatos tentaram adiantar as rodadas, mesmo com portões fechados, para terminar ao menos o primeiro turno, livrando as equipes de um caminhão de despesas – maiores do que o prejuízo de jogar sem torcedores no estádio.
“Nossa ideia era, ao menos, conseguir terminar a primeira fase do Campeonato Paraense, enquanto o estado ainda não estivesse na zona vermelha da epidemia. Caso contrário, teríamos clubes sem estrutura financeira tendo de se virar para manter um plantel, sem garantias de melhora da epidemia com o tempo. Eles não têm condição financeira de segurar a folha por 2 ou 3 meses. Se suspender, seu time continuará precisando receber. Tivemos nosso primeiro caso de coronavírus em Belém nesta terça, amanhã sentaremos para reavaliar a situação do campeonato”, declarou Ricardo Gluck Paul, presidente do Paysandu.
Um exemplo é o Rio Branco, da cidade portuária de Paranaguá. Apesar da boa campanha e já classificado para as quartas de final do Campeonato Paranaense, o clube encerrou o contrato do técnico Tcheco, meia com passagens por Grêmio, Corinthians e Coritiba, e de todo o elenco. O time está classificado para a Série D de 2021 e não deve disputar o restante da competição estadual, caso ela seja remarcada para esse ano.
Apesar de válida, a argumentação do Flamengo vale para ele próprio. Sem jogos para disputar enquanto a pandemia do coronavírus não acabar, o time rubro-negro dificilmente terá condições financeiras de manter sua folha salarial em dia, mesmo sendo o clube de maior receita no Brasil, já que depende bastante da renda dos jogos no Maracanã. Romildo Bolzan Junior, presidente do Grêmio, outra equipe que tem um orçamento equilibrado, acredita que os clubes brasileiros precisarão recorrer a bancos nesse período de quarentena.
A CBF suspendeu as datas do Campeonato Brasileiro, que começaria em maio, e ainda não discute com os clubes quando e em qual formato irá realizar a competição. A entidade não tem ingerência sobre as competições estaduais, o que permitiu que as federações dos sete estados mantivessem seus campeonatos acontecendo. A questão foi motivo de críticas duras de Paulo Autuori, técnico do Botafogo, ao destacar a “omissão” da confederação, que, em nota, ressaltou a incapacidade de interferir na organização dos campeonatos, regulados pelas federações estatuais.
Para definir ou não a suspensão dos campeonatos estaduais, cada federação precisa se reunir com os presidentes dos clubes, que muitas vezes defendem a continuação dos torneios, pois dependem da renda e dos jogos para pagar seus funcionários. “Não serão só 15 dias, vamos ficar com uma despesa elevadíssima e sem receita por tempo indeterminado. É uma situação sem precedentes no futebol. Traçamos vários cenários no Paysandu e não sei qual deles é pior”, desabafou o presidente Gluck Paul.
Voto vencido em reunião, o Baré-RR entrou em campo na última terça-feira, pelo Campeonato Roraimense, mas os jogadores se recusaram a jogar contra o São Raimundo, em protesto pela manutenção do torneio. O resultado da partida será julgado pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Roraima.
Um dos motivos para o atraso para a interrupção dos campeonatos é a demora para a confirmação da Covid-19 na região norte e parte das regiões nordeste e centro-oeste. Somente da última terça para esta quarta, os primeiros casos de coronavírus foram diagnosticados no Pará, Tocantins, Mato Grosso e Paraíba; Amapá e Roraima têm apenas suspeitas. Na noite desta quarta-feira, a federação Tocantinense declarou a suspensão do campeonato, enquanto os outros seguem inalterados.