Nesta temporada o Brasil igualou o número de taças da Argentina na principal competição sul-americana, a Copa Libertadores. Nas últimas sete edições, desde 2019, somente equipes brasileiras foram campeões, e dos 14 finalistas neste período, apenas dois eram argentinos; o River Plate, em 2019, e o Boca Juniors, em 2023. Essa enorme diferença também está refletida em números de premiação.
No último sábado, 13, o Estudiantes venceu o Racing e sagrou-se campeão Argentino. Pelo título, vai receber “irrisórios” 500.000 dólares, aproximadamente R$ 2,8 milhões pela cotação atual, o que reflete a disparidade de valores com o Brasil. Já o campeão da Copa Argentina, o Independiente Rivadavia ganhou valores ainda menores, de US$ 170 mil dólares (R$ 920 mil reais).
Esses números são menores, por exemplo, do que recebeu o Coritiba pelo título da Série B do Brasileirão (R$ 3,5 milhões), ou do último time da Série A a escapar do rebaixamento, no caso o Internacional, que deve ficar com algo em torno de R$ 17 milhões.
A CBF ainda não divulgou os números oficialmente, mas baseado em 2024, o campeão brasileiro deste ano deve receber algo em torno de R$ 50 milhões pelo título.
Especialistas opinam
“O Brasil, nos últimos sete anos, passou a dominar a Libertadores porque esse cenário combina o declínio econômico do futebol argentino, que não se modernizou em termos de estratégia financeira, captação de recursos, comercialização de direitos e estruturação dos clubes; e a ascensão de vários clubes brasileiros, impulsionada por mais público nos estádios, maior venda de patrocínios e melhor negociação dos direitos”, inicia afirma Guilherme Bellintani, ex-presidente do Bahia durante o processo da SAF do clube com o Manchester City.
“No futebol nada é definitivo, mas há uma tendência de que os grandes clubes do Brasil, bem organizados e financeiramente estruturados, sigam ampliando esse domínio nos próximos anos. A grande diferença no futebol brasileiro não está entre SAFs e clubes associativos, mas entre instituições bem geridas e mal geridas”, complementa Bellintani, atual CEO da Squadra Sports, primeira plataforma de multiclubes no Brasil.
Apenas para citar dois exemplos, o contrato de patrocínio do atual campeão da Copa Libertadores, o Flamengo, supera os R$ 260 milhões anuais, enquanto o do vice Palmeiras chega perto de R$ 110 milhões/ano, ambos com empresas de bet. Já o River Plate, ao final de 2024, assinou com o mesmo patrocinador do time carioca ganhando quase 7x menos, cerca de R$ 40 milhões por ano.
“Quando analisamos a discrepância entre os valores oferecidos pelos torneios brasileiros e os praticados na Argentina, fica evidente que não se trata apenas de uma diferença pontual de premiação, mas de um contraste estrutural entre dois ecossistemas esportivos. No Brasil, a maior capacidade de geração de receitas impulsionada por direitos de transmissão, patrocínios e um mercado interno significativamente maior cria um cenário em que os clubes conseguem operar em outro patamar de investimento. Além disso, o advento da lei da SAF, que abriu um novo horizonte de investimento, ampliou ainda mais esse fosso entre os mercados“, explica Moises Assayag, sócio-diretor da Channel Associados e especialista em finanças no esporte.



