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Opinião: Cristiano mira na obsessão por recordes, mas acerta no egoísmo

Ao forçar saída do United apenas em busca de marcas individuais na Liga dos Campeões, CR7 trai o próprio discurso e passa por desnecessário constrangimento

Cristiano Ronaldo costuma se defender das críticas que recebe com um velho clichê boleiro: “Não preciso provar mais nada a ninguém”. Ele tem tem toda a razão. Aos 37 anos, o atacante lusitano cravou seu nome entre os maiorais da história do futebol, detém uma série de recordes, é herói nacional em Portugal e ídolo de dois dos maiores clubes do mundo, Real Madrid e Manchester United. Lamentavelmente, no entanto, CR7 não pratica o que prega. Ele quer seguir provando seu valor e, mais do que isso, consolidar todas as marcas possíveis. Mas o que sempre foi visto com admiração geral sua fome de glória e obsessão por excelência , vem dando lugar a uma bizarra demonstração de egoísmo e vaidade.

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No ano passado, Old Trafford recebeu com enorme festa o retorno da lenda após nove temporadas no Real Madrid e três na Juventus. O fato de ter optado pelo United mesmo tendo oferta do rival City deu contornos ainda mais épicos à volta para casa. Cristiano teve sua fidelidade exaltada e parecia pronto a encerrar sua brilhante carreira nos braços do povo do lado vermelho de Manchester. Bastou uma temporada abaixo das expectativas, porém, para tudo mudar.

Os Diabos Vermelhos terminaram na sexta colocação da Premier League, com 35 pontos a menos que o campeão City e fora da zona de classificação à Liga dos Campeões, tendo que se contentar em disputar a Liga Europa na temporada 2022/2023. Autor de 24 gols em 38 jogos — marca excelente para um veterano, diga-se —, CR7, que já vinha de anos de menos brilho em Turim, se sentiu humilhado. Desde sua estreia em 2002 pelo Sporting de Lisboa, Cristiano jamais ficou de fora da Champions, torneio do qual é pentacampeão e maior artilheiro com 140 bolas na rede.

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Depois de ver o “seu” Real Madrid erguer a Orelhuda pela 14ª vez, com o velho parceiro Karim Benzema consagrado como próximo Bola de Ouro, o “Mister Champions”, pôs na cabeça que algo precisava ser feito. Ele decidiu deixar o United e nem sequer viajou para a pré-temporada do time. A bola agora está com seu midiático agente Jorge Mendes, que roda a Europa em busca de um clube que dispute a elite continental e esteja disposto bancar todo o “pacote CR7”. O que era apenas desnecessário, já ganha contornos vexatórios. Bayern, Chelsea, PSG, Atlético de Madri… várias equipes já lhe disseram não. Será que, para alguém tão preocupado com a própria imagem, ficar fora da Champions é mesmo pior do que esta rejeição?

Cristiano Ronaldo vem se sujeitando a isso apenas por metas pessoais. Sabe-se que a principal é se tornar o maior vencedor da Champions, igualando as seis taças de Paco Gento, ídolo do Real Madrid morto em janeiro, aos 88 anos. Alguns ex-companheiros de Real, como Modric, Benzema e Casemiro, também podem bater esta marca em 2023. Além disso (e eis o aspecto ainda mais mesquinho), segundo informações do portal inglês The Athletic, Cristiano não quer dar brechas para que seu eterno antagonista Lionel Messi supere seu recorde de gols na Champions. Dois anos mais jovem, o argentino tem 15 a menos e disputará a próxima edição com o PSG.

O maior choque de realidade veio de sua amada capital espanhola. Cristiano provavelmente imaginou que os torcedores do Atlético de Madri o receberiam de braços abertos (afinal, quem seria louco de abrir mão de seu talento, não é mesmo?), deixando para trás todas as rixas do passado, como quando, vaiado pelos colchoneros, fez questão de lembrar que tinha cinco Champions, enquanto o rival ainda perseguia seu primeiro troféu. Faixas de “CR7 não é bem-vindo”, porém, foram um claro gesto de amor próprio dos atleticanos, uma característica que ele já deveria ter notado desde os tempos de duelos em LaLiga. Nem sempre dinheiro, fama e gols falam mais alto, caro Cristiano.

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Torcedores do Atlético de Madri estendem faixa em amistoso:
Torcedores do Atlético de Madri estendem faixa em amistoso: “CR7 não é bem-vindo” –

Agora, envolto em mais um caos midiático, e com o Sporting, seu clube formador como novo possível destino, Cristiano Ronaldo adota o caminho mais tolo: o da dissimulação. Nesta sexta-feira, 29, acusou a imprensa de mentir sobre seu futuro, em resposta a uma postagem do perfil “@cristianoronaldish” no Instagram, que tratava de seu desejo irrefreável de deixar o United.  “Impossível não falarem de mim um dia. Senão a imprensa não ganha dinheiro. Sabem que se não mentirem não conseguem atrair a atenção das pessoas. Continuem que um dia acertam em alguma notícia”, desabafou a astro. Oras, se realmente quisesse permanecer no United, por que Cristiano não está a serviço do novo técnico Erik Ten Hag, que, aliás, vem caprichando nos elogios públicos para massagear o ego do camisa 7?

(Atualização: ainda na tarde desta sexta, a personalidade mais seguida do Instagram — mais um recorde que pretende sustentar — voltou à rede social para avisar que estará a disposição do United em amistoso diante do Rayo Vallecano, no próximo dia 31. “Domingo o rei joga”, disse. A ver…)

Mourinho conquistou seu 5ª título europeu
Mourinho beija a “Série C da Champions”

Cristiano poderia se inspirar em um famoso compatriota: José Mourinho — que também já não precisava provar mais nada a ninguém. Aos 59 anos, o “Special One” deixou a vaidade de lado e hoje vive um caso de amor com o torcedor da Roma. Em 2022, o clube da capital italiana encerrou um jejum de 14 anos sem títulos ao conquistar a Conference League (equivalente à Série C da Champions). A conquista foi festejada com desfile ao redor do Coliseu e virou tatuagem (!!!) no braço de Mourinho.

“Penso em mim e nessa gente, espero que tenham se divertido, sou feliz pelos meninos (jogadores) e pela família romanista. Hoje sou 100% romanista”, discursou Mourinho após a vitória sobre o Feyenoord. Grandeza não se mede por estatísticas ou pelo nome de uma taça, mas pelas emoções que provocam. Em 2022, aliás, CR7 recebeu um reconhecimento para a eternidade: os aplausos e gestos solidários dos rivais do Liverpool em Anfield, após a perda de seu filho recém-nascido. Isso é o mais lindo que o esporte pode lhe dar. A Cristiano, um humilde conselho de um fã: fique em Manchester (ou, que seja, encerre onde tudo começou, no Sporting), mas deixe as marcas individuais para lá; priorize sua linda família e faça uma despedida inesquecível das Copas no Catar. De fato, você não precisa provar mais nada a ninguém.  

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